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“Na verdade, eu nunca gostei de almoçar sozinha. Eu apenas finjo!”: tu sabes o que é, em telemarketing, uma rechamada?

“Na verdade, eu nunca gostei de almoçar sozinha. Eu apenas finjo!”: tu sabes o que é, em telemarketing, uma rechamada?

Além de ser internacionalmente conhecida pelos doramas, pelos filmes de vingança, pelo K-Pop e pelos trabalhos do prolífico Hong Sang-Soo, a Coréia do Sul também chama a atenção pelos dramas delicados, envolvendo questões sociais. Recomendamos, por exemplo, “Microhabitat” (2017, de Jeon Go-Woon), excelente produção sobre uma ex-aluna-prodígio que trabalha como uma espécie de faz-tudo para seus antigos colegas de faculdade. Um roteiro que compreendeu muito bem aquilo que é diagnosticado pelo filósofo também sul-coreano Byung-Chul Han, autor do seminal “A Sociedade do Cansaço”!

Não é por acaso que os cineastas desse país foram exitosos na produção de tramas sobre a exploração empregatícia ocorrida no setor de telemarketing. E, enquanto não temos a oportunidade de assistir ao recente “Next Sohee” (2022, de July Jung), recomendamos o magistral drama “Solitários” (2021), da diretora estreante em longas-metragens Hong Sung-Eun. Este filme está disponível na plataforma Mubi — através do título anglofílico “Aloners” — e impressiona pela maneira como a solidão titular encontra eco nas exigências ocupacionais do setor supracitado.

A protagonista de “Solitários” é Jina (Gong Seung-Yeon), teleatendente de uma empresa de cartões de crédito, que é conhecida pela extrema dedicação ao trabalho, obtendo, por causa disso, os melhores resultados de sua equipe, em vários meses consecutivos. Ela, entretanto, não conversa com quase ninguém, interage de maneira monossilábica com quem fala consigo e evita atender às ligações telefônicas de sua mãe. Logo descobrimos que quem está lhe telefonando é seu pai (Park Jeong-Hak), justamente porque sua mãe falecera recentemente. E ela utilizou apenas dois dias de folga, reservados ao luto: no terceiro dia, já estava atendendo às ligações da empresa, resolvendo problemas alheios com o característico (e opressivo) “sorriso na voz”…

Quando retorna para seu apartamento, um vizinho tenta constantemente puxar assunto com Jina, mas ela evita prolongar o contato. Após sentir um mau cheiro terrível, ela descobre que este vizinho morreu soterrado por revistas e DVDs pornográficos. Apodreceu antes que alguém sequer o encontrasse! Chocada com a descoberta, ela mantém a sua abnegação quase maquínica, uma devoção fastidiosa a uma ocupação que a desumaniza hodiernamente. Até que a sua chefa a obriga a treinar uma nova funcionária, a simpática pós-adolescente, vinda do interior, Soo-Jin (Jung Da-Eun). Será que ela conseguirá cativar o coração interditado de Jina?

Evitamos contar o que acontece, daqui por diante, para assegurar que os nossos leitores descubram um filmaço, estranhamente pouco conhecido e/ou divulgado. Não obstante as situações de convivência forçada entre Jina e Soo-Jin serem muito assemelhadas ao que vemos nalgumas comédias de costumes, a diretora não sucumbe às convenções de gênero. Pelo contrário, insere alguns aspectos levemente sobrenaturais, a fim de permitir a nossa identificação com a aflição não percebida de Jina, que soterra na labuta infindável os dissabores de sua vida infeliz. Um filmaço, repetimos, o qual recomendamos com empolgação. Quanto à pergunta do subtítulo, falamos sobre rechamada aqui: o que ocorre nas PA’s (Posições de Atendimento) do telemarketing, a despeito de ser um assunto extremamente cinematográfico, ainda não foi suficientemente explorado pela Sétima Arte. Por isso, este ótimo filme sul-coreano é tão assertivo!

Wesley Pereira de Castro.

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