O Brasil passa por um momento difícil de crise social, econômica e política em que além da pandemia da Covid-19, os pólos antagonistas se inflamam e buscam o combate, ambos em defesa da democracia. Essa dicotomia e a aparente convergência de pauta (democracia) demonstram que os opostos se atraem, nem que seja para a briga.
Em todo esse imbróglio um ser-humano vem a mente o brasileiro médio que não faz parte de nenhuma claque, se sente sozinho e busca entender o que está acontecendo. Esse brasileiro que é a maioria da população e que para ele pouco importa o que fazem politicamente, desde que não o impeçam de viver e de fazer isso dignamente.
O brasileiro médio não sabe o que fazer, em quem acreditar e para onde caminhar; Não sabe se acredita na mídia que informa e desinforma em proporções similares e aumenta a dissonância entre os Poderes e que garante os meios quaisquer para os fins que deseja; Não sabe se acredita no Presidente e em sua claque que vocifera contra quem não concorda com suas propostas e que para estes já possui o selo de comunista; Não sabe se concorda com o outro lado que afirma serem fascistas todos que não concordam com eles; Não sabe se acredita no Supremo Tribunal Federal que ultrapassa sua competência para atuar politicamente sugerindo novamente que os fins justificam os meios.
O brasileiro comum não sabe e quer poder viver e buscar seu meio de vida e, principalmente quer que a pandemia acabe para voltar a sua vida normal. É triste ver a população no meio desse balaio de gato de disputas políticas em que todo mundo está certo (a certeza é uma característica bem atual infelizmente), pois ninguém erra, errou ou errará e se você não acredita nisso das duas uma, ou você é comunista ou fascista!
A imposição da certeza e a ausência de qualquer possibilidade de contraditório caracterizam os antagonistas que tentam cooptar os brasileiros médios que não fazem questão de participar dessa loucura que virou a política nacional. O ser-humano é mais complexo do que a simples bifurcação, a divisão da humanidade em pólos antagônicos que se mostram faces da mesma moeda já traz consigo há tempos sinais de sua negatividade. O nós contra eles em que nós sempre estamos certos e eles sempre estão errados aprofunda todas as crises e dilemas existentes e que ainda estão por vir na história e na vida em comunidade.
No período das eleições presidenciais no Brasil escrevi um artigo chamado: Você está certo, desde que concorde comigo[1] que informava o ambiente eleitoral e a imposição de certeza existente há época. O que se passa atualmente é o aprofundamento da certeza, hoje é: se você não concorda comigo você é comunista ou fascista.
A história do Brasil se caracteriza pela existência das ameaças, a ameaça do comunismo, a ameaça do socialismo, a ameaça dos militares, a ameaça do fascismo. A verdade é que a história da humanidade está recheada de estórias e daí as narrativas prevalecentes nos contextos. Quando se cria uma perspectiva narrativa que viabiliza qualquer pensamento, a verdade e a realidade passam a ser abstratas, pois são visualizadas após a apresentação do prisma preferido.
Diante de tantas escolhas o brasileiro médio segue confuso e prostrado na esperança de que exista a possibilidade de viver de forma tranquila e digna e com a certeza de que não se interessam por ele. Enquanto isso, os que detêm os monopólios das certezas não fazem qualquer questão de tentar ver a realidade e a necessidade dos brasileiros e mantém a intenção de confundir e dividir.
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[1]https://apatria.org/politica/voce-esta-certo-desde-que-concorde-comigo/