O Norte da ilha da Madeira é terra de atrações naturais belíssimas que vão desde o azul do mar de água transparente que bate nas pedras verdes, cobertas pelo lodo marinho com cheiro a maresia, ao verde das montanhas com a sua diversidade botânica, caminhos agrícolas, palheiros onde descansa pachorrentamente o gado, os canais de irrigação que transportam a água para as populações e seus terrenos, igrejas enfeitadas sem rigor, mas com alma, capelas, miradouros, fontenários que são decorados com canas vieiras ou outra vegetação existente na zona por ocasião das festas de S. João.
E mais: jardins privados em frente das casas esbarrando nos caminhos, com muitas variedades de flores exageradamente cheios num espaço muito pequeno, porque as vizinhas concorrem entre si para ver quem tem as flores maiores e mais raras da zona, onde ainda se faz um vinho pouco recomendado por alguns e apreciado por muitos, feito nos lagares da zona e tratado em adegas rudimentares, sendo utilizado pelos locais como vinho de mesa, e onde qualquer visitante tem direito a “um copinho”, vendido em algumas tascas de forma sorrateira.
O pão de batata-doce é amassado e cozinhado a lenha pelas mulheres mais velhas das famílias ao Sábado, ficando pronto para a “matina” do Domingo depois da missa. Entenda-se por “matina”, o pequeno-almoço, que em tempos idos, mas não muito distantes, não era um hábito no meio rural, daí as pessoas almoçarem pelas 11h00 da manhã e jantarem pelas 17h00, podendo ou não haver uma ceia ligeira de pão com café, leite ou vinho, antes de dormir dependendo de cada família.
A identificação cultural deverá constituir uma das principais atrações do Norte da ilha para os turistas nacionais e estrangeiros que procuram um passado simples e genuíno. O Norte é apelativo para os turistas de passagem, e deverá manter-se esta tendência, dada a divulgação das belas paisagens do norte no produto touring, bom para a tesouraria dos pequenos negócios familiares que por lá existem. Ainda bem. A par da promoção paisagística, seria de muito valor igualar a intensidade de divulgação para as tradições desta zona geográfica a fim de atrair turistas para permanências médias mais longas.
A criatividade de produtos que possam criar rendimento nas unidades de turismo em espaço rural e simultaneamente tornar-se um fator de diferenciação e atração de clientes é fundamental para atrair turistas que queiram “ficar” e não “passar”. Podem ser criados cursos de bordados, workshops sobre vários tipos de vinho, comidas tradicionais, doçaria, como fazer pão caseiro, cursos de agricultura biológica, noites temáticas e muita mas muita divulgação, como forma de atrair o “turismo de estadia” e não só o turismo de passagem” a Norte.
De acordo com a Direção Regional de Estatística da Madeira, no caderno de Estatísticas do Turismo da Madeira, edição de 2018, referente aos números finais de 2017, vemos que o Revpar do concelho do Porto Moniz foi de 30,97€ com 1 562 029€ em proveitos de aposento, em São Vicente o Revpar foi de 30,86€ com 2 871 947€ em proveitos de aposento, em Santana o Revpar foi de 21,76€, com 836 005€ em proveitos de aposento. Em contrapartida, a Sul, na Ponta do Sol o Revpar foi de 55,44€ com 2 853 180€ em proveitos de aposento , no Funchal o Revpar foi de 57,23€ com 183 232 977€ em proveitos de aposento, em Santa cruz o Revpar foi de 47,43€ com 32 831 222€ em proveitos de aposento, Calheta com um Revpar de 51,84€ ,com 10 519 155€ de proveitos de aposento.
Pergunto, que incentivos terão os empresários para investir na zona Norte da ilha, quando é no Sul que está o melhor rendimento? Há incentivos para investir no Norte?
Segundo o mesmo caderno de estatísticas da DREM, foram contabilizadas oficialmente nesse ano, 38 126 camas em 18 030 quartos. Estes dados foram obtidos através dos meios de alojamento recenseados. Deste valor, 77,7% das camas pertence à hotelaria tradicional, 18,9% ao alojamento local e 2,5% de camas para o turismo rural. A estadia média na região autónoma da madeira foi de 5,2 noites nos estabelecimentos hoteleiros tradicionais, 4,9 noites no alojamento local e no turismo em espaço rural, 4,0 noites.
A taxa líquida de ocupação por cama nos concelhos a norte, em 2017, foi de 55,4% no Porto Moniz, 66,8% em São Vicente e 47,2% em Santana, contrastando com números como os do Concelho da Ponta do Sol, 85%, Funchal 80,9%, Santa Cruz com 76% e Calheta com 75,2%.
Segundo uma notícia do Diário de Notícias, com data de 13 de dezembro de 2018, a secretaria regional de turismo e cultura tem um orçamento para 2019 superior em 3% relativamente a 2018, estando previsto projetos de recuperação dos bens patrimoniais artísticos e culturais, criação de rotas bem como uma promoção intensa nas plataformas digitais, por isso mesmo, é caso para dizer “que o Norte da ilha não seja esquecido”.
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