A avó
(Telefone chamando).
– Alô, mãe? Tudo bem com a senhora?
– Tudo, filha.
– Mãe, me faz um favor? Dorme aqui com a gente esta noite? Preciso que alguém fique com o Luquinha até a hora da Dayse chegar amanhã.
– Hoje à noite?! Não posso, filha.
– Por que? Aconteceu alguma coisa?
– Então, uma colega da hidro me chamou para passar o fim de semana na chácara dela e eu vim.
– Hum, que chique!!
– Você tinha que ter me avisado antes.
– Eu sei, mãe, mas foi tanta correria, que eu terminei esquecendo. E como a senhora nunca sai de casa, nem me preocupei.
– Não saía, minha filha, agora pode ir se acostumando (risos).
– Ai, ai.
– Mas por que você precisava de mim?
– Amanhã é a minha viagem, tá lembrada?
– Claro! Sua lua de mel antecipada.
– Pois é, minha lua de mel antecipada. A Dayse vai cuidar do Luquinha nos dias em que eu estiver fora, mas amanhã o embarque é muito cedo… Deixa, mãe, eu peço para a Dayse chegar mais cedo ou dormir aqui, sem problema. Curte aí o passeio, sua assanhada!
– Você faz uma lua de mel antecipada e a assanhada sou eu, agora eu vi!
– Beijo, mamãe.
– Beijo, querida. Manda fotos da viagem.
– Pode deixar.
(Desliga telefone)
A empregada
– Dayse, dá um pulinho aqui, por favor?
– Oi?
– Dayse, amada, preciso de um favorzinho seu. Minha mãe está viajando e não vai poder ficar com o Luquinha amanhã até você chegar. Como você prefere fazer, quer dormir aqui já esta noite ou chegar mais cedo amanhã?
– Não entendi, dona Patrícia.
– Tá lembrada que o meu voo é às seis da manhã e eu tenho que chegar antes para despachar a bagagem? Acho melhor você dormir aqui, assim não corro o risco de me atrasar.
– Dona Patrícia, eu não posso dormir aqui esta noite. O combinado foi que eu dormisse a partir de amanhã, quando o Enzo fosse para a casa da avó. Eu ainda avisei à senhora que amanhã eu só venho depois que o ônibus dele sair.
– Putz! Ainda mais essa! Vamos pensar com calma. Traz o Enzo para dormir aqui e daqui você leva ele. Pode ser?
– Não pode ser. Eu tenho prova hoje à noite na escola e não posso perder.
– Vem depois da prova, então!
– A aula termina quase onze, dá tempo não. E eu ainda tenho que terminar de arrumar as coisinhas do Enzo, fazer um lanche para ele levar, tem como não.
– Entendo. Faz assim, chega mais cedo, então. Se você chegar aqui até umas cinco e quinze, mais ou menos, eu acho que dá tempo tranquilo.
– Desculpa, dona Patrícia, mas eu não tenho como chegar aqui a essa hora, ainda mais carregando o Enzo e as coisas dele.
– E por que não, Dayse? Me ajuda, vai?
– Eu moro longe, dona Patrícia, é mais de hora e meia daqui. E de casa até o ponto é vinte minutos de caminhada. Para eu chegar aqui às cinco, tenho que pegar o ônibus das três. Dá não, muito perigoso! Lá onde eu moro tem muito ladrão.
– Se fosse para ir para farra não era perigoso, né?
– Oi?? E eu lá sou de farra, dona Patrícia? Sou mãe solteira, trabalho o dia todo, estudo de noite. Quisera eu ter tempo de farrear, ai, ai!
– Desculpa. E como é que eu vou fazer, mulher?
– Fala com a mãe daquele menino da escola.
– A Alice? Boa! Vou ligar para ela.
A mãe do amiguinho
(Telefone chamando).
– Alô, Alice, tudo bem? Sou eu, Patrícia, mãe do Luca. Como é que está o Daniel?
– Oi, Patrícia, como vai? Daniel está ótimo, animadíssimo com as férias. E o Luca?
– Luquinha tá ótimo. Sou que estou precisando de um imenso favor seu. Será que o Luquinha poderia dormir na sua casa esta noite? Eu viajo amanhã cedo e não tenho com quem deixar ele no início da manhã.
– Puxa vida, Patrícia, não vai dar, estamos de saída. Eu matei o trabalho para viajarmos mais cedo e fugir do trânsito, sabe?
– Claro! Férias é assim mesmo, o último a sair que apague a luz.
– Desculpa não poder ajudar.
– Imagina, não se preocupe, eu dou um jeito aqui, pode deixar. Boas férias para vocês. Beijinho no Dani.
– Um beijo no Luquinha também.
(Desliga telefone)
O pai da criança
(Telefone chamando)
– Maurício, sou eu. Preciso que você fique com o Luca esta noite.
– Oi, Patrícia. O que houve?
– Nada. É que eu vou viajar amanhã cedo com o Leonardo, meu namorado, você conhece?
– Nem quero.
– Enfim… nós embarcamos amanhã cedinho para a praia e não tem quem fique com o Luquinha enquanto a Dayse não chega.
– Deu ruim! Tô na cidade não.
– Tá na cidade não? E tá onde?
– Nos meus pais.
– Puta merda!
– Chama a sua mãe.
– Viajando.
– E a Dayse?
– Não pode no horário que eu preciso.
– Ixi, lascou! Vai ter que levar o moleque contigo. Namorado vai ficar feliz (risos).
– Babaca!
– Eu também te amo.
(Bate telefone).
O namorado
(telefone chamando)
– Amor, tudo bem?
– Oi, gatinha! E aí, tudo certo para amanhã?
– Então, foi por isso mesmo que eu te liguei. Eu terminei esquecendo de falar com a minha mãe sobre hoje à noite, ela viajou, a Dayse não pode ficar, a mãe do Daniel está viajando, o pai do Luca também…
– Resumindo, já era!
– Não, Deus me livre!!! Tudo pago, passagem, hotel caríssimo. Já era, nada!
– Então, o quê? – O que restou: levar o Luca!
– Levar o Luca?!
– Não tem outro jeito…
– Assim de última hora?!
– Fica tranquilo que eu já providenciei tudo. Comprei uma passagem pagável em dez vezes, até já arrumei as coisinhas dele. Só falta mesmo reservar um quarto triplo em lugar da suíte de casal. Tem como?
– Quarto triplo em hotel child free ? Você fez questão que o hotel não aceitasse crianças, esqueceu? Lua de mel, clima romântico, sossego…
(Silêncio).
– Patrícia, você está aí?




Uma resposta
muito bom!