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Os 75 anos do 1984.

Os 75 anos do 1984.

O famoso livro de George Orwell, cujo título é um ano, o de 1984, completou três quartos de século de sua publicação neste oito de junho, último romance do controverso autor, traz à discussão a realidade desde sempre pretendida por algum poder que governe, controlar a sociedade em nome de uma suposta ‘paz social’, para a qual a única resposta possível é a ação guerrilheira (uma vez que a guerrilha é a derradeira forma de reação aos instrumentos pervertidos dos poderes instituídos) portanto uma ação como tentativa de se contrapor, resistência ativa aos meios de manipulação em que se converteu, conformou, e se consubstanciou o Estado e seus instrumentos neste caso, havendo manipulação a muitos e diversos níveis para controlar as pessoas, intervindo em: A informação, a linguagem, o controle do passado, a promoção do negacionismo, a guerra, a alienação de largas franjas da população, a ação psicológica, o uso de tecnologias e legislação propícias, a vigilância — individual e em massa, a mistificação da verdade, fake news, “duplipensar”, 2+2=5, o “crime de pensamento” e, no topo, o totalitarismo. ONDE JÁ VIMOS TUDO ISTO? Hoje, em toda parte, com maior ou menor amplitude e incidências, onde se encontram infiltrados em todos os países estes diferentes meios de domínio da sociedade, mesmo a mais instruída e informada.

1984.

Esse ano bissexto e olímpico não teve grandes ocorrências políticas ou históricas, mas fica para a História por sua marca ficcional. Orwell escolheu uma data próxima, não muito próxima, nem muito distante, 35 anos adiante do tempo em que escrevia, visando demonstrar que nos encaminhávamos para uma instrumentalização social, que, com os novos e mais capazes meios tecnológicos, atingiria níveis de eficiência instrumental desconhecidos na História até então. E vimos isso acontecer, não em 1984, se não um pouco antes, e também depois, e sempre, e agora, em exercícios de subjugação e controle cada vez mais eficientes, até ao absurdo. (Sugiro a leitura da crônica: A nota social, a cidadania e a liberdade — 31/03/2018.)

1949.

Saídas da Segunda Guerra Mundial, com as pessoas aterrorizadas por tudo que se passou com a tentativa nazi de instrumentalizar o mundo, e, como os nazis fizeram com os alemães, pretendem então fazer hoje diferentes grupos de poder, e só não o fazem aqueles que, obstaculizados pelas forças sociais impeditivas a tais pretensões, vêem-se obrigados a refrear suas intenções, que, com raríssimas exceções, buscam um poder mais abrangente do que aquele que a Democracia lhes concede. Expor à evidência essas intenções é a reação política primeira de uma imprensa livre, de partidos sob a égide da Lei, e de uma sociedade em regime democrático. Do confronto que se estabelece, vemos caminhos e descaminhos buscando atingir seus fins, que vão desde lutas intensas de opiniões, como as que vemos nos jornais e noticiários televisivos, até às encarniçadas redes sociais defendendo e contrapondo pontos de vista, tanto normais e verdadeiros, quanto mentirosos (fakes) e inventados. Passa essa confrontação também por ações mais vis, onde se estabelecem ações tanto públicas como nas sombras — Ataque ao Capitólio, Washington; Ataque aos Três poderes, Brasília; Watergate, Washington — bem como desenvolve-se em inúmeros golpes palacianos, tudo pretendendo assumpção de poder que não corresponde aos conferidos pela situação vigente em cada caso.

Orwell terá pouco de oráculo, de Nostradamus, ou adivinho, mas não deixará de ter seu que de profeta, ainda que suas previsões se assentem na observação da natureza humana e suas tendências desvirtuadas, e não em poderes ocultos. Seu livro é uma transcrição ficcional dos aparelhos que costumam se formar visando alcançar poderes que não têm.

“Big brother is watching you.”

Nada mais eficaz que o temor generalizado. Quanto a Gestapo terá alcançado pelo simples fato de existir? As pessoas temendo comportam-se como espiões de seus vizinhos, agentes do totalitarismo, fontes copiosas de informação e delação, estabelecendo uma rede de terror e vigilância, e também em miseráveis denunciadores de supostos comportamentos contra o regime. Pela força, pelo medo implantado, pelas ações de inteligência e espionagem, meios que se traduzem no que chamamos genericamente de Big brother, têm comprovada sua eficiência como ação autoritária, repressiva, fascista, ditatorial, numa tradução próxima, de algum modo, das ações para as quais Orwell nos alerta.

2024.

O poder sempre busca uma forma de controlar, moldar e enganar a Sociedade, da forma mais restritiva que consiga, bem como da forma mais manipuladora possível, criando narrativas que induzam a crença nos valores que propagam, pouco importando se existem ou não as coisas que afirmam, buscando unicamente convencer tudo e todos de que sua ficção é a realidade. Vemos hoje essas fábulas narradas como recurso de instrumentalização por toda parte, com destaque para as redes sociais. Parece que voltamos aos tempos das quimeras mitológicas, com seus meios de assustar as crianças e controlar as populações. E tristemente verificamos que as fábulas resultam e alcançam seus propósitos, como sempre, as pessoas gostam de crer em ilusões e invencionices.

Tanto no livro como na realidade, tanto outrora como hoje, estamos, e creio que estaremos sempre, sujeitos a essas ambições de poder inevitáveis, posto que o poder corrompe. O alerta orwelliano é uma lembrança constante que se faz sempre necessária para que deixemos de ficar pela rama na observação e análise das ações que nos afetam.

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