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Ligando o mar e a terra: a velha aliança em funcionamento na Índia ocidental

Ligando o mar e a terra: a velha aliança em funcionamento na Índia ocidental

Teotonio R. de Souza[1]

A política britânica de consolidação do império na Índia no contexto da “Revolta dos Cipaios” (1857) conseguiu mobilizar a administração portuguesa no Estado da Índia a colaborar. Convinha isso aos portugueses como parceiro menor do império, particularmente no contexto das invasões napoleónicas de Portugal e a fuga da família real para o Brasil.

Lord Wellesley, que viria a ser Duque de Wellington, tinha revelado as suas competências militares na Índia, e fora escolhido para assistir a administração portuguesa no continente para enfrentar a ocupação pelas forças napoleónicas, mas isso só depois de ele ter derrotado o Sultão Tipu, o presumível e temido aliado francês na Índia, em 1799. Arthur Wellesley, o governador inglês da Índia entre 1799 e 1804, era um defensor acérrimo da política “forward” (avante) que tinha por objetivo a redução do poder dos potenciais rivais dos ingleses no subcontinente.

Aproveitando de um pretexto duma possível intervenção francesa na Índia portuguesa,  as forças britânicas “ofereceram-se” para ajudar as autoridades portuguesas em Goa2. Jonathan Duncan, o governador da Presidência de Bombaim recebera em 30 de Maio de 1799, uma sugestão de White Duncan, um oficial superior da Presidência, para avançar com a captura de Goa.

A nota informativa referia a “extravagant and unhealthy bigotry that prevails under the ecclesiastical influence and power of clergy, the consequence of which is a general discouragement to the merchant, and in fact almost a total stagnation of trade at Goa” 3. [O fanatismo extravagante e doentio que reina sob a influência clerical é responsável pela decadência da classe mercantil, e um declínio quase total de comércio em Goa]

O tom desta correspondência refletia a política que os britânicos iriam adoptar no Portugal continental após a invasão napoleónica daquele país,  pressionando as autoridades portuguesas a encerrar as atividades da Inquisição em vésperas da transição para o liberalismo. Enquanto a regência em Portugal estava sujeita ao diktat de Lord Beresford,[2]  Wellesley definia a estratégia militar na base da sua experiência na Índia. Ele fez uso intensivo de carroças de bois, uma forma rudimentar e pouco dispendiosa de comunicação e transporte para criar e sustentar o seu famoso plano militar conhecido como “Linhas de Torres”, que defendeu de uma forma eficaz a Lisboa e os arredores contra as investidas das forças invasoras de Napoleão 4.

Procuramos fontes publicadas e inéditas em inglês, português e marata 5, para analisar a estratégia britância em 1859 para ligar os portos e os desfiladeiros entre as cordilheiras de Gates ocidentais da Índia para reforçar os meios de intensificar o comércio e assistir a movimentação de tropas, numa altura em que se notava a incapacidade da administração portuguesa em Goa para controlar os rebeldes que fugiam da captura pelos ingleses e se refugiavam na jurisdição portuguesa. Os ingleses tinham aproveitado da ocupação de Goa durante uns 15 anos para realizar um estudo pormenorizado do território, enviando para este efeito um jovem oficial bem treinado para essa tarefa. O tenente James Girling produziu os seus mapas toponímicos na base de triangulação e incluiu muitas informações de natureza social e económica. 6

O processo de controle colonial inglês em Goa portuguesa acabaria com a assinatura do Tratado Anglo-Português de 1878, que reduziu efetivamente o Estado Português da Índia a um apêndice da economia da Índia inglesa.  Seguiu o desenvolvimento do porto de Mormugão e uma ligação ferroviária da Índia britânica a esse porto para ajudar a escoar os produtos do interior indiano. Uma análise mais extensiva desta evolução política ficará para textos futuros desta coluna, ou para um artigo científico em alguma das revistas de Ponteditora ou outra.

NOTAS

[1]  CV of the author:  http://orcid.org/0000-0002-9397-1433

2 Gracias, J.B. Amâncio, Ingleses em Goa ou ocupação de Goa pelas tropas britânicas. Nova Goa: Tip. Rangel, 1934.

3 British Museum Library: Add Mss 13703, White to Duncan, 30May 1799, ff. 8-10)

4 http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221753300N4bXW4nd9Ae27SD4.pdf

5 Joshi, S.N.V., Marathi Rajvatthitil kahi ghatmarga chaukya va sankirn. Pune: Bharat Itihasa Sanshodhaka Mandal, 1954.

6 Phillimore, R.H., Historical records of the survey of India, 4 vols. Dehra Dun, 1945, Vol. II, 156-9,162-6, e de forma especial  399. O estudo toponímico de Girling sobre Goa encontra-se em Add. 14385 da British Library. É um volume de tamanho grando com 312 folios, ou 624 página.

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