«Quando alguém nasce, nasce selvagem; não é de ninguém!» e assim começa uma canção – muito conhecida – de uma banda portuguesa que dispensa apresentações: os Delfins.
É assim que começa também a nossa vida. No momento em que abrimos as goelas para o mundo, para soltarmos o nosso grito de vitória, a nossa primeira manifestação de vida, somos livres, selvagens, não pertencemos a nada – nem a ninguém; simplesmente somos…
No entanto, isso muda instantes depois… Instantes depois, alguém nos coloca nos braços da nossa mãe e tudo muda… Porquê?
Porque passámos a ser o seu filho ou filha…
É ali, naquele momento, que perdemos a nossa individualidade, o nosso direito a sermos selvagens, porque passámos a pertencer a alguém. Dali em diante, e para o resto das nossas vidas, passaremos a ser os filhos dos nossos pais.
Depois, eventualmente, iremos para a escola e passaremos a ser, também, os alunos da Escola X, colegas de turma do A, B, C, etc e amigo do Y, da S e da L.
À medida que vamos crescendo vamo-nos associando a outras pessoas, a colectividades, a clubes, a um género de música, a hábitos, etc; e, quando chegamos ao mercado de trabalho, já carregados de rótulos e etiquetas, somos tudo menos livres e selvagens, e estamos ávidos de aceitar mais uma rotulagem: passaremos a ser também o funcionário da empresa XPTO, colega dos colegas e amigo de fulano e fulana…
Todos nós, sem excepção, abdicamos da nossa individualidade de livre e espontânea vontade. Se pensarmos na nossa caminhada até ao momento presente – salvo raros casos – concluiremos que aquilo que somos hoje se resume a um conjunto de etiquetas, rótulos, títulos e afins e que tudo isso é resultado de escolhas que fomos fazendo ao longo da nossa vida. E está tudo muito bem… No entanto, o que sucederá quando nos perguntarmos quem somos?
Não estou a questionar o que somos aos olhos dos outros, mas o que somos aos nossos próprios olhos. Será que nos reveremos naquilo que vimos?
Será que as escolhas que fizemos, ainda que livres e espontâneas, foram feitas em consciência?
Para alguns, a resposta será talvez; porque nunca se pode ter a certeza – dadas as circunstâncias específicas existentes no momento da escolha e que a poderão ter condicionado. Mas para outros poderá ser não…
Seja qual for o seu caso, dá que pensar…
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