EnglishFrenchGermanItalianPortugueseSpanish
EnglishFrenchGermanItalianPortugueseSpanish

A VITÓRIA DA GELÉIA GERAL, DÍSPAR MAS NÃO DISPARATADA.

A VITÓRIA DA GELÉIA GERAL, DÍSPAR MAS NÃO DISPARATADA.

                              BUSCAM-SE NOVAS E DIVERSAS RESPOSTAS PARA
                              SIGNIFICANTES, NOVAS E DIFERENTES QUESTÕES.

VAI POR TODA PARTE. INFECTA TUDO, COMO PANDEMIA. – A falta de ideologia, que campeia pelo mundo fora, que é hoje, antes de mais, uma falta de sentido de pertença, ou é outra e nova pertença, se preferirem, sobretudo a de ‘despertencer’, se é que existe tal coisa, afastando-nos das posições que tínhamos quando as pessoas eram de esquerda, ou direita, ou de centro, ou das zonas intermediárias; se agrupando em torno dos blocos que então se formavam consoante as reivindicações do momento, formando tendências: de direita, de esquerda, de centro-direita, ou de centro esquerda, que por sua falta, agora, lançou o Mundo na Geleia Geral, esse tempo de expiação.

Geleia Geral.

É a expressão brasileira utilizada para traduzir o sentimento de confusão indiscriminada, quando as diversas tendências não são claras, e estabelece-se uma permeabilidade entre elas, e há, e não há, ajuntamento entre as diversas facções em disputa, criando a grande mistura, na qual não conseguimos identificar as partes que a conformam, e logo temos a grande indefinição de posições, a dita Geleia Geral.

Fenômeno Mundial.

                        Há pessoas circunspectas, e outras muito alegres;
                        há os que gostam de festa, e os que não sabem dançar.

Vemos em todo o Mundo uma indeterminação de posições, e às que eventualmente as assumem, propõem logo sua subsequente radicalização, porque as pessoas se apegam ao que têm, ocorrendo por um lado o extremar de tendências, e por outro confundirem-se sentimentos e possibilidades, bem como as mentiras que se generalizaram, fazendo-se passar por verdades. Orquestrada a radicalização pelo puxar das extremidades, onde surgem blocos com seus lictores de um lado, tendo os ‘revolucionários’ no outro. Em ambas as posições voltam as posturas fasces e anarcas, ambas com a sedução do desconhecido, que o são novamente, trazendo os perigos do terrorismo e das violências de toda ordem. Esse fenômeno vem à tona, antes de mais, criado por um processo antiglobalização, que em todos os sentidos é mais que tudo uma reação à mudança da perspectiva geral (Nacional, nacionalista, mesmo patriótica, e setorizada, como era, e que se expressava com a criação de trabalho, postos de emprego, e promessas de melhoria econômica e social, cada qual por sua via.) a que era até então reinante, com circunstanciais manifestações esporádicas, que foram todas dissolvidas na instabilidade geral, que passou a ser a marca dos novos, atuais, tempos, e que perdurará até que se encontre um meio de conciliar as formas de entendimento dos sentimentos díspares que dividem a sociedade (Nascidos estes da falta de apetência pelo desconhecido, articulada com o receio do imprevisto.). O capitalismo deixou de ser capitalismo para ser pura ganância, as medidas de desenvolvimento deixaram de ser medidas para serem pura selvageria por um lado, e assistencialismo do outro.

Capitalismo selvagem e assistencialismo.

Duas ocorrências que institucionalizadas trazem consigo justíssimos descontentamentos e variadas correntes de oposição em ambos os lados, direito e esquerdo se quiserem, uma vez que é tão dissonante haver um capitalismo selvagem, onde falta a letra da Lei que o coíba e discipline, como haver necessidade de apoios e assistência à inúmeros sectores, onde sobra a letra da Lei para os defender das ameaças resultantes do processo econômico que os lança em cheio no caldeirão das liberalidades, e que conjumina e valoriza as ações do ‘progresso’ tecno-científico, em detrimento das ações mecânicas, ambas realidades que nunca deixarão de existir, e que irão carecer sempre de equilíbrio e regulação, funções que competem ao Estado, que por temor do desconhecido vem há muito só fazendo remendos por toda parte. Porque se não mais podemos, nem queremos, dispensar as medidas e soluções que a tecnologia nos oferece, com os fabulosos progressos da ciência, também não é possível remediar a imensa quantidade de mão-de-obra mister à manutenção da vida (desde a agricultura às limpezas, por exemplo) sendo necessário estabelecer um equilíbrio, sobretudo remuneratório, a ambas as necessidades. Os fenômenos da globalização, com os desequilíbrios que geraram, e a falta de respostas, ou a má resposta, propiciam cada vez mais a desestruturação social (*) e a Geleia Geral, com a confusão de posições, posturas e sentimentos, criando comportamentos abstrusos, ou, portando-se insensivelmente, na falta deles. Afetados pela enchente, ou se preferirem, como se diz agora, pelo ‘tsunami’, das alterações sociais criadas com o ‘Brave New World’ sem nenhuma lógica ou distopia ‘Huxleyana’, mas vivendo intensamente a utopia de nossos tempos, que espalhou-se, espalharam-se, por toda parte sem encontrar resposta sociopolítica que as normalizem, e normativizem.

