“É fácil rimar utilizando nomes de manobras [de skate], pois quase tudo termina em -ip”: mais um elogio ao novíssimo cinema brasileiro!


Protagonizado por Sofia Librandi e Pedro Transfereti, que interpretam personagens cujos nomes sequer são pronunciados, “Kickflip” (2025, de Lucca Filippin) compartilha, ao longo de oitenta e oito minutos, situações que, na maneira como são montadas, metonimizam a manobra titular: os dois garotos estão quase sempre juntos, inventando maneiras ingênuas de entretenimento, como quem engole mais ‘marshmallows’, num desafio de Internet, ou quem adivinha qual parte do corpo está sendo tocada com o dedo, enquanto alguém está com os olhos vendados. Diante disso, a solidão de ambos é hipertrofiada através do excesso de exposição: quanto mais eles se afastam, mais sofrem…
Sobre a importância de averiguar as benesses da literatura ‘pop’ [1/4]: “alguém já parou para pensar que ‘Inferno’ e ‘Inverno’ são quase a mesma palavra?”


O lançamento, em 2015, do livro “Um Ano Inesquecível”, composto por quatro novelas românticas, cada uma delas concernente a uma estação do ano, animou parte do mercado editorial destinado ao público infanto-juvenil, mas gerou alguma desconfiança entre críticos literários sisudos, que rejeitam tramas intencionalmente escapistas. O mesmo ocorreu quando, em 2022, foi anunciada, pelo serviço de ‘streaming’ Amazon Prime Video, a produção e o posterior lançamento de uma quadrilogia de filmes, baseados nas novelas em pauta.
“Depois que aquele alarme de puberdade tocou, tudo começou a dar errado” — ou quando uma identificação legítima é também forçada!


Em “Divertida Mente 2”, ao invés de as situações ficcionais serem expostas ao nosso cotejo íntimo, a fim de que possamos ou não nos identificar, estas surgem como imposições generalistas, de modo que quase todo mundo assume que é ansioso e que experimenta recorrentemente o mal-estar apresentado no filme. Não se nega que isso ocorra de maneira espontânea, mas, ao mesmo tempo, tal condição faz parte de uma programação ardilosa da faceta hodierna do capitalismo: é mister tornar todo mundo ansioso e duvidoso das próprias capacidades (intelectuais, físicas, afetivas, etc.) para, logo em seguida, apresentar tramas em que isso seja tematizado explicitamente, de modo que o espelhamento identitário redunde em garantia de lucro e divulgação.
“Se alguém me perguntasse ‘qual é a tua religião?’, eu responderia: ‘a infância’!”


“Saudade Fez Morada Aqui Dentro” (2023, de Haroldo Borges) é um filme que faz jus à potência poética de seu título. A despeito de acontecerem situações que, noutro tipo de desenvolvimento tramático, poderiam desencadear conflitos duradouros (uma briga entre namoradas, a própria cegueira de Bruno, a cena em que ele é abandonado por Ângela num local ermo), o roteiro – escrito pelo diretor e por Paula Gomes – é marcado pelo improviso, por uma impressionante naturalidade nas atuações, a ponto de, em inúmeros momentos, pensarmos tratar-se de um documentário.
“Dinheiro, eles têm. Mas bonitos, não são, não!”: afinal, a privatização enfeia!


Em 2014, a cineasta alagoana Nara Normande e o realizador pernambucano Tião realizaram um curta-metragem extraordinário, chamado “Sem Coração”, no qual um garoto de classe média, em férias numa praia paradisíaca, conhece uma garota apelidada daquela maneira, que se dispõe a ter experiências sexuais com os meninos que a ofendem diariamente. Nove anos depois, os diretores expandiram essa trama, acrescentando novos personagens e contando com a eloqüente presença de Eduarda Samara como a personagem-título, mais uma vez.
“A sexualidade é um espectro” ou algumas coisas (ruins) não têm fim…: a propósito de uma telessérie


As séries de TV alteraram significativamente o modo como nós consumimos produtos audiovisuais, reclamaria um analista midiático comportamentalmente apocalíptico. Mas há muito a ser dito, para além dos julgamentos de valor imediatamente derivados desta percepção assustada…