O que é a História de Arte? Quem a escreve e por que razão é importante? É o conjunto de questões que se procura responder neste texto, mas antes de proceder a uma análise sobre estes assuntos, proponho uma breve aproximação à sua base de trabalho, a Arte.
A Arte é um veículo de comunicação e expressão de ideias, sentimentos ou emoções estéticas, fruto de uma capacidade exclusiva e íntima do ser humano. Os objectos ou acções que resultam desta habilidade surgem de uma inspiração criadora, derivada da aptidão intelectual. Adquirem fins puramente estéticos, mas podem também ter uma finalidade prática, sendo sempre consideradas obras de arte desde que cumpram o efeito de comunicar, parte fundamental desta intenção criadora.
Uma característica fundamental da obra de arte é a sua originalidade, isto é, o seu carácter irrepetível, caso que a distancia de um outro objecto extraordinariamente bem executado, como uma peça de artesanato, que pode conquistar a admiração do público, mas cujo propósito não foi o de transmitir, sob forma estética, a ideia, intenção ou sentimento do seu executante.
Outra característica essencial é a pluralidade de significados do objecto artístico, que, independentes da intenção primária do seu autor, adquirem acepções próprias na mente de quem a percepciona. Assim, a obra de arte existe de forma independente do seu criador, tornando-se num instrumento de emissão e recepção de sentidos, com valor universal, para além do seu valor relativo, que a situa numa determinada época e a caracteriza como um produto cultural.
Assim, a Arte, a sua produção e apreciação, é uma parte fundamental de ser humano, tratando-se de uma actividade espontânea e necessária ao intelecto do Homem que, apesar de não ser essencial à sua sobrevivência, o tem acompanhado na sua evolução desde a fase mais primitiva, deixando múltiplos testemunhos ao longo do tempo. É sobre o estudo desses testemunhos artísticos de que se ocupa a História da Arte.
A Arte na História um objecto de comunicação e de estudo que oferece leituras acerca da mentalidade, do intelecto e da realidade social e individual do ser humano.
Passando ao processo de “fazer” História de Arte, é conveniente encetar esta exposição com uma breve caracterização do trabalho do investigador.
As tarefas e a amplitude do seu escopo são distintas e diversificadas. Ao historiador de arte compete a investigação e pesquisa de informações que contribuam para uma análise científica e rigorosa da obra em si, nomeadamente dos seus materiais, técnicas, formas, temas, conteúdos, significados, funções, identidade do autor, personalidade artística, contexto social e cultural, e época histórica da qual é proveniente. Ao trabalho é devido uma metodologia e objectividade, dado que se debruçará sobre fontes, documentos e outros recursos, que carecem de análise e explicação. Esta vertente das humanidades também se apoia nos conhecimentos de outras disciplinas para se complementar, nomeadamente na Arqueologia, Antropologia, História, Sociologia e na Filosofia.
Já Marc Bloch, em meados do século XX, deixava o seu apelo aos novos historiadores para cruzarem e discutirem conhecimentos de forma interdisciplinar. Hoje é uma prática transversal a todas as tendências da História, bem como a todas as outras ciências, e responsável por dilatar o seu alcance e desenvolvimento.
O atributo específico do historiador de arte reporta-se à sua apetência para interpretar e criticar o seu objecto de estudo do ponto de vista artístico e relacioná-lo com toda a informação recolhida sobre as suas circunstâncias culturais, sociais e históricas.
Neste sentido, fica demonstrado que a função da História de Arte é transformar a estética das obras em objectos que reflectem e exprimem contextos e factos históricos reais. É uma forma de descodificação do pensamento, sentimento e emoção do ser humano do passado. As obras de arte são formas de expressão compostas por soluções técnicas adstritas à sua época, mas também intelectuais, culturais e sociais.
Para terminar, releva-se novamente a amplitude de matérias sobre as quais a História de Arte se pode debruçar, desdobrando-se no biografismo, a história dos estilos, a história das obras-primas, a história dos artistas, a história dos géneros, a história das vanguardas, história dos significados, ou até a história de obras de arte inexistentes (cripto-História de Arte). Estas dimensões têm linguagens próprias que apresentam novos desafios ao historiador de arte, concorrendo para a noção de globalização dos conhecimentos, das relações e dos fenómenos humanos, para a interdisciplinaridade, para a atenção à subjectividade, e para a necessidade de repensar e readaptar as respostas numa realidade como o século XXI, que se apresenta em constante mudança.
Em suma, a História de Arte faz-se no passado e no presente, não devendo ser desvalorizada no seu papel de construção da identidade e da comunicação humana, assim buscando a preservação dos seus conhecimentos para a salvaguarda do património cultural e artístico, tanto quanto a sua expansão.
Texto baseado no capítulo introdutório de:
Pinto, A. L., Meireles, F., Cambotas, M. C., (2014). Introdução. In Pinto, A. L., Meireles, F., Cambotas, M. C., A arte no ocidente (pp.8-20). Porto: Portoeditora.
Bibliografia complementar:
Serrão, V. (2009). A História da Arte em Portugal e a consciência do estudo e salvaguarda do Património histórico-cultural. In O património como oportunidade e desígnio. ciência, sociedade e cultura conferência 1: Património e História da Arte, Coimbra, Portugal, 18 Abril 2009 (pp. 1–5). Coimbra: Universidade de Coimbra.
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