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O “Neuronervosismo” da Casa Branca e a revolução silenciosa do Pix: a chave brasileira para a autonomia financeira

O “Neuronervosismo” da Casa Branca e a revolução silenciosa do Pix: a chave brasileira para a autonomia financeira

Prezado leitor, prezada leitora, o artigo de hoje apresenta uma breve reflexão sobre a situação atual do país onde resido, o Brasil. Conto-lhe logo de início, com grande orgulho, que o Brasil pulsa uma democracia que, longe de ser frágil, é um organismo em constante (re)construção, cujas raízes profundas na sociedade resistem e florescem mesmo sob o fogo cruzado das crises.

O texto que segue, tem o Brasil como protagonista, e pretende refletir sobre a nova lógica financeira internacional e as transformações no âmbito do poder global, que no momento, parecem pairar sobre os céus brasileiros.

O mundo está testemunhando uma reviravolta no cenário financeiro global. As recentes ações do governo americano, como o “tarifaço“, não são meros atos protecionistas; são sintomas de uma profunda transformação no poder global e da crescente vulnerabilidade dos Estados Unidos, que se agarram ao privilégio do dólar para manter sua hegemonia. Mas, em meio a essa “guerra financeira”, o Brasil emerge com ferramentas próprias, como o Pix[1], e uma postura estratégica que pode redefinir seu papel no novo tabuleiro global. Este artigo explora, de forma breve, as possíveis raízes dessa disputa, os movimentos cerebrais observáveis por trás das decisões americanas, que tomo a liberdade de intitular “Neuronervosismo”, e como a firmeza do Judiciário brasileiro e a inovação tecnológica nacional podem ser as chaves para a soberania econômica do país.    O “tarifaço” contra o Brasil, o mais alto até agora, de 50% e tendo como base de negociação questões políticas internas ao Brasil, em detrimento de condições financeiras ou de mercado[2], não é só mais uma briga comercial, é um sinal claro de que o poder global está mudando, e os Estados Unidos, por trás de toda a força do dólar, escondem uma vulnerabilidade crescente. Pense em impérios antigos: eles eram ricos porque produziam mais do que gastavam. Os EUA fazem o contrário, gastam horrores e ainda mantêm seu poder. Como? Controlando o dólar, a moeda que o mundo inteiro usa. É como ter uma impressora de dinheiro infinita!

Um tal de nervosismo no ar

A história nos conta, e sempre ela, que os Estados Unidos continuamente usaram o dólar para sair de apuros. Lembra quando Nixon tirou o dólar do padrão-ouro?[3] Ou quando desvalorizaram de forma coordenada o dólar resultando em valorização do iene japonês em 1985?[4] A estratégia sempre foi a mesma: usar o poder da sua moeda. Mas agora, o cenário é outro. A China está voando, dominando o comércio, a tecnologia e a inovação. Eles são os maiores parceiros comerciais de mais de 120 países, e a cada ano diminuem a distância para os EUA em vários setores.

Um olhar mais apurado e livre de viés ideológico, aliás, algo cada vez mais raro em solo brasileiro, é capaz de constatar que, com uma dívida gigante, os EUA estão desesperados para manter o dólar no topo. A escolha de Scott Bessent[5],“expertise em investimentos macroeconômicos globais”, para o Tesouro americano, não é à toa. Parece que sua função é travar uma “guerra financeira”, usando táticas agressivas para proteger o dólar a qualquer custo, mesmo que isso abale a economia mundial.

O funcionamento cerebral em cenários de crise

Essa busca desesperada por manter a hegemonia do dólar não é apenas uma estratégia econômica fria; ela ecoa possíveis padrões complexos do funcionamento cerebral humano em cenários de incerteza e dívida.

Pesquisas na área de neurociência[6] mostram que grandes níveis de dívida, como os US$ 36,2 trilhões dos EUA, podem gerar um sentimento de escassez e ameaça à segurança, tanto a nível individual quanto coletivo. A mente humana, diante de uma ameaça percebida à sua “riqueza” ou “status” (neste caso, a hegemonia do dólar), ativa áreas cerebrais ligadas ao medo e à aversão à perda. Isso pode levar a decisões mais agressivas e impulsivas, buscando “recompensas” imediatas – como a manutenção do status quo monetário – em detrimento de soluções mais colaborativas e de longo prazo. A nomeação de um “articulador” como Bessent reflete essa lógica, pois em momentos de pressão, tendemos a buscar soluções que nos tragam um senso de controle imediato, mesmo que arriscado.

Além disso, o viés de confirmação pode estar operando em Washington. Em cenários de crise, as pessoas (e nações) tendem a buscar e valorizar informações que confirmem suas crenças preexistentes, ignorando dados que as contradizem. Se a crença é que o dólar deve permanecer hegemônico, qualquer sinal de seu declínio relativo pode ser interpretado como um “ataque” que exige uma reação enérgica, em vez de uma reavaliação estratégica. Essa aversão à perda (o medo de perder o que já se tem) e a busca por recompensa rápida podem obscurecer a visão de um cenário global em transformação, levando a movimentos que, paradoxalmente, aceleram a busca de alternativas por outros países.

