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Koukoatus

Koukoatus

Algures numa zona esquecida do mundo, tão esquecida que ninguém sequer concebe a sua existência, há um povo chamado Koukoatus.

Os Koukoatus vivem em paz entre eles e não têm divergências com vizinhos; dado que não têm vizinhos. Habitam uma floresta tropical, junto de um grande lago, em casas montadas em estacas e, entre aquilo que a floresta lhes dá e aquilo que tiram do grande lago, sobrevivem aos dias. E fazem-no felizes…

Este povo vive convivendo entre si e levando os dias entre a pesca, a caça e a recolecta para a alimentação diária. Por vezes, fazem grandes festas: para celebrar os casamentos e os aniversários. Para eles, estas são as duas grandes datas que devem ser celebradas, porque – na sua concepção das coisas – o nascimento e a morte são dados e não têm por que ser assinalados; já poderem casar e estar vivos, ano após ano, é resultado daquilo que fazem com a vida que lhes fora oferecida.

Os Koukoatus acreditam ser protegidos por Tus: a grande Deusa do Lago…

A lenda conta que um dia, Tus, cansada de estar sozinha, usara as águas abençoadas do Lago e as terras consagradas das margens para formar barro e, do barro, criara uma mulher belíssima, a quem chamara Kou, e um homem portentoso, a quem chamara Koa… Kou e Koa foram aprendendo as coisas da vida, aquilo que Tus lhes ia ensinando, e um dia apaixonaram-se. Tus casou-os e eles tiveram muitos filhos; assim nascera o povo de Koukoatus…

Para além das festas dos casamentos e dos aniversários, há uma outra grande festa. Esta tem uma data incerta; depende dos sinais que a sua Deusa envia. É a Festa da Criação, cuja data é marcada pela repentina – ainda que controlada – subida das águas do lago; e celebra o momento  da criação de Kou e Koa – a Mãe e o Pai de todos – e consagra as terras – as mesmas de onde eles se formaram -, abençoando o povo.

Os Koukoatus vivem muito embrenhados na floresta, longe de tudo que nós consideramos civilização e ignoram que o mundo é imenso e que nesse mundo – longe dali – há gente em correria, automóveis a alta velocidade, barcos velozes, aviões a cruzar os céus, computadores para fazerem quase tudo, telemóveis para comunicarem à distância e supermercados onde conseguiram, em poucos minutos, obter tudo aquilo que levam um dia inteiro para amealhar… Mas é por isso que a vida dos Koukoatus é simples: vivem para viver; e ocupam-se com o que é estritamente preciso para viver e nada mais. Também têm dúvidas existenciais – afinal são humanos -, mas – quando assim é – dirigem-se a Tus e esperam, pacientemente, por uma resposta; poderá vir e a reconhecerão, poderá não vir e eles reconhecerão nisso, também, um sinal. É um povo simples e ainda assim sábio.

Também fora assim que começara toda aquela gente que longe dali – num mundo que os Koukoatus ignoram – vivia apressada, sempre sem tempo para nada, stressada com o trânsito, preocupada com dia seguinte e lamentado o dia anterior, projectando para o futuro aquilo que desejam no presente e negligenciando o presente para projectar o futuro ou maldizer o passado… Todos eles, um dia, há muitos milhares de anos, haviam vivido como os Koukoatus: um dia de cada vez; e aproveitando esse dia para suprimir as suas necessidades básicas e para usufruírem da companhia uns dos outros. Mas o que é que aconteceu a estas pessoas?

Não sei…

Sei só que um dia todos viveram assim, daquele modo simples, levando a vida com o essencial à vida, e que agora nada lhes chega, querem mais – sempre mais – e vivem perseguindo o tempo como se o pudessem vencer… Foi a evolução, dirão.

Terá mesmo sido evolução?

Vejam os Koukoatus… Para eles está tudo bem; as coisas são como são, a vida é como é e está mesmo tudo bem. Podem bem – até – ser mais felizes do que todos nós…

Não sei… Mas – de repente – não posso deixar de me interrogar sobre o que é aconteceria aos Koukoatus – e ao seu modo de vida – se, de repente, descobrissem o capitalismo?

Queira a Deusa Tus – na sua imensa sabedoria – mantê-los a salvo dessa provação…

Nota: Os Koukoatus não existem; são uma criação imaginária…

 

Imagem de misio por Pixabay

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