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Rumo ao abismo? Pensando com Edgar Morin sobre mitos e futuro

Rumo ao abismo? Pensando com Edgar Morin sobre mitos e futuro

Vivemos tempos de incertezas e lidamos com a pior delas: a incerteza angustiante do presente isolamento social e projeção do mundo pós pandemia da COVID-19. Quando sempre falamos das inseguranças de uma sociedade cada vez mais conectada, tendo a internet como protagonista nas relações sociais, econômicas, culturais, etc., tratamos de uma incerteza de futuro que se molda a partir da relação com a ciberespaço, possibilitando novos modos de organizar a vida mesmo que ainda de forma desigual para todos. Agora é diferente: as incertezas são globais, mas próximas.

Você já deve ter ouvido de algum especialista que desenvolvimento econômico – tecnológico e progresso social nem sempre andam juntos. Confesso que tenho pensado muito nisso já que, em tese, um deveria servir de suporte para o outro. Nas leituras que tenho feito sobre o assunto, me deparo com reflexões importantes sobre o futuro e como o modelo de desenvolvimento ‘mensurável’ é um dos responsáveis por tantas crises no mundo contemporâneo, mesmo nesse momento atípico de pandemia.

Edgar Morin, no seu livro “Rumo ao abismo? Ensaio sobre o destino da humanidade” nos dá um panorama para pensar – e muito – no que temos hoje. Há um grande perigo que nos ronda: os desenvolvimentos da ciência, da técnica, da indústria e da economia não são, muitas vezes, regulados pela ética. Isso traz mais problemas do que imaginamos. Morin é muito categórico ao dizer que temos que mudar o rumo, efetuar um novo começo: “A porta para o improvável está aberta, mesmo se atualmente o crescimento do caos torna-lo inconcebível”.

É importante destacar aspectos da modernidade que são antagônicos e complementares. Por exemplo, temos uma ciência contemporânea que depende da verificação, mas, sobretudo, do conflito de ideias. Falamos em globalização, mas há fenômenos dialéticos onde o local se torna preponderante e há rejeição dessa hegemonia ocidental.

O humanismo moderno é fruto de uma simbiose entre a ideia grega de indivíduos depositários de razão e à concepção cristã de um homem à imagem de um Deus bíblico. O individualismo é uma característica chave. Morin, nos provoca ao determinar que a modernidade se manifesta por meio de três grandes mitos: do domínio universal, do progresso e da felicidade.

Sabe por que a felicidade está em crise? Porque hoje há uma compreensão de que o resultado positivo da felicidade e os subprodutos negativos aparecem na mesma intensidade: fadiga, abuso de psicotrópicos, drogas, etc. O individualismo também gera solidão, tristeza. O desenvolvimento poderia trazer segurança, mas, na verdade, não elimina riscos e ainda produz novos.

Mas o que fazer então? Morin, diz que temos a emergência de uma sociedade – mundo onde esse desenvolvimento que não leva em consideração a vida, o sofrimento, a alegria, o amor, não tem espaço. Precisamos de uma política que tenha a missão mais urgente de solidarizar o planeta.

O vencedor do Prêmio Nobel da Paz, em 2005, Mohamed Elbaradei, também nos dá um alerta para a necessidade urgente de mudar os paradigmas de desenvolvimento. No livro “A era da ilusão: a diplomacia nuclear em tempos traiçoeiros”, o autor tenta abrir os olhos da humanidade para a insanidade que rege as ameaças nucleares, por exemplo. “Na era da globalização, é mais evidente do que nunca que essas inseguranças são ameaças sem fronteiras.”

Essa pandemia, ainda sem controle, nos força a questionar:  em que mundo estamos vivendo e, o melhor, qual futuro estamos construindo? Infelizmente, a incerteza não torna objetiva uma resposta.

 

Referências:

 

MORIN, Edgar. Rumo ao abismo? Ensaio sobre o destino da humanidade. Lisboa: Bertrand Brasil, 2011.

ELBARADEI, Mohamed. A era da ilusão: a diplomacia nuclear em tempos traiçoeiros. São Paulo: Leya, 2011.

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