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O que é viver na sociedade do cansaço

O que é viver na sociedade do cansaço

A pressão inclemente do tempo esmaga a rotina de uma sociedade sempre com pressa e que caminha para a hiperconexão. A sensação de que estamos correndo para dar conta das obrigações que nunca findam, dão a impressão de que vivemos em um descompasso do que aguenta o corpo e a razão. Estamos cansados e isso é mais sério do que se imagina!

O filósofo sul coreano Byung-Chul Han tem um livro interessantíssimo chamado ‘Sociedade do Cansaço’ que chama a atenção para uma sociedade contemporânea baseada na positividade e hipervisibilidade. O livro é pequeno, mas de um conteúdo impressionante. Um verdadeiro raio x dos reflexos de uma mudança, ainda bastante imprevisível, de uma sociedade que transmuta da disciplina para o desempenho.

Han alerta que estamos em uma sociedade que se caracteriza pelo desaparecimento da alteridade e da estranheza. O estranho cede lugar ao exótico onde, por exemplo, os imigrantes são consideramos mais um peso do que uma ameaça. Vivemos uma violência da positividade, ou seja, a negatividade, a contestação perde espaço para uma transparência que muito mais vigia do que liberta. Vivemos tempos de superprodução, superdesempenho e supercomunicação… e não estamos dando conta disso!

A sociedade disciplinar de Foucault foi substituída pela sociedade do desempenho e produção. As pessoas são empresárias de si mesmas, mesmo trabalhando em fábricas, etc. A busca incessante pelo melhor desempenho pode garantir melhores posições, mesmo que isso custe, inclusive, a saúde mental. Para o autor, a sociedade disciplinar era regida pela negatividade, pela proibição, coerção. A sociedade do desempenho se distancia dessa negatividade: o poder ilimitado, o “yes, we can” expressa o caráter da positividade. “No lugar da proibição, mandamento ou lei, entram o projeto, iniciativa e motivação. A sociedade disciplinar ainda está dominada pelo não. Sua negatividade gera loucos e delinqüentes. A sociedade do desempenho, ao contrário, produz depressivos e fracassados”, diz Han.

Esse excesso de positividade também se configura em excessos de estímulos, informações e impulsos. A multitarefa não representa nenhum avanço civilizatório, muito pelo contrário, há uma preocupação maior em sobreviver (muito se aproxima de instintos selvagens) e perde-se o poder contemplativo, a tolerância ao tédio – visto de forma importante para o processo criativo. Ao citar Hannah Arendt, o autor compara a figura do animal laborans – animal trabalhador – moderno, ao animal laborans pós-moderno que individualiza-se na sociedade do desempenho. Ele pode ser tudo, menos passivo. É hiperneurótico e hiperativo.

Para o filósofo sul coreano é pura ilusão acreditar que quanto mais ativos somos, mais livres nos tornamos, “a sociedade do cansaço, enquanto sociedade ativa, desdobra-se lentamente numa sociedade de doping”. Esse cansaço da sociedade do desempenho é um cansaço solitário que individualiza e isola.

É importante pensar em tudo isso muito seriamente. As palavras de Byung-Chul Han saem do campo epistemológico e sentimos na prática, nesse cotidiano voltado para o desempenho. Como o autor bem diz, “o excesso de elevação do desempenho leva a um enfarto da alma”…. sim, para a OMS, por exemplo, são mais de 300 milhões de pessoas com depressão no mundo. Não se pode mais fechar os olhos para isso.

Chegamos ao ponto de materializar as palavras do escritor Peter Handke…. “eu não estou cansado de ti, mas cansado pra ti”. Viver não está sendo fácil!

 

 

Referência

HAN, Byung-Chul. A Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Vozes, 2016

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