Assim como o ano de 2023, provavelmente este 2024 também foi um ano encalacrado. Cadê o horizonte utópico? Cadê as propostas e alternativas no sentido de distribuir a riqueza, beneficiar a população pobre e preservar o meio ambiente? Por que ainda permitimos que grandes grupos de especuladores continuem lucrando com guerras, com armas, com pobreza e com degradação ambiental? No entanto, se terminamos 2023 com muitas notícias ruins, o ano de 2024 trouxe uma nova onda de rebelião popular.
Aqui estão algumas manchetes de 2024:
“Indígenas fazem protesto em frente ao Planalto [presidência brasileira] por demarcação de terras”. “Movimentos realizam manifestações em defesa da Amazônia”. “Em 2024, Amazônia teve o maior número de queimadas dos últimos 17 anos”. “Fogo na Amazônia se concentra em locais onde agronegócio avança”. “Queimadas na Amazônia: agro é o responsável, diz líder indígena [Alessandra Munduruku]”. “Agro é fogo: o negócio por trás das queimadas e a instituição do marco temporal”. “Nem pop, nem tech: os impactos do agronegócio na Amazônia”. “Marco temporal, ainda? Por que a tese segue ameaçando os povos [indígenas]?” “Marco Temporal: lideranças indígenas abandonam mesa de conciliação no STF”. “Ato em São Paulo alerta para crise climática e cobra ações efetivas de autoridades”. “Ato em SP conclama para medidas de mitigação da emergência climática”.
“No Brasil, impunidade e interesses econômicos matam defensores de direitos humanos”. “Manifestação pede saída do secretário de Segurança Pública de SP”. “Fim da escala 6×1: manifestantes fazem ato na Avenida Paulista [SP]”. “Avenida Paulista [SP] tem manifestação contra a escala 6×1”. “Manifestantes se reúnem em SP, Rio e BH contra escala de trabalho 6×1”. “Manifestantes ocupam audiência e protestam contra privatização na Educação em SP”. “Professores e estudantes protestam na B3 contra leilão de escolas em SP”. “Universidades e institutos federais de ensino superior mantêm greve”. “Entidades criticam PL do Ensino Médio antes de votação no Senado”. “Cerca de 2,4 mil famílias ocupam imóveis abandonados no centro do Rio”. “Pobreza extrema cai 40%, mas abismo para super-ricos aumenta no Brasil”.
“Declaração final do G20 exalta combate à fome, taxação de super-ricos e mudanças na governança global”. “Taxação dos super-ricos é aprovada em declaração de líderes do G20”. “Big techs promovem ‘merdificação’ da vida, dizem autores em mesa sobre IA”. “CEO da maior seguradora de saúde dos EUA é morto a tiros por homem mascarado em Manhattan”. “Procurados: cartazes com ameaças a CEOs da saúde são espalhados nos EUA”.
“Contra genocídio em Gaza, EUA assistem às maiores manifestações estudantis desde a Guerra do Vietnã”. “Mais de 200 manifestantes são presos em protestos pró-Palestina em Nova York”. “Milhares de manifestantes protestam contra primeiro-ministro de Israel na Capital dos EUA”. “Ativistas judeus são presos durante protesto contra guerra em Gaza em prédio do Congresso dos EUA”. “Universidades dos EUA têm protestos pró-Palestina”. “Trabalhadores paralisam 36 portos nos EUA na primeira greve em quase 50 anos”. “Greves nos portos impulsionam uma nova era de ativismo trabalhista nos EUA”.
“Milhares de pessoas vão às ruas em protestos contra a indicação do novo premier da França”. “Jogos de Paris: ativistas criticam proibição do hijab na França: esporte deve ser inclusivo”. “Sanções neocoloniais lideradas pela França afetam mulheres e camponeses do Níger, acusa ativista [Aminata Gado]”.
