Resumo
O Plano de Internacionalização da Saúde 2025, promovido pelo Health Cluster Portugal (HCP), visa posicionar Portugal como um ator relevante no mercado global da saúde. Este artigo de opinião analisa criticamente os objetivos, estratégias e limitações do plano, com base em uma revisão de literatura recente e análise qualitativa de eventos e iniciativas. Argumenta-se que, embora o país tenha potencial, enfrenta desafios estruturais que podem comprometer a eficácia de sua internacionalização.
Palavras-chave: Internacionalização da Saúde, Health Cluster Portugal, Competitividade Global, Exportação de Serviços de Saúde, Diplomacia Sanitária, Inovação em Saúde, Portugal 2025.
Introdução
A saúde é, cada vez mais, um setor estratégico na economia global. Com o envelhecimento populacional, a digitalização dos cuidados e a crescente mobilidade de clientes e profissionais, os países procuram não apenas garantir sistemas de saúde sustentáveis, mas também exportar conhecimento, tecnologia e serviços. Portugal, através do Plano de Internacionalização da Saúde 2025, pretende afirmar-se neste cenário. No entanto, será que o país está verdadeiramente preparado para competir com gigantes como Alemanha, Índia ou Coreia do Sul, quando se trata de exportação de serviços de saúde? Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre a viabilidade do plano e os desafios que o país enfrenta.
Revisão de Literatura
A literatura sobre internacionalização da saúde destaca três pilares essenciais para o sucesso da exportação de serviços: capacidade de inovação, reputação institucional e redes de cooperação internacional (Lunt et al., 2011; OECD, 2023). No caso português, estudos recentes destacam avanços na digitalização e na investigação biomédica, mas também alertam para a fragmentação do ecossistema e a escassez de investimento privado (Amado et al., 2024).
O relatório da OCDE (2023) sobre sistemas de saúde resilientes sublinha que a exportação de serviços de saúde exige não apenas qualidade clínica, mas também branding nacional, certificações internacionais e diplomacia sanitária ativa. Portugal tem dado passos neste sentido, mas ainda carece de uma estratégia integrada e sustentada.
Metodologia
Este artigo baseia-se em uma análise qualitativa de fontes secundárias, incluindo:
- Documentos oficiais do Health Cluster Portugal (2024–2025)
- Cobertura de eventos como o Portugal Health Summit 2025 e Arab Health 2025
- Artigos e relatórios da OCDE e da OMS
- Entrevistas com stakeholders do setor da saúde
A abordagem crítica adotada visa identificar não apenas os méritos do plano, mas também os seus pontos cegos e riscos estratégicos.
Discussão
1. Ambição Justificada, Execução Incerta
O plano de internacionalização propõe aumentar a presença de empresas portuguesas nos mercados globalmente competitivos, como o Médio Oriente e Ásia. A participação em eventos estratégicos é um passo positivo, mas resta saber se as empresas portuguesas terão a capacidade de competir com as grandes potências do setor da saúde. O investimento em infraestruturas, pesquisa e desenvolvimento é crucial para garantir que os produtos e serviços de saúde portugueses sejam competitivos a nível global. A falta de uma marca nacional sólida e de uma estratégia de comunicação eficaz pode ser um obstáculo significativo para o sucesso da internacionalização.
Portanto, enquanto a ambição do plano é legítima, a execução e a capacidade de adaptabilidade dos atores envolvidos são questões críticas que precisam ser abordadas com urgência para evitar uma estagnação nas ambições de Portugal no cenário internacional.
2. Oportunidades no Médio Oriente
O Médio Oriente surge como um mercado promissor para a exportação de soluções de saúde, com uma taxa de crescimento de 12% ao ano. Países como os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita estão investindo significativamente em infraestrutura e tecnologia, áreas nas quais Portugal pode contribuir, especialmente em telemedicina e dispositivos médicos.
Portugal já demonstrou competência em áreas como saúde digital e inovação tecnológica, com exemplos de sucesso em startups de saúde e projetos de investigação biomédica. Para tirar pleno proveito destas oportunidades, é fundamental fortalecer as redes de cooperação internacional e a presença de empresas portuguesas em eventos como Arab Health, onde a saúde digital e as soluções inovadoras têm um enorme potencial de crescimento.
