“Os Encontros anuais da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) celebram o debate pluridisciplinar e a partilhado conhecimento. Esta promoção da reflexão livre e esclarecida insere-se na missão da Fundação de contribuir para uma sociedade mais informada, reforçando os direitos cívicos dos cidadãos e a qualidade das instituições e políticas públicas.
Significa também incitar os Portugueses a intervir nos debates sobre questões de suma importância, convidando-os a apontar as suas prioridades e a expor os seus pontos de vista, e levando-os a construir projetos comuns que contribuam para o progresso e o desenvolvimento sustentável do País.
Este ano, e comemorando a FFMS 10 anos de existência, o tema escolhido foi “O Futuro do Planeta”, tendo promovido um evento aglutinador, no Teatro Camões, nos passados dias 14 e 15 de Setembro. Em rigor, qual é a verdadeira situação do planeta? É ou não urgente mudarmos os hábitos de vida, as práticas económicas ou mesmo toda a organização social humana? Que caminho estamos de facto a percorrer?
Conhecemos os factos: as alterações climáticas são inegáveis, e os seus impactos já se fazem sentir, tendo chegado mais cedo e com maior intensidade do que o previsto. Ao mesmo tempo, sofremos os efeitos da extinção de centenas de milhares de espécies, da redução da biomassa e da exaustão dos recursos naturais, explorados incessantemente, sem qualquer sustentabilidade.
Os grandes sistemas de suporte da vida na Terra, os oceanos, a atmosfera, estão a ser alterados, possivelmente pondo-se em causa algumas das suas funções vitais, a começar pela produção de oxigénio. O mote de uma economia “mais amiga do ambiente” já não chega para superarmos os desafios colossais com que nos defrontamos. É urgente encontrar uma nova economia que sirva o futuro.
Novas perguntas se impõem: teremos coragem para alterar o modelo económico que construímos nos últimos séculos? A natureza pode e deve ser vista como o maior capital do futuro? Será que, à escala global, as acções dedicadas à conservação da natureza são suficientes, ou eficientes? Tendo em conta que até agora não conseguimos travar o agravamento do problema ambiental, deveremos mudar radicalmente de estratégia?
Com o objectivo de proteger o meio ambiente, surgiram nas últimas décadas diversas organizações não-governamentais, de que se destacam a WWF e a Green Peace, para referir apenas duas das mais conhecidas.
Será que estamos perante uma ameaça ou uma crise das alterações climáticas? Fará sentido dar um passo definitivo em frente e substituir a palavra “ameaça” pela palavra “crise” – crise climática, crise ambiental, crise planetária?
E qual é o papel da cultura e da educação? Como acelerar a curva de aprendizagem e de consciencialização das crianças, que são os cidadãos do futuro? No centro desta discussão, saberemos nós explicar porque é que, apesar de sermos animais terrestres,
dependemos em absoluto do oceano?
E Portugal, com a sua geografia avassaladoramente marítima, será mais dependente do oceano do que outros países costeiros? Enfrentam os portugueses uma ameaça superior? E será que, no actual contexto de consciencialização generalizada da importância do oceano, podemos desempenhar um papel de liderança na comunidade internacional?
Discutir “O Futuro do Planeta” implica, pois, procurar respostas urