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O estranho

O estranho

A todo aquele que se desconhece ou não se entende claramente, quer seja por ser enigmático, incomum, ou em razão de qualquer outra dessemelhança ao comparante, há o velho costume de olhar com suspicácia e coloquialmente cognominar o comparado de estranho.

Nesta lógica, estranhos são todos aqueles que não partilham as mesmas ideias, hábitos ou comportamentos, porquanto desviam-se de padrões predeterminados. Deveras, ninguém é estranho em si mesmo, senão em relação a alguém ou alguma ordem preestabelecida. Sem embargo, é condição bastante para conduzir à exclusão social.

No passado século XX, os formalistas russos – escola literária, 1910-1930 – dedicaram-se a dissecar este fenómeno, o qual conceituaram de estranhamento. De acordo com Viktor Chklovski (1893-1984) – um dos principais autores entre os formalistas – em “A Arte como Procedimento”, o estranhamento é um processo de desfamiliarização e sequente construção da individualidade e singularidade.

Posto que o inverso de estranho é ser normal, comum ou, mesmo, vulgar; ainda que na sua dimensão negativa os formalistas alertaram para os riscos da banalidade, muito especialmente no procedimento de criação. Ou melhor, é o que pode parecer estranho – e não o normal – que surge como elemento central a qualquer processo de criação original, característico das grandes obras, tanto na filosofia, quanto na arte e, sobretudo, na ciência.

Nesta contextura, a cada caso exige-se o distanciamento necessário do conhecido e prescreve-se prudência nas observações, sob pena de se apreciar mal tudo o que é diferente, como agem os que nada fazem, pouco viram e, em regra, muito falam. Com efeito, salvo melhor opinião, dever-se-á ver as coisas por um olhar inaugural, considerando não apenas a perspetiva pessoal, como integrando a de outros, por mais excêntricos que se possam afigurar, de modo a alcançar a epifania, i.e., procurar por todas as vias possíveis resolver os problemas, reunindo o máximo de peças que permitam montar um puzzle e ter acesso à imagem completa e real; em vez de inferir-se erradamente por engano, ou porque se distorce a verdade por força de interesses próprios, culminando, em juízos de valor, ainda que imaginários, reais nas consequências.

Referências

Eikhenbaum, Chklovski & Jakobson (1976). A Arte como procedimento de Viktor Chklovski. In A Teoria da Literatura: Formalistas Russos. 2ª Edição. Editora Globo. Brasil. ISBN: 19762279.

Imagem de fundo: Domínio público, por Pixabay.

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