Eu não sou fã da Fórmula 1…
O que conheço deste desporto deve ser o que qualquer pessoa, mais ou menos, informada conhece: as manchetes que fazem os media. Gosto, contudo, de automóveis e de velocidade e – talvez – isso pode tornar-me mais atento a este tipo de desporto, ainda que não me torne um fã ou um conhecedor.
Sei, por exemplo, que Lewis Hamilton é o grande nome do momento – e já o é há uns anos – e que a Mercedes é a marca campeã. E sei, também, que o bólide do campeão é da marca campeã; como não podia deixar de ser…
Mas o que me faz falar disto não é tanto o desporto em si ou as marcas; e, muito menos, qualquer discussão mais acelerada que se trave acerca dos Grandes Prémios ou dos movimentos deste ou daquele piloto… E digo isto, porque estou certo que à semelhança de tantos outros desportos, com maior ou menor tempo de antena, também neste teremos os habituais comentadores…
O que me fez trazer este assunto aqui foram aspectos mais emocionais e humanos; coisas subliminares e atitudes estranhas. E faço-o porque achei isto bizarro e – de alguma forma – fiquei em choque ao ver este tipo de episódios num campo que todos temos por isento, neutral e sem máscaras: o desporto.
Antes de lá ir, quero sublinhar que o desporto, ao longo dos tempos, tem sido apontado como o campo das sociedades humanas onde – de facto – valem os nossos atributos, os nossos talentos e onde é campeão quem tem condições para o ser; a naturalidade da meritocracia, por excelência. É claro que teremos de ignorar as condições pré-existentes aos atletas que, por si só, podem ser definitivas. Sabemos, por exemplo, que dois atletas similares podem ter taxas de sucesso completamente diferentes, bastando para tal que um beneficie de uma estrutura forte que o suporte e outro não. Contudo, todos acreditamos que, em idênticas circunstâncias, o sucesso do atleta depende única e exclusivamente de ele próprio.
Bom; afinal pode ser que não…
Lewis Hamilton não é uma figura consensual; parece-me. Tem sido alvo de muitas criticas de pessoas que colocam em causa as suas competências enquanto piloto, achando que a diferença, quem a faz, é o carro que conduz… Recentemente, essas criticas fizeram-no ir ao Twiter – salvo erro – onde ele discorre sobre a luta que travou para chegar a onde chegou; lembrando que começou nos karts, com um Kart fraquinho, e que o pai teve de o ajudar – com grande sacrifício – para comprar um melhor Kart e para ter melhores resultados. E termina com aquilo que me parece ser um argumento de peso: há um outro piloto com o mesmo carro e que não consegue ter os mesmos resultados que ele tem…
Como disse – logo no arranque – não sou fã nem conhecedor da Fórmula 1; sou um curioso. Por isso, achei toda esta polémica em torno de Lewis Hamilton – campeão em titulo – uma fortíssima dor de cotovelo, inveja e má-língua; afinal, o homem consegue fazer, com um carro idêntico ao do seu companheiro de equipa, melhores resultados. O que há de mais evidente do que isso em termos de competência na condução desportiva?
Contudo, eis que surge George Russell…
George Russell é um piloto inglês da Mercedes; segundo entendi, está à experiência. No entanto, enquanto Hamilton está ausente por COVID19, tem feito um brilharete. No GP de Sakhir, conduzindo – creio eu – o carro de Hamilton, estava prestes a vencer a sua primeira corrida, mas…
Oficialmente, houve um erro da box que fez com que Russell lá regressasse mais uma vez; e infelizmente, isso, tirou-o do pódio para um humilde 8º lugar.
Dizem os especialistas – não, eu – que George Russell teve um comportamento exemplar na pista; excelente. E eu acredito, porque na Fórmula 1 a competição é fortíssima e ninguém chega a almejar vencer uma corrida se não for bom… Portanto, Russell tem qualidades reconhecidas e só não ganhou porque a box cometeu um erro…
No entanto, independentemente das razões oficiais assumidas, eu não posso deixar de pensar nisto:
O Russell não é o Hamilton e o Russel iria vencer a corrida, como – provavelmente – a venceria o Hamilton se estivesse a correr; e no mesmo carro… Não sei se estão a perceber onde quero chegar…
E assim sendo, começou-se-me a enevoar esta mística de que no desporto, e aos olhos dos outros, valemos pelo que somos… Afinal, pode ser que assim não seja…
Por outro lado, pode mesmo ter existido um erro que tramou o Russell… Mas sejamos honestos; este erro deu muito jeito ao Hamilton – e, talvez, à Mercedes – que assim não viu desmontado, preto no branco, o seu grande argumento: há um outro piloto com o mesmo carro e que não consegue ter os mesmos resultados que ele tem…
Imagem de Klaus Dellerer por Pixabay