Hoje vou ser rápido…
Vem a propósito desta de onda de protestos antirracistas que se espalhou pelo mundo depois do malogrado George Floyd…
É verdade que há racismo?
É…
É igual em todo o lado?
Não…
Deve-se protestar em todo o lado?
Sim, porque quantos mais formos, maior visibilidade existirá e maior consciencialização haverá…
Deve-se protestar em todo o lado da mesma maneira?
Não…
A humanidade tem de deixar este comportamento símio de imitar tudo o que vê os outros fazer. Enquanto não o fizer, haverão sempre coisas que tenderão para o exagero, perderão credibilidade pública e servirão alguns interesses escusos que só pretendem criar instabilidade social…
Não partilho da opinião do Rui Rio de que não há racismo em Portugal, mas não podemos comparar o nosso grau de racismo – que deveria ser zero – com o dos Estados Unidos; nem mesmo nos próprios Estados Unidos se pode comparar o racismo da costa Leste com o racismo da américa profunda. E isto significa que as atitudes dos manifestantes deverão ser diferentes num lado e no outro; seja nos dizeres, seja nos cartazes…
Quando olhamos para o nosso caso, para o caso português, a mensagem antirracista dos manifestantes soou ligeiramente desajustada à nossa realidade, quer nos cartazes, nas T-Shirts, nas palavras de ordem… Coisas como «Repressão Policial, Terrorismo oficial», ou «Um policia bom é um policia morto» não fazem sentido numa manifestação antirracista, principalmente quando as forças policiais nada estavam a fazer sobre os manifestantes…. E isto – meus amigos –, este desajuste, desajuda mais do que ajuda, porque – como disse – faz com que um protesto legítimo, cheio de razão de ser, perca credibilidade, porque todos aqueles que lá não estão – e que poderiam um dia vir a estar – não se identificam com a mensagem passada e deixam de prestar atenção. E quem perde com tudo isto é a causa…
Perde, porque, como macacada que todos somos, quando a coisa arrefecer, vamos todos esquecer-nos disto em pouco tempo; com o verão e um provável novo surto de Covid19. Daqui a uns meses, o George Floyd tornar-se-á mais uma vitima anónima, até que a próxima situação surja… Mas se todos formos conscientes na forma como protestamos e protestarmos com sentido, a mensagem passa, fica e desperta consciências…
E que história é essa de vandalizar as estátuas dos esclavagistas?
Em Portugal, nem a estátua do Padre António Vieira escapou…
Acham, por ventura, que reescrevem a História?!
Esquecem-se que são quem são devido a esses esclavagistas?
Acham que o racismo foi culpa dos esclavagistas?
O esclavagismo foi uma forma de economia, como o feudalismo… Tal como os senhores esclavagistas, os senhores feudais abusavam dos seus vassalos… Conhecem aquela lei, dos tempos feudais, em que o senhor feudal teria direito à virgindade de noiva de um vassalo; teria o direito à noite de núpcias?
A História é a História, não se altera; pode-se aprender com ela, mas não se pode alterar. E os esclavagistas viverem numa época muito diferente da nossa; onde aquilo que hoje vemos com horror não era assim visto… A História tem que ser vista sob prismas; não podemos olhar para ela à luz do nosso conhecimento atual…
Hoje há racismo, mas não é por culpa dos esclavagistas; é porque nas centenas de anos que passaram, a humanidade não conseguiu superar o medo da diferença nem o egocentrismo civilizacional em que vive. Porque, hoje, continuamos todos macacos, agarrados aos ramos das árvores, com medo de descer para a savana, com receio de que lá encontremos outros como nós ou melhores do que nós; outros, diferentes… O móbil do racismo, e de todos os nossos males, é e sempre foi o medo da diferença elevado ao expoente máximo da rejeição…
Enquanto não aprendermos que todos somos diferentes uns dos outros e que todos temos o nosso papel no mundo, isto nunca mudará… Mas a mensagem – pelo menos, a pré-pandémica – que o mundo, dito, civilizado sempre passou; foi a contrária: somos todos iguais. E esta mensagem, apesar de passar uma ideia de globalização, ostraciza quem é diferente, quem quer ser diferente; e quem necessariamente – por força da cor de pele, da religião, da cultura, das preferências sexuais ou identificação de género – é visivelmente diferente. Quando um dia entendermos que todos temos o direito à diferença, mas aos mesmos direitos; quando um dia se perceber que o direito à vida não advém de um conjunto postulados dogmáticos criados por um grupo de pessoas que se assumem como superiores, mas sim da própria realidade da existência pessoal materializada na pessoa; quando um dia, todos pudermos questionar – e tenhamos a coragem de questionar – aquilo que nos mandam ser e tivermos a coragem de prosseguir os nossos caminhos, aqueles a que a alma nos impulsiona; quando isso assim for, teremos ultrapassado o objectivo da Humanidade: ser humano.
Até lá, com o passado, deve-se aprender e, com o Presente, construir melhor para o Futuro…
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