Esta semana não tenho grande coisa a dizer…
A não ser que estamos viciados no controlo dos outros.
Já repararam na quantidade de funções que há no mundo cujo objectivo é controlar o que outros fazem?
Não é controlar por controlar; é controlar para se saber se a coisa é feito da maneira correta. Contudo, quantas vezes não é a «maneira correta» que está errada?
Dirão que existem regras para se fazer as coisas, ética e deontologia, etc., e que é preciso que alguém garanta que as coisas se passam como se deviam passar. Todavia, como conseguiremos ter garantias de que esses que fazem o controlo, por sua vez, cumprem com o que é necessário para controlar bem?
Talvez colocando alguém a controlar o trabalho desse controlador… Mas… E quanto a estes últimos; quem os controlará a eles?
Estão a ver a onde quero chegar?
As coisas chegaram a um tal ponto – parafraseando alguém de quem agora não me recorda o nome – que se Deus descesse à Terra e dissesse que era Deus, provasse que era Deus – sei lá – criando uma montanha – logo ali -, seriam criadas não sei quantas equipas multidisciplinares para garantir, certificar, que Deus era Deus e aquela montanha era uma obra divina.
As coisas são como são e a verdade é como é: a humanidade não confia em si própria e como tal tenta controlar tudo aquilo que pode; tenta garantir que não há grandes desvios ao padrão…
Mas será mesmo assim?
Será mesmo a humanidade que pensa assim; ou será que foram alguns indivíduos dotados de influência e poder que nos foram manipulando desta forma, fazendo-nos sentir que controlar é necessário e imprescindível?
Seja como for, hoje, quando alguma coisa corre de forma distinta do esperado – entenda-se, como o desejado – formam-se logo taskforces, equipas de controlo; tudo para saber o que correu mal para que de futuro corra melhor. E, visto assim, nada parece errado… No entanto, por vezes, as coisas correm mal porque se perdeu demasiado tempo a controlar e porque, para passar nos controlos, tiveram de se fazer concessões na segurança, até porque, nas regras do projecto, ninguém dizia que essas concessões não poderiam ser feitas, etc. etc. etc…
Eu não sei…. Este assunto é muito complicado e – estou certo – vocês já o conseguiram encaixar em não sei quantas situações que conhecem…
O que eu sei é que um agricultor deita a semente à terra, rega-a, protege-a das ervas daninhas e dos pássaros, e aguarda que a planta nasça, cresça e, então, colhe-a ou deixa-a dar frutos; e que um pescador lança o anzol ao mar, ou ao rio, e espera que o peixe morda… Nenhum deles tem uma ficha de controlo para avaliar os pássaros que apareceram, os dias de chuva, a ondulação no rio ou a salinidade do mar. Os processos, todos eles, são simples, e se todos nós fizéssemos a nossa parte – como o agricultor ou o pescador – sem estar preocupado com os olhos por cima dos nossos ombros, sem ter que prestar contas ou explicar porque usámos a caneta azul – e não preta -, conseguiríamos fazer o que tem de ser feito; mais depressa e melhor.
Dirão que o Agricultor falhará se não fizer tudo aquilo; e o pescador, também. É verdade. Mas eles sabem do seu trabalho e não precisam que lhes digam o que fazer…
A necessidade de controlar nasceu da desconfiança, e a desconfiança nasceu de maus profissionais, e os maus profissionais nasceram da crise de talentos, do desnorte que na última metade do séc. XX nos atingiu a todos, querendo todos ser algo que – talvez – não pudéssemos ser. Assim, muitos profissionais entraram no ramo errado e tornaram-se medíocres na sua função; e essa mediocridade cresceu na medida da urgência com que tudo passou a ser feito…
Sempre ouvi: depressa e bem não há quem. Quem não tem o tempo adequado para fazer o que precisa ser feito, por muito excepcional que seja, falhará nalgum aspecto; e é certo que alguém – da imensidão de controladores – estará lá para o apanhar. Às vezes, sinto que as coisas estão feitas para aumentar a probabilidade de se encontrar falhas, para justificar a existência dos controladores e para – qui ça – implementar a necessidade de mais controlar. Mas porquê?
Não sei… Talvez queiram que a humanidade – enquanto um todo – se sinta fragilizada, incapaz, incompetente e, nesse estado de espírito, receando fazer mal, se entregue sem pestanejar ao controlo total e se viva numa espécie de renovação da mensagem bíblica: “perdoai-lhes, senhor; eles não sabem o que fazem!”
Mas como disse, ao princípio, não tenho muito mais a dizer… Há muito ruído no mundo, muitas imagens, muitos sons, muitos desejos, muitos sonhos, muito querer e pouco fazer… Às vezes, acho que precisamos todos de parar um pouco, escutar o silêncio, observar o que nos rodeia como se a isso não pertencêssemos… Talvez, assim, conseguíssemos perceber – de uma vez – o que andamos cá a fazer.
Imagem de Aloísio Costa Latgé ACL por Pixabay