“Morte de imigrante negro [cabo-verdiano Odair Moreno Moniz] por policial em Portugal causa revolta”. “Lisboa tem depredação e carros incendiados após morte de imigrante africano”.
“Irã suspende implementação de nova ‘lei do hijab’ por temor de protestos”. “ONG denuncia prisão de mulher [Ahoo Daryaei] que teria se despido em protesto contra regime no Irã”. “Irã: as mulheres que se arriscam diariamente desafiando lei sobre véu”.
“Israel vira palco de protestos após descoberta de corpos de reféns em Gaza, e central sindical convoca greve geral”. “[Ativista] Greta Thunberg é presa na Dinamarca durante protesto contra guerra em Gaza”. “Tribunal Penal Internacional emite mandado de prisão contra Netanyahu”. “ONG Repórteres Sem Fronteiras diz que 54 jornalistas foram mortos em 2024, um terço por Israel”.
“Onda de protestos contra prisão de ativista [Oleg Orlov] se intensifica na Rússia”. “Putin: os ativistas russos que seguem arriscando suas vidas contra governo após morte de Navalny”. “Manifestações na Venezuela cobram resultado de eleições”. “Guerra em Mianmar: o ambicioso plano de comércio da China travado pelo conflito”. “Manifestantes voltam às ruas de Taiwan contra reformas que aumentam poder do Parlamento”.
“Milhares de pessoas na Síria celebram queda de Assad”. “Líder do grupo que tomou o poder na Síria convoca a população a celebrar o fim da ditadura Assad”.
“Moçambique volta a registrar protestos após eleição contestada”. “Moçambique vive onda de protestos após eleição contestada pela oposição”. “O desgaste da Frelimo após quase 50 anos no poder em Moçambique”. “Moçambique: Elvino Dias e Paulo Guambe foram assassinados [pelo regime da Frelimo]”. “Eleições 2024: [Plataforma] Decide pede intervenção da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos para anulação ou repetição das eleições [em Moçambique]”. “Despertámos do sono profundo que o autoritarismo nos causou, diz activista moçambicana Quitéria Guirengane”. “O blogger Mano Shottas é uma das dezenas de pessoas mortas nos protestos em contestação aos resultados eleitorais em Moçambique”.
Essa é uma pequena amostra das manchetes deste ano de 2024. Há muito para se lamentar, houve uma grande quantidade de violações dos direitos humanos no Brasil e no mundo.
Cadê a defesa efetiva dos direitos humanos por parte dos nossos governantes? Temos visto muita gente omissa, gente que participa dos governos mas não tem compromisso com a causa das pessoas mais vulneráveis, gente que diz defender minorias mas não tem coragem de enfrentar os interesses dos grandes grupos econômicos. Muito triste.
O Brasil continua rendido aos interesses do mercado financeiro e ao modelo econômico que escandalosamente concentra a riqueza nas mãos de poucos privilegiados. Continuamos com os juros reais mais altos e escandalosos, somos um dos países mais desiguais do mundo, a maior parte dos nossos trabalhadores está na informalidade e têm renda inferior ao salário mínimo, e nos últimos dez anos a nossa população em situação de rua cresceu dez vezes. Nenhum governante parece efetivamente disposto a combater este projeto cruel.
Há grandes especuladores do mercado financeiro que continuam lucrando com a exploração dos trabalhadores, com a pobreza, com a violação dos direitos humanos, com a degradação ambiental e com as guerras setoriais em diversas partes do mundo. No entanto, apesar da conjuntura desfavorável para a maior parte da população mundial, nem todos estão rendidos.
O ano de 2024 foi também um ano de muitas manifestações, greves e levantes. Esta onda de rebelião popular se voltou contra diversos autocratas, políticos, CEOs, grupos de especuladores, e contra os interesses privatistas e monopolistas. Não é possível dizer se os resultados serão totalmente positivos, mas com ela temos a esperança de buscar outras soluções, outras propostas e outras alternativas para além do receituário neoliberal.