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O Reino da Estupidez

O Reino da Estupidez

Estamos todos em casa, confinados, cumprindo aquilo que o nosso dever cívico nos pede, aquilo que o nosso governo – e presidente – nos solicita, aquilo a que apelam os nossos médicos e enfermeiros e, em última instância, aquilo a que o bom senso nos impele; e, depois, andam por aí umas cavalgaduras a passear-se como nada fosse: quando está sol, tentam ir até à praia, e na Páscoa foram aonde quiseram e andaram a beijar a cruz…

Vamos lá ver umas coisas…

Acham por acaso que não me apetece apanhar sol, ir ver o mar, passear sem ter destino e tempo limitado, ou ir almoçar, na Páscoa, com a minha família? Acham?!

Claro que me apetece… Fui?

Não! Estamos em estado de emergência! E estamos em estado de emergência porque anda aí um bicho invisível que nos invade os pulmões, um bicho que passa de um a milhares em pouco tempo e que o nosso corpo, sem anticorpos adequados, começa a atacá-lo conforme pode e, porque não sabe como o pode derrotar, acaba por se começar a destruir, aos poucos, começando – precisamente – pelos nossos pulmões… Sim; o COVID 19, a doença provocada pelo Corona Virus SARS-COV-2, não é uma gripezinha – como muitos a quiseram fazer parecer -, nem uma simples pneumonia – como outros acharam que era -, é outra doença, com traços comuns àquelas, mas com um comportamento muito diferente, com muito maior gravidade e consequências muito mais profundas…

É verdade que há pessoas que se curaram. É também verdade que entre as pessoas que se curaram há idosos – que fazem parte do grupo de risco – e que há jovens – crianças – cujas probabilidades de recuperação eram altíssimas e nem por isso sobreviveram. Quer isto dizer que nos mentem?

Não. Isto quer dizer uma coisa muito mais simples, mas que ninguém parece conseguir entender – principalmente as cavalgaduras: ninguém conhece muito bem o SARS-COV-2. Neste momento, tudo o que vamos sabendo são hipóteses de trabalho; estamos a aprender on the job; e isso implica um caminho de tentativa e erro e – não tenham dúvidas – nesse processo muita gente morrerá.

Vamos a números…

No mundo, temos 2173432 infectados, dos quais 146291 já faleceram e 554786 recuperaram; são números auspiciosos. No entanto, o vírus está a começar, agora, a chegar a África… E, como que a antecipar isso, o Imperial College veio a público – a semana passada – com números catastróficos: prevê que até ao final do surto do Corona Vírus SARS-COV-2 possam ocorrer mais de 1,8 milhões de mortes.

No entanto, e por enquanto, há uma medida muito eficaz, com resultados comprovados, que pode ser aplicada por todos: distanciamento social; recolhimento e confinamento; e isolamento daqueles que estão comprovadamente infectados com COVID 19. Estas são, até à vacina ou medicamento surgirem, as nossas melhores armas.

Não vou dizer que é fácil… Sei que para uns será mais difícil do que para outros e que para alguns será impossível devido à sua profissão… Mas sei que para as pessoas de bom senso jamais será difícil porque querem ir ver o mar, apanhar sol, celebrar a Páscoa ou beijar a cruz…

Os portugueses têm sido elogiados por esse mundo fora; pela forma como estamos a lidar com a pandemia. Mas eu – confesso – fiquei muito triste com o que assisti na Páscoa…

Começo pelos chicos – espertos que, conhecendo as medidas de contenção de 9 a 13 de Abril, resolveram sair mais cedo, por estradas secundárias, para ir passar a Páscoa a onde quiseram; os supermercados no Algarve, por exemplo, estavam cheios.

Na minha zona, eu vi – ninguém me contou – muito mais trânsito, pessoas a entrarem na casa umas das outras para o almoço de Páscoa; no prédio ao lado do meu, até houve uma festa de aniversário com convidados…

E, sobre isto, para além da natural lamentação sobre a atitude das pessoas, tenho de dizer uma palavra sobre o amadorismo das nossas forças policiais… Neste momento, o policiamento de prevenção não serve; não adianta – nunca adiantou – dizer que se vai estar ali, ou acolá, porque isso só vai fazer com que as pessoas evitem esses acessos e procurem caminhos mais escusos… Percebo que se pretenda apelar ao bom senso; mas se houvesse bom senso, não seria necessário controlar as pessoas, não é verdade?

O resultado disto, num contexto em que as pessoas estão em casa, em Teletrabalho ou não, foi que as pessoas se deslocaram mais cedo para as aldeias e casas de férias; usando estradas secundárias e municipais, porque a policia estava nos principais acessos.

O que devia ter sido feito – na minha opinião – era barrar as saídas dos conselhos. Bastava ter uma patrulha em cada saída do conselho; ninguém, sem fortes motivos para tal, poderia sair… Se o tivessem feito, não haveria partida antecipada ou estrada secundária que pudesse servir de alternativa. Mas não foi… E como não foi, os chicos-espertos – que já se acham melhores do que os outros – ainda ficaram mais cheios de si e encheram também – talvez – o país com mais SARS-COV-2; espalharam-no…

Mas, apesar desta chico-espertisse tuga me custar – porque parece que andam a gozar comigo, pondo em causa a minha saúde e, em ultima instância, a minha vida – o que mais me espanta é a atitude daqueles que se sabem infectados, com confinamento forçado, e que ainda assim saem de casa…

Há um filho e uma mãe, ambos com COVID 19, que andam a monte. Antes disto, ouvi falar do caso de um casal que suspeitava estar infectado, foi fazer o teste, e, enquanto esperavam o resultado, resolveram ir para a casa de férias – no Algarve – e foram de autocarro. E soube hoje que – pelo menos – 15 pessoas infectadas foram celebrar a Páscoa, saíram de casa…

Não sei… Andei de volta do dicionário à procura de um adjectivo para classificar estas pessoas; mas nem bestas, nem alimárias ou cavalgaduras me parece ser adequado.

Como é que a polícia permite isto?

Não têm meios?!

Chamem o exército!

Estas pessoas já provaram não ser de confiança; têm de ser mantidas em casa e à força.

Mas também gostava de saber o que irá acontecer a estas pessoas que se andam a pavonear pelas ruas sabendo-se com o vírus SARS-COV-2.

A pena de prisão, prevista na lei, parece-me pouco… Eu não sei o que acham sobre isto… Afinal, estamos a falar de gente que tem conhecimento de que está infectada com uma doença grave que pode matar outros, que foi confinada por força da lei e que, ainda assim, passa por cima de todos esses factores e resolve andar a espalhar o Corona Virus SARS-COV-2 como se nada tivesse… No mínimo, trata-se de gente que poderia ser considerada irresponsável e inconsciente, mas também de má índole e egoísta, porque por causa deles haverá gente que irá morrer; gente que vai sentir os seus pulmões invadidos; gente que vai, aos poucos, perdendo a capacidade natural de respirar e que – a dada altura – será ligada a um ventilador, onde, numa cama, lutará com todas as suas fracas forças contra o colapso dos seus órgãos vitais; uma luta inglória que o conduzirá à morte. E porquê?

Porque teve a infelicidade de se cruzar com uma daquelas pessoas que com total desprezo pela vida humana, sabendo-se portadores da morte, não agiram em conformidade com o bom senso, com a lei e com a compaixão que deveriam ter… Eu não sei; mas acho que a pena de prisão é pouco. Esta gente, quando tudo isto passar, deveria ser processada judicialmente pelo estado; chamadas à pedra para pagarem, bem cara, a estupidez que – por estes dias – acharam ser um acto de inteligência superior.

 

Imagem de Omni Matryx por Pixabay

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