Ainda não tinha vindo falar acerca da 2ª Vaga do Covid19…
Aqui há uns tempos, disse que o «bom comportamento» dos portugueses, no inicio da pandemia, talvez se devesse mais à imposição das regras governamentais do que propriamente à vontade dos próprios. E disse-o tendo por base os comportamentos irascíveis adotados logo após o fim do confinamento e que ditariam – mais tarde – a manutenção do estado de calamidade na área metropolitana de Lisboa, praticamente, até ao inicio desta 2ª vaga.
A verdade, cada vez mais evidente aos meus olhos, é que os portugueses não sabem – mesmo – ser livres; confundem liberdade com libertinagem ou anarquia. Não sei se isto advém de sermos uma democracia recente ou se será resultado de um certo sentimento de impunidade que a revolução dos cravos deixou; afinal, não se derramou sangue, não se apuraram responsabilidades de crimes contra a humanidade e nem um tiro perdido limpou o sebo a algum PIDE que – com certeza – o merecesse…
Neste momento, atravessamos um período de grande crise pandémica. Não é só cá, é verdade; tal como é verdadeiro que nenhum dos governos do mundo parece querer tomar as medidas que se impõem: confinamento total.
Antes que me caiam em cima, por causa da economia e da manutenção dos trabalhos, gostaria de propor o seguinte exercício. Que economia, ou trabalho, restará para os milhares de mortos que se avizinham? Que economia e trabalho restarão se, no final de tudo isto, não houver pessoas suficientes no mundo para que tudo funcione normalmente? E, por fim, será que ainda ninguém entendeu que se impõem novas formas de pensar o mundo?!
Eu compreendo que não se queira parar tudo. Mas não se pode querer que tudo funcione da mesma maneira, porque há condicionalismos novos que nos obrigam a estar de outra forma. Que sentido fará impedir ajuntamentos de 5 pessoas, se nos transportes públicos se anda ao magote? Que sentido fará proibir a circulação entre concelhos se existem uma série de excepções que permitem que tudo fique na mesma?
Parece-me – na minha modesta opinião – que andamos a brincar às escondidas com o vírus, fingindo que tomamos medidas que nos protegem, resistindo às evidências que nos provam que ele está aí e não está para brincadeiras, esquecendo-nos de que ele é invisível… Como nos escondemos de alguma coisa que não vemos?!
E sim. Os apelos do Senhor Primeiro Ministro e do Senhor Presidente da República caíram em saco roto. Como se pode crer que um povo que não respeitou o confinamento durante a passada Páscoa, tendo usado e abusado de subterfúgios para escapar às restrições impostas na altura, agora, que «Estava tudo bem» – com arco iris e o diabo a quatro – actue com responsabilidade?
Não se pode; infelizmente, é esta a resposta… E basta ver o que aconteceu, esta quinta-feira, na Nazaré.
Se é porque somos uma democracia recente, e não compreendemos que Liberdade implica responsabilidade, ou se é pelo tal sentido de impunidade que ficou do 25 de Abril; não sei…
Talvez seja, apenas, porque, enquanto povo, temos um orgulho patológico em sermos contra o estado e, enquanto estado, temos uma desconfiança patológica sobre os cidadãos…
Mas o que mais me custa é isto que abaixo segue…
Uma sondagem da Aximage para o JN e TSF disse que 81% dos portugueses querem Recolher Obrigatório. Ou seja, 81% dos portugueses preferem ser obrigados a ficar em casa, sujeitos a penalizações e privados da sua liberdade durante uma parte do dia em vez, de sua livre e espontânea vontade, se absterem de sair à rua…
O que é que se passa com esta gente?
Somos crianças?
Então, se o estado não obrigar, nós não nos valemos a nós próprios?
Se sentimos que deveríamos evitar sair à rua, deslocarmo-nos a determinados sítios, a partir de certa hora, porque razão – simplesmente – não o fazemos?!
Fiquemos em casa porque queremos, porque achamos que é o comportamento certo, mas não – nunca – porque somos obrigados.
Mas não… Parece que se o estado «paizinho» não nos obrigar, não sabemos estar nem ser o que temos de ser.
Este sábado vai haver uma reunião do Conselho de Ministros; e parece-me que o Recolher Obrigatório está em cima da mesa… E talvez estes 81% dos portugueses vejam a sua vontade concretizar-se.
Quanto a mim, sinto-me triste com a constatação infeliz que os portugueses não sabem ser livres, não sabem viver em liberdade, não sabem exercer os seus direitos e obrigações e que tem de vir o estado, tirando-nos esses mesmos direitos e obrigações – os quais temos, apenas, há 46 anos, é importante não esquecer – dar-nos uns açoites para aprendermos.
Não sei mais o que dizer e resta-me pouco mais do que parafrasear o Rodrigues Guedes de Carvalho:
«Tenham Noção!»
Imagem do Pinterest da APRIM