Sobre a importância de averiguar as benesses da literatura ‘pop’ [4/4] e a safra atual de filmes brasileiros: “tu sabes me dizer onde fica este endereço?”


Aproveitamos esta deixa para finalizar a nossa série de artigos sobre a quadrilogia de filmes baseada nas novelas reunidas no livro “Um Ano Inesquecível”, conforme iniciado aqui: baseado em “Amor de Carnaval”, da carioca Thalita Rebouças, “Um Ano Inesquecível: Verão” (2023, de Cris D’Amato), tanto quanto os demais títulos da cinessérie, efetiva mudanças consideráveis na adaptação. Neste caso específico, elas são mui alvissareiras, no sentido de que o texto original é o menos interessante da coletânea. O filme, por sua vez, é divertido na maneira como nos faz torcer por Inha (Lívia Inhudes), a filha de um político conservador de cidade de interior…
“Não se pode viver a noite inteira e, depois, o dia inteiro”… Ou de quando o livro é melhor que o filme: e daí?


É muito comum que, num primeiro impulso, ao término da sessão, o fã de algum livro adaptado para o cinema irrite-se ao perceber que “o livro é bem melhor”. Em verdade, esta é uma opinião que não respeita as especificidades lingüísticas de cada uma das obras: ainda que seja detectado o aproveitamento de elementos congêneres – a mesmíssima trama, por exemplo –, o livro é o livro e o filme é o filme. Cada um deles funciona por si mesmo, sendo “perdoável” quando a adaptação é mal-sucedida.
“O sertão tá em todo lugar”? Ou quando um filme brasileiro não é necessariamente “nacional”…


Ao contrário de outras cinematografias nacionais, em que o “data de nascimento” diz respeito à primeira exibição pública, no Brasil, privilegia-se a filmagem. O que isso implica?
“Para os jacarés, o restaurante estará disponível assim que aterrissarmos!” – ou porque precisamos falar sobre os ditos “filmes ruins”!


A despeito da tendência predominante em classificar os filmes em meramente bons e ruins, atribuindo-lhes cotações reducionistas que não levam em consideração as inúmeras possibilidades entre um e outro adjetivo, convém investigarmos as produções que vemos (e debatemos) de maneira orgânica, enfatizando o que pode ser apreendido das experiências espectatoriais. Trata-se de um conselho legitimamente bazaniano, que explica o porquê de obras defenestradas em seu lançamento converterem-se em objetos de culto, anos depois. Talvez seja o caso aqui.
“Tão estúpido e ignorante – e, ainda assim, amado por alguém”: ou de como sentimo-nos diante da genialidade joyceana!


É mui aplaudível que algum cineasta ouse adaptar o mais famoso livro de James Joyce, o que foi feito esplendidamente pelo norte-americano Joseph Strick [1923-2010], num filme que recebeu a capciosa tradução de “A Alucinação de Ulisses” (1967). Por causa da audácia demonstrada pelo realizador, junto ao co-roteirista Fred Haines [1936-2008], este filme mereceu a indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Não foi laureado, infelizmente, e causa estranhamento que este petardo fílmico não seja melhor conhecido. Falemos um pouco sobre ele, daqui por diante…
Sobre um quê de brasilidade: “eu não entendo como um cristão percorre léguas e léguas com o bico fechado”…


Quando pensamos nas artes brasileiras, o orgulho nacional reinstala-se: a música produzida neste país é mundialmente conhecida e sua literatura e cinema também possui inúmeros representantes egrégios. Falaremos sobre as duas últimas categorias, a partir da análise de uma eficiente adaptação cinematográfica para um conhecido romance local, “Inocência”, publicado em 1872 pelo Visconde de Taunay [1843-1899].
…e o Sertão continua a mandar gente para lá: uma homenagem ao aniversário de nascimento de Graciliano Ramos (1892-1953)


Publicado originalmente em 1938, o breve romance “Vidas Secas” impressiona pela crueza de seu relato e pela grandiosidade de seu estilo, cujo pendor regionalista é uma das marcas registradas de seu autor, o alagoano Graciliano Ramos (1892-1953). Logo no primeiro capítulo, “Mudança”, a contagem de seres viventes baixa de seis para cinco: o papagaio é morto para servir de refeição ao famintos. O afeto é suprimido pela necessidade de comer desde as páginas iniciais…
