Interstício confessional – ou do abandono (aparente) quando ocorre o inevitável

Na conjuntura política atual, torna-se um ato de pura resistência subversiva voltarmo-nos para a genialidade de Jerry Lewis: conhecido por seu mau humor fora das telas e pelos rompantes atrozes de depressão, ele era um verdadeiro mestre da ‘mise-en-scène’ diante das câmeras, além de criar um tipo muito peculiar de interpretação cômica que ressignificava a noção dostoievskiana de idiotia

Interstício confessional – ou do abandono (aparente) quando ocorre o inevitável

Na conjuntura política atual, torna-se um ato de pura resistência subversiva voltarmo-nos para a genialidade de Jerry Lewis: conhecido por seu mau humor fora das telas e pelos rompantes atrozes de depressão, ele era um verdadeiro mestre da ‘mise-en-scène’ diante das câmeras, além de criar um tipo muito peculiar de interpretação cômica que ressignificava a noção dostoievskiana de idiotia

Contra a censura da guerra, o equilíbrio do prazer

Neste que é seu terceiro longa-metragem como diretor, Tavinho Teixeira revela-se bastante autoral, a ponto de resgatar o mesmo ator e personagem principal de seu filme anterior, “Batguano” (2014). Tal qual ocorre naquele filme, em “Sol Alegria”, Everaldo Pontes interpreta um envelhecido e anti-heróico homem-morcego, e profere um dos aforismos mais marcantes desta obra: o processo, definitivamente, ainda não está terminado!

Quando o DNA do Estado e o DNA do Cinema não se coadunam…

Em lugar do quase arquetípico protagonismo feminino, temos aqui uma reflexão sobre as interdições produtivas sofridas pela diretora Ana Carolina. Mas sem apelar para a tentação do alter-ego: aquele que aparece no filme como “o diretor” tem pouco a ver com a cineasta. Desgosta de cinema brasileiro, por mais paradoxal que pareça!

Para além (ou aquém?) dos quiproquós chanchadescos…

Por conta do modo depreciativo com que a imprensa da época referia-se às comédias rápidas e carnavalescas da década de 1950, muitos filmes qualitativos foram obnubilados sobre o rótulo subgenérico de “chanchadas”. Mas, felizmente, vários pesquisadores descobriram recentemente as benesses insignes da filmografia de Watson Macedo (1918-1981), cineasta bastante importante na manutenção industrial do cinema brasileiro.

“Fizemos um acordo: eu filmava o trabalho; ele filmava a diversão!”

Ainda que descrevam uma rotina de labuta que consome mais da metade das horas de cada dia (incluindo os domingos), os toritamenses enumeram vantagens financeiras preferíveis em relação à estabilidade empregatícia. Acham ótimo que não recebam um salário fixo, mas alguns percebem que estão apartados dos benefícios previdenciários, sobretudo no que tange às possibilidades de aposentadoria. Com o enrijecimento das regras supracitadas, os malefícios só pioram…

A fome é a maior imoralidade de todas – mas esta, infelizmente, a censura deixa passar!

Se, em Hollywood, a autocensura do livre-mercado passou a desaparecer com a assimilação gradativa de aspectos contraculturais enquanto chamarizes vendáveis para produções benquistas pela crítica especializada, no Brasil, a situação era inversa: desde 1964, o país estava sob o jugo de uma ditadura militar, que intensificou a sua crueldade assassina em 13 de dezembro de 1968, com a promulgação do infame AI-5.

Protestar contra o que oprime: a balbúrdia mais que necessária!

Demonstrando que os protestos contra a pretensa implantação de uma torpe “etiqueta” universitária não são exclusividade da conjuntura (des)governamental hodiernamente em curso, convém trazer à tona a filmografia de uma das mais autorais vozes protestantes contra a repressão ditatorial na esfera dos costumes, a cineasta paulistana Ana Carolina, ainda em atividade.

Quando a independência requer também liberação intracolonial… Ou: basta de ser hospedeiro voluntário de quem oprime!

Mais de uma década passou-se entre o início das ações de guerrilha emancipatória e a efetivação institucional da mesma. Para piorar, depois da concretização da independência bissau-guineense, diversos conflitos internos dificultaram a validação da identidade nacional, sendo este um tema que perpassa toda a filmografia do cineasta Flora Gomes, pioneiro do cinema neste país.

“Se paramos de respirar, morremos; se paramos de resistir, o mundo morre!”

Apesar de ser vendido publicitariamente como um exemplar modelar do cinema romântico, “Casablanca” o é também na acepção mais idealizada do termo. Seu discurso é predominantemente político, ainda que atravessado pelos interesses vendáveis do ‘studio system’. Divertia e conscientizava em iguais medidas. E, revisto hoje, demonstra-se ainda bastante atual, inclusive em relação à caótica situação hodierna do Brasil…