Enquanto isso a revolução do Pix apressa o processo

O Brasil adota um sistema inovador de transferência bancária, que ao que tudo indica, está, em alguns casos assustando e em outros, atraindo olhares de algumas economias pelo mundo. Fruto de um planejamento estratégico do Banco Central do Brasil para modernizar o sistema financeiro nacional e incluir milhões de brasileiros, foi lançado em novembro de 2020, o Pix[7]. Esse sistema bancário foi idealizado com base em três pilares: disponibilidade, velocidade nas transações (em segundos) e custo baixo ou zero para pessoas físicas. Antes dele, as transferências eram limitadas por horário e dias úteis, e geralmente cobravam taxas elevadas. O Pix transformou essa realidade, permitindo pagamentos e recebimentos a qualquer hora, em qualquer dia, diretamente entre contas bancárias, sem intermediários caros.

A implementação do Pix foi um sucesso estrondoso. Em pouco tempo, ele se tornou o meio de pagamento mais utilizado no Brasil, ultrapassando cartões de débito e crédito em número de transações. Sua interface simples e a praticidade de uso, aliadas à segurança, conquistaram a população. Ao atingir a marca de R$ 2,5 trilhões mensais no primeiro semestre de 2025 e ter uma adoção massiva, o Pix não é apenas uma ferramenta de conveniência; ele representa um sistema de pagamento soberano, que opera fora das dependências e custos do ecossistema do dólar. É essa capacidade de funcionar de forma autônoma e eficiente que o torna uma peça-chave na estratégia brasileira para o futuro financeiro global, especialmente em um cenário de “guerra de moedas”.

Paralelo ao tarifaço de 50%, o governo brasileiro está sendo questionado e investigado pelo governo americano em diversos itens, entre eles, o sistema Pix. Questionar o sistema Pix, entre outros itens de igual praticidade financeira ou de viés político, parece ser mais uma estratégia que vai de encontro com os mecanismos cerebrais já explorados neste texto.

A armadilha da polarização interna

O cenário de “guerra financeira” imposto pelos Estados Unidos e a ascensão de alternativas como o Pix no Brasil, desenham um futuro complexo e desafiador. No entanto, para que o Brasil possa realmente aproveitar as oportunidades e se posicionar estrategicamente, é crucial superar um obstáculo interno ainda maior: a guerra de narrativas ideológicas.

Quando a política externa e as decisões econômicas estratégicas são sequestradas pela polarização e por interesses setoriais, o Brasil perde a capacidade de reagir às ameaças externas. Nesse vácuo, o Judiciário, que há anos tem vestido o “manto de salvador da pátria“, torna-se nossa última e arriscada linha de defesa.

Ações como a busca por novas alianças e a defesa da soberania econômica exigem consenso e visão de longo prazo, algo frequentemente minado em terras brasileiras por divisões internas que priorizam a ideologia sobre o interesse nacional. Se o Brasil não conseguir alinhar seus esforços e falar uma só voz, corre o risco de se tornar um alvo fácil em um tabuleiro global cada vez mais disputado, perdendo a chance de consolidar sua autonomia e resiliência financeira. A verdadeira batalha, portanto, não está apenas lá fora, mas também na capacidade de união e inteligência estratégica do próprio país.

Quando limitamos nosso olhar para um único viés ideológico e não temos a possibilidade de ampliá-lo, aprisionamos nosso conhecimento sobre o assunto e sobre o mundo que o rodeia. Ao impedir que um conteúdo seja abordado pelas mais variadas áreas do pensamento, estamos deixando robusta uma única via de aprendizagem, uma única conexão neural, que de tanto ser usada, se torna um procedimento automático, impedindo a ampliação da realidade e limitando a visão de mundo do sujeito pensante.

A presença da dúvida e do contraditório é saldável para o bom desenvolvimento cerebral. É no contato com o diferente, com o problema e com a reflexão ampla sobre ele que ampliamos nossas conexões neurais, que adquirimos novos conhecimentos e nos aproximamos com mais discernimento e inteligência da condição humana.


[1] O Pix é um sistema de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central do Brasil que permite a transferência de dinheiro entre contas bancárias em poucos segundos, a qualquer hora do dia, inclusive finais de semana e feriados.

[2] Saiba mais em: https://www.terra.com.br/noticias/analise-tarifaco-de-trump-fala-mais-sobre-politica-de-extrema-direita-do-que-qualquer-estrategia-economica,3a8b5b8d711c74a79bfdce84dd860778s0rk7ss3.html — Acesso em 24/07/2025.

[3] Em 15 de agosto de 1971, o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, tomou uma decisão drástica que ficou conhecida como “Choque Nixon”. Essa medida pôs fim ao sistema de Bretton Woods, que havia sido estabelecido em 1944 e atrelava o valor do dólar ao ouro.

[4] Os Estados Unidos orquestraram uma desvalorização coordenada do dólar, que teve como consequência direta a valorização do iene. Esse evento ficou conhecido como Acordo de Plaza e foi assinado em 1985.

[5] Scott Bessent é uma figura proeminente no cenário financeiro global, conhecido principalmente por sua experiência como gestor de fundos de hedge e, mais recentemente, por ter assumido em 2025 o cargo de 79º Secretário do Tesouro dos Estados Unidos na administração de Donald Trump.

[6] Disponível em: https://login.semead.com.br/27semead/anais/download.php?cod_trabalho=1350 – Acesso em 22/07/2025.

[7] Saiba mais em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/pix#:~:text=Pix%20%C3%A9%20o%20pagamento%20instant%C3%A2neo,conta%20de%20pagamento%20pr%C3%A9%2Dpaga. — Acesso em 22/07/2025.

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