Há alguma coisa de muito errada com o mundo; com a sociedade; com as pessoas… Não sei, ao certo, com o quê ou com quem; mas tem de haver.
A maioria de nós desperdiça a vida; achando que está a investir num futuro que depois não se concretiza. Não; não estou a falar de sonhos por conquistar ou das expectativas cor-de-rosa da vida… Estou a falar de coisas tão simples como viver.
Consideremos a esperança média de vida estimada no ano de 2018: cerca de 80 anos…
Passamos 20% da nossa vida a estudar; e mais de metade das coisas que aprendemos nem tem utilidade prática nenhuma. Nessa época da nossa vida – dizem-nos – temos que acumular conhecimento, aprender todas aquelas coisas – as que precisamos e as que não precisamos – para podermos ter um futuro e ser alguém; entenda-se – para maioria de nós, pelo menos – ter um trabalho remunerado.
Depois da vida de estudante, e durante outros – aproximadamente – 55% da nossa vida, trabalhamos para alguém; para uma empresa ou para o estado. Trabalhamos a troco de um salário, porque queremos coisas que têm de ser compradas, porque precisamos de comer, porque gostamos de ir de férias, porque temos de criar os filhos… Neste frenesim, vamos fazendo pequenas concessões, abdicando de um pouco de nós, aceitando determinados abusos, ignorando certas faltas de respeito; vamos minimizando-nos…
E, quando chegamos aos anos dourados da reforma, temos – os sortudos – pouco mais de 15 anos para gozar a vida. No entanto, de dourados, esses anos pouco têm…
Depois de termos passado – entre estudos e trabalho – algo como 75% da nossa vida a lutar por um futuro, esse futuro chega-nos conspurcado. A saúde física é frágil, e débil, devido a uma vida de esforços, amarguras, sacrifícios e abusos que nos levaram a um ritmo de compensações à base de comida, drogas, álcool e afins; e a mental não é muito melhor, não só pelas mesmas razões, mas também – e talvez principalmente – pelo corolário inevitável de que se andou enganado uma vida inteira almejando a um futuro que nunca teve qualquer possibilidade de se concretizar.
Talvez achem tudo isto muito taciturno e negativo; e é.
Talvez entendam que esta não é a melhor perspectiva de encarar as coisas; e têm razão…
Há por aí um conjunto de seres iluminados – alguns denominam-se de gurus – que tentam ensinar-nos preciosas lições sobre como viver a vida. E o que essas pessoas nos dizem é para apreciar as boas coisas que temos, onde quer que elas estejam – numa espécie de fast carpem diem; viver o agora, porque o futuro ainda não existe e o passado já não existe. E, se pensarmos assim – se o conseguirmos fazer -, de facto, valorizamos cada segundo que vivemos… No entanto, isso não é para todos.
Eu tendo a olhar para aqueles enviados das altas esferas com alguma tolerância, mas a maioria das mensagens soa-me a conformismo; principalmente quando a história das suas vidas – regra geral – não se enquadra nas histórias de vida do resto das pessoas: estes seres especiais sempre viveram, e vivem, à margem da sociedade, de uma forma ou de outra. E isto, para mim, apenas pode querer dizer uma de duas coisas: ou é a sociedade que está errada ou eles não sabem do que falam…
Como pode alguém que nunca teve de trabalhar na vida ensinar alguma coisa sobre isso?
Como poderá alguém que sempre foi dono do seu tempo, que nunca teve de dar contas do que fazia a outrem, ensinar outros sobre como lidar com a rotina de uma empresa?
Como podem, pessoas que nunca passaram por todas experiências negativas que ousam saber resolver – não podem ter passado, senão seriam mártires -, opinar sobre elas?
Todavia, se os ouvirem – a alguns, pelo menos – não são vendedores da banha da cobra; o que eles dizem faz pleno sentido e, às vezes, ajuda de uma forma – pelo menos – paliativa.
Quererá isto dizer que é a sociedade que está errada?
Não. A sociedade é uma instituição, é uma entidade criada por todos nós; pela humanidade. O ponto a que chegámos, agora, é uma construção passiva nossa, de uma larga maioria, e activa de alguns que – talvez – se contam pelos dedos da mão. Nós somos criados a pensar de uma maneira e todas as instituições que foram, e que são, criadas existem para perpetuar este estádio de coisas. Esta mentalidade da humanidade de lutar por um futuro melhor, ou para evitar que um passado se repita, está inscrita nos nossos genes – signifique lá isto o que signifique; é isto que faz com que vivamos centrados no passado, ou no futuro, e não no presente… Mas faço-vos o seguinte desafio:
Pensem, neste momento, apenas no presente…
Não; não pensem no presente no quadro dos vossos desejos, remorsos e preocupações…
Imaginem que nada disso existe – eu sei que não é fácil; tudo o que existe são vocês e a vossa realidade presente…
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Então? Como foi?
Alguns de nós não o conseguiram; não é?
Outros conseguiram-no, mas não perceberam…
Mas há uma minoria que entendeu que nada disto faz sentido…
Que sentido faz abdicar do que nos faz feliz em nome de algo que ainda não existe?
Que sentido faz desperdiçar os melhores anos da nossa vida na construção de um futuro ao qual chegaremos doentes e a penar?
E, se não faz sentido, porque razão o fazemos?
Estaremos condicionados?
E se sim; porquê ou por quem?
São perguntas relevantes…
Não tenho respostas…
Mas quando olho para o nosso trajecto, desde meninos e meninas, desejando ser, querendo ter, escolhendo – na nossa ingenuidade – os caminhos que nos podem permitir ser e ter o que desejamos e trilhando a senda da vida em direção a esse El dorado, vou antevendo aquilo que me espera no final do meu caminho, e que já vi no final do arco-íris de muita gente; um pote cheio, não de moedas, mas de ilusões e frustrações. E eu não quero isso para mim… Poderei evitá-lo?
Não sei… O que sei é que este mundo não é para velhos.
Por isso, não esperem por esses anos dourados e vivam a vida todos os dias; façam as escolhas que tiverem de fazer, quando o conseguirem e forem capazes, porque é essa a melhor maneira de viver o presente… E não se esqueçam: o futuro tem de ser agora.
Imagem de hakan kaydu por Pixabay



