Eu sou uma casa escura, vazia
Em que o poema vem ter comigo
Enche-me de luz
E eu sendo assim como abrigo
Acolho-o, e ele faz-se, se traduz
Rebordo de um sentimento
Apresentação de uma possibilidade
Fazendo-se de momento
Infinita desigualdade
Manifestação absoluta
No meu eu coxo
Falto, incompleto
Que por breve instante
Torna-se repleto
Cheio de maravilha
Sinfonia que se manifesta
Alegria que fervilha
Fazendo de mim a festa
Regozijo de uma presença
Nessa alma que não presta
Que se faz perfeita e densa
E se pode querer destra
Uma coisa bem pequenina
Uma esperança que me resta
Que eu tenha uma novena
Em desejo que não cessa
De fazer-me uma empreitada
De poder fazer a festa
Com essa alma desajeitada
Alcançar cumprir a gesta.
Antológicas, página 124.