O Médio Oriente, com seu forte foco em modernização e inovação, oferece um terreno fértil para Portugal estabelecer parcerias estratégicas e exportar suas soluções de saúde. No entanto, a concorrência com países como os EUA, Alemanha e Reino Unido, que já são líderes na área, exige um planeamento estratégico e investimentos substanciais para posicionar Portugal como uma alternativa atraente.
3. Inovação e Branding: os Trunfos Portugueses
Portugal tem uma base sólida em inovação, especialmente na área da pesquisa biomédica e digitalização da saúde, com iniciativas notáveis como o Portugal Healthcare Innovation Summit 2024. No entanto, a marca “Health Portugal” ainda não é amplamente reconhecida fora da Europa, o que representa um desafio significativo para a promoção internacional. A criação de uma identidade forte e confiável é essencial para competir com países que já têm tradição na exportação de saúde, como a Alemanha (via Siemens Healthineers) ou a Índia (com seus hospitais acreditados internacionalmente).
A inovação deve ser vista não apenas como a criação de novas tecnologias, mas também como a introdução de soluções sustentáveis e acessíveis para as necessidades globais de saúde. A exportação de saúde deve ser acompanhada por uma estratégia de marketing e comunicação eficaz, que enfatize o know-how e a qualidade dos serviços e produtos portugueses.
4. Desafios Estruturais Persistem
Apesar do entusiasmo institucional, persistem desafios como a fragmentação do setor e a falta de investimento privado. O país também enfrenta desafios regulatórios e de diplomacia sanitária, o que dificulta a entrada de empresas portuguesas nos mercados internacionais. A falta de uma coordenação eficaz entre os diversos atores envolvidos na internacionalização da saúde é uma das barreiras mais significativas.
A implementação de uma política pública integrada, que reúna esforços de diferentes partes do governo, empresas e instituições de ensino, é fundamental para superar estes obstáculos. Além disto, a criação de incentivos fiscais e apoio a investimentos privados são necessários para fortalecer a infraestrutura do setor da saúde e impulsionar a internacionalização de empresas de saúde portuguesas.
5. Eventos Estratégicos: Uma Ferramenta Importante
Eventos como o Portugal Health Summit têm sido cruciais para promover o debate sobre o futuro da saúde em Portugal. A presença de líderes como Carlos Cortes (Ordem dos Médicos) e Maria de Belém Roseira (ex-Ministra da Saúde) reforça a legitimidade do plano. No entanto, é necessário que essas iniciativas se traduzam em ações concretas e mensuráveis. As parcerias formadas em eventos internacionais devem ser acompanhadas de políticas de longo prazo que assegurem a continuidade dos projetos e o acompanhamento da execução das propostas discutidas.
Conclusão
Portugal tem o potencial para ser um player relevante no mercado global da saúde, mas ainda enfrenta desafios consideráveis. O Plano de Internacionalização da Saúde 2025 é um passo importante, mas precisa ser acompanhado por reformas estruturais, mais investimentos e uma diplomacia sanitária ativa. Para competir globalmente, o país precisa melhorar sua capacidade de execução e fortalecer sua marca internacional.
A internacionalização da saúde portuguesa depende não apenas do desenvolvimento de competências tecnológicas e científicas, mas também de uma estratégia bem estruturada que envolva todos os stakeholders, além de uma mudança na perceção e na visibilidade internacional da marca “Health Portugal”. O sucesso dependerá da habilidade do país em superar as barreiras estruturais e fazer valer as capacidades inovadoras no cenário global.
Referências Bibliográficas
Amado, M. et al. (2024). Health, Science and Wellness Consulting Report. EY Portugal.
Health Cluster Portugal. (2024). Plano de Internacionalização 2025.
Lusíadas Saúde. (2025). Portugal Health Summit 2025: Futuro da Saúde em Debate.
OCDE. (2023). Resilient Health Systems: Learning from the COVID-19 Crisis.
AICIB. (2024). Portugal Healthcare Innovation Summit.
WHO. (2024). Global Health and Export Strategies Report.
Lunt, N. et al. (2011). Medical Tourism: Treatments, Markets and Health System Implications. OECD
Publishing.
Imagem de destaque retirada de: https://www.healthclusterportugal.pt/static/site/images/hcp/hcp_og_image.png



