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Até que o Mediterrâneo se tinja de vermelho.

Até que o Mediterrâneo se tinja de vermelho.

Vêem como uma coisa complicada algo que é tão simples. Porque as dificuldades atribuídas ajudam a criar entraves que favorecem a manutenção do status quo, que é só um: NÃO QUEREM IMIGRANTES. Como a terrível imagem dos gregos a enxotarem um barco cheio para águas internacionais. Como não querem resolver, mas se livrarem dele, e como os custos para países com restrições financeiras é relativamente grande, assumem a postura alemã da senhora Merkel que pagou bilhões a Turquia para manter s emigrantes, e refugiados, em campos de concentração naquele país. Agora buscaram um acordo comum entre todos os países da União. E voltam a atirar dinheiro para cima do problema. Agora no varejo: 20.000 por cabeça.

Passada mais de uma década sobre o problema, com dezenas de milhares de morte nas águas do mar interior, com o repúdio à maioria dos que vieram, arriscando suas vidas, buscar a Europa, essa que nos lembra aquela que foi raptada pelo touro, que era Zeus transformado, levando-a para a Grécia. Europa colhia flores à beira-mar quando foi raptada, o mito se mantém, e os europeus acreditam que sua Europa será também raptada. A maior tragédia é que não conseguiram evoluir e confraternizar, continuam mitologicamente a confrontar.

Há exatos sete anos escrevia essa crônica, em 16 de Junho de 2017, e nada mudou. Mentalidades tacanhas. Aqui n’A Pátria o mais recente é o intitulado NÃO HOUVE UM.

O que se passa novamente no Mediterrâneo era previsível para quem tivesse dois dedos de testa, como dizem os portugueses com graça e exatidão, mas os decisores europeus confirmam sua testa baixa, no 18 do mês passado reafirmava a falência da política europeia, fazendo um apanhado de tudo que já havia escrito em torno das fotos que ganharam o Pulitzer que então se publicavam, parece que não satisfeitos com o horror destas, lançam as bases para que outra coletânea de fotos tão  horrorosas  quanto importantes se candidatem novamente ao Pulitzer este ano, falta-lhes mesmo juízo; eis o link. ao qual junto outro que escrevi entre os dois anos:  http://hdocoutto.blogspot.pt/2016/04/nada-justifica-o-que-se-continua-passar.html, e http://hdocoutto.blogspot.pt/2016/04/lembrem-se-eles-sao-seres-humanos.html

Agora sou obrigado a retomar o assunto porque a insanidade perdura, e as vergonhas europeias continuam dependuradas em Indomene, para me repetir, e os ‘líderes europeus’ (líderes seus não meus) que também se repetem em seu imobilismo, imobilizados deixam que a sangueira continue. Até que o Mediterrâneo se tinja de vermelho.

Que mais se pode dizer de tanta tolice junta? Que não é tolice, é algo que ultrapassa esse estágio, e que tem uma razão de ser. Atende por muitos nomes, sendo o principal deles MEDO, a  inconsequência e a estupidez filha do medo são capazes de ação poderosa, pois que esse medo existe em várias vertentes, desde a que acredita que a situação pode se tornar insustentável (já o é em certos moldes) nos que eles acreditam são outros, mas se tornar insustentável para sua medidas europeias, até o medo político de se verem ultrapassados por partidos xenófobos ultra-radicais  de direita, que atuam no terreno da irracionalidade dos cidadãos que temem o terrorismo, temem perder seus postos de trabalho, temem a degradação da sua sociedade, conquistada com o fruto de seu trabalho, e dos que lhes antecederam, seus pais, seus companheiros de sindicato. MEDO real, admissível, que bem explorado dá bons dividendos eleitorais, e, querendo estancar essa ferida aberta em suas fileiras partidárias, os outros, para que seus partidos não percam mais votos, alinham nessas ideias absurdas, inumanas, contra os tratados internacionais, que nada mais fazem que enfraquecer seus colaboradores, porque não as defendem ostensivamente, mas colaboram com elas com o silêncio ou o acordo tácito, em virtude do MEDO.

Existe uma velha história que conta que aquele que aceitou que fizessem a seus próximos coisas que não o afetavam diretamente, porque nada faziam a si, nem aos seus, veio a encontrar seu turno, porque tudo excede, quando não coibido desde início, torna-se incontrolável; é de pequenino que se torce o pepino, ensina a sabedoria popular. Quando Churchill se lançou contra Hitler, não lhe admitindo concessões, desde  muito no começo da expansão territorial da Alemanha Nazi, querendo desde logo opor-se-lhe, e pregou num deserto de homens medrosos que não viam o que viria à seguir, tinha essa visão, antevisão, daqueles que contradizem a tal velha história, por se importarem mesmo quando não se passa consigo ou com os seus a situação gravosa, sabendo que mais tarde ou mais cedo, o que bate em seu vizinho baterá em si, ou como quer  a sabedoria popular, sempre a sabedoria do povo, pau que dá em Pedro também dá em Mané. E que mesmo que você não se chame Pedro ou Manuel, mais cedo ou tarde ele lhe virá no lombo, portanto é preciso cuidar. Mas não há Churchill hoje, mas há Hitlers, o Daesh o prova, e é preciso atenção, é preciso cuidado.

Tivesse qualquer país europeu desses vinte e oito que se juntaram, até o Brexit este é o número, tivesse um dos mais poderosos, ou dos mais pequeninos, um líder do calibre de um Churchill, ainda que na oposição, um líder do calibre de um Mandela, e não se estaria a passar o que se está passando pela enézima vez no Mediterrâneo, nesse período da terceira grande travessia da vaga humana dos perseguidos, acossados, malbaratados, assassinados se lá ficarem, portanto REFUGIADOS, que atravessam o mar interior que os separa da esperança, a qualquer custo, sem ver os perigos, porque os que têm detrás de si são bem maiores, e arriscam tudo na busca dessa esperança, vergonhosamente falsa esperança por culpa desses ‘líderes’. Os que arriscam tudo o que têm para arriscar, suas vidas, mais que tudo, que oferecem em holocausto, oblatas face da covardia dos que deveriam decidir contra o medo e a estupidez que se generalizou.

=> => => É tão atual o artigo quanto a estupidez que me motivou escrevê-lo.

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