Sou poeta numa língua muito estranha
Uma língua rude e medonha
Em que pouca gente destreza tem
Caprichosa, desdenhosa, exigente
Que maltrata toda gente
E a poucos costuma querer bem.
Seu pouco alcance a arreliou
Por querer a todo mundo falar
Mas isso não a calou,
Quis sempre se expressar!
Tem sido minha desdita
Tem sido minha paixão
Sou prisioneiro da dita
E é minha libertação…
Abraça meio mundo, confusa
Gente negra, branca, mulata, cafuza
Com seu doce querer bem
Esquece em seu gesto nobre
Quem é rico, quem é pobre
Nunca exclui a ninguém.
Trama rica
Rica gama
Futrica,
Mente, engana
– Apostrofe
E barafunda.
Sempre pronta a confundir
Embaralha
Atrapalha
Minha língua de iludir.
Com tanto melindre, tanto detalhe
Com tanta riqueza e beleza
Em seu místico talhe
Eis a língua portuguesa.
Antológicas página 116.
Foto de fundo: Domínio público, por Pixabay.