(*) Como por exemplo a cantou Ulrich von Hutten em sua despedida da Roma de Leão X, onde reune numa mesma estrofe: bufões, prostitutas, procuradores, prostitutos, arautos, os odiosos, bem como estrupradores, perjuros, ladrões, sacrílegos e incestuosos.

Transição intransitiva.

Dentre as anomalias, que formaram as anormalidades, que de um jeito ou de outro se generalizaram em nossos dias, onde a mais concêntrica é a política, com a ação de suas políticas as querendo regular, e revelando o retorno de inúmeras antigas tendências nessa área, as quais foram buscar como pretendida resposta, e que a nada respondem, só aumentam o Caos, com o retorno às muitas escabrosidades já ultrapassadas historicamente, numa busca de atravessar este Rubicão intransitivo apenas com as possibilidades que conhecem. Ledo engano, e maior equívoco. Só o que desconhecemos poderá ser resposta ao que ainda não perguntamos.

Conhecer do Novo.

Diz um antigo provérbio galego “Não pelejes pelo novo, que o velho já o tens.” Posição e lógica de um tempo e de um mundo onde já havíamos encontrado ‘todas’ as respostas. Hoje estamos na diametral oposta, do outro lado do círculo que é a secção de qualquer fatia do planeta que habitamos, redondo que é, e nos faz voltar sempre ao ponto de partida. Hoje só o ‘Novo’ nos poderá oferecer respostas aos nossos problemas. Entretanto como ao ‘Novo’ não se conhece ainda, as muitas possibilidades que surjam, novas todas elas, serão sucessivos experimentalismos na busca de uma solução. Os sistemas sociais e políticos já não respondem às múltiplas exigências para acomodar tantos interesses, e tão díspares, que, se por um lado abrem as portas a gente que honesta e denodadamente busca soluções, as abre também aos oportunistas e falsos profetas, arautos de medidas que se oferecem como passavantes mensageiros das necessárias opções que devemos e deveremos tomar, mesmo que ainda não saibamos quais.

Universo incriado.

Tendo começado o tempo do ‘Novo’ sem que bem tenhamos noção do que nos traz, nem como vamos organizar, a ele e a nós, na busca de estabelecer ordem, a Nova Ordem, condição mister para a existência de todos, cada um em sua posição/função, promovendo estabilidade e segurança geral, vivemos portanto estes tempos de instabilidade tão propícios a ação de oportunistas, e de pungentes clamores pela ordem passada, postergando o ainda inusitado, que há de vir, que terá de vir, como única possível resposta ao ‘Novo’, destarte “incriamos” o Universo, o que é na verdade o estabelecimento do Caos. De tal forma essa ação é despropositada, que apesar de existir o termo incriado, não existe o verbo incriar, por clara impossibilidade nossa, posto que seria como pulverizar um agente corrosivo para que dissolvesse e fizesse desaparecer tudo o que conhecemos, para assim dar espaço ao ‘Novo’ que desconhecemos. Portanto, deste modo, todos os deuses podem ser invocados.

Entrementes vence a Geleia Geral, toma forma disforme, assim o é, e ocupa os espaços (a vida tem horror ao vazio) o que sendo desforme, leva muitas vezes a aberrações, a buscas religiosas, a aventuras filosóficas, e a uma moralidade escusa, fruto dessa desordem obscura na qual fomos mergulhados, por termos gerado o novo Mundo Novo muito rapidamente, sem dar tempo a que o pudéssemos interpretar e criar os instrumentos misteres a lidarmos com ele, primeiro conceptualmente, e logo a seguir politicamente. E àquilo que se desconhece o conceito, ainda que em abstrato, se desconhece totalmente. Vagueamos em incertezas. Naufragaremos em retóricas?

Vivemos portanto um tempo sem política, sem ordem, sem direção, e sem rumo – espaço para todas as experimentações. Sem Princípio e sem princípios, que, para muitos, os que sejam um pouco mais fanáticos, é um tempo sem Deus.

Imagem de capa: Domínio público, de Joel santana Joelfotos por Pixabay 

Descarregar artigo em PDF:

Download PDF

Partilhar este artigo:

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on email
Email

TAGS

LOGIN

REGISTAR

[wpuf_profile type="registration" id="5754"]