Esses últimos dias foram de agitação no Twitter. Pela primeira vez um tweet de Donald Trump foi classificado com um label de possível informação falsa. Essa atitude por parte do Twitter foi seguida da reação de Donald Trump com a afirmação de que não iria tolerar quaisquer interferências na liberdade de expressão. E, que as alternativas à solução desse problema seriam alguma modificação na regulação referente às mídias sociais ou mesmo o fechamento dessas mídias. O mercado reagiu, as ações do Twitter caíram após a declaração de Trump, feita através do Twitter.
Mas a guerra não se encerra em um único episódio. Os protestos em Minneapolis por conta da morte de George Floyd foram a razão para um novo tweet do Presidente Donald Trump em que ele afirma: “when looting starts, shooting starts”, o que em tradução livre significa “quando os saques começam, o disparo começa”. Essa afirmação em um tweet, precedida da possibilidade de envio da Guarda Nacional, foi classificada pelo Twitter como incitação à violência, e, portanto, removida em virtude da infração das regras existentes nessa mídia social[1].
Para a compreensão dessa guerra, ou ao menos dessas batalhas iniciais, é preciso em primeiro lugar lembrar que essas plataformas têm natureza privada. Sim, uma grande parte de nosso círculo social se encontra nessas mídias, mas isso não significa que são obrigatórias ou mesmo que não podem ser criadas plataformas destinadas a um determinado público. Dito isso é preciso compreender que não há aqui respostas simples.
O Twitter, e as demais mídias sociais, tem uma caraterística diversa da mídia maisntream. Por certo, nesse novo conceito de mídia, cada um de nós é autor de sua própria história e de sua visão de mundo. Portanto, pensar nessas mídias sob o mesmo conceito de mídia tradicional não é factível. Ao mesmo tempo em que não é possível ignorar que o alcance, ante a velocidade e simplicidade tão características dessas novas mídias, não possa causar danos.
Imagine que um influenciador digital com milhões de seguidores afirme que é possível curar o Covid-19 com uma mistura de água morna e sal. Ou mesmo que se afirme em determinado país democrático que as eleições foram suspensas. Essas são situações em que o potencial ofensivo pode ser considerado elevado, e, portanto, rotulados como possíveis notícias falsas. O intuito, aqui, é o de informar. Com isso, não afirmo que cabe a essas mídias a verificação de todo o conteúdo em suas plataformas, nem tampouco que a liberdade de expressão deva ser violada.
O que trago aqui são reflexões. Antes de condenar as plataformas por suas políticas ou de afirmar que essas mesmas plataformas não devem realizar nenhum controlo sobre aquilo que é divulgado pelos usuários é preciso lembrar que mesmo quando se trata da mídia tradicional é possível, e desejável, correções a informações equivocadas. Desse modo qual a razão para que uma plataforma como o Twitter não tenha políticas de checagem, tendo em vista que a liberdade de expressão visa garantir um público informado. Ao mesmo tempo não devemos transformar tais plataformas em tribunais da verdade. Portanto há que existir um equilíbrio nessas ações, de fato as plataformas digitais precisam respeitar a liberdade de expressão ao mesmo tempo em que buscam a garantia de um público adequadamente informado.
[1] Disponível em: <https://www.theguardian.com/technology/2020/may/29/twitter-hides-donald-trump-tweet-glorifying-violence>. Acesso 29 mai 2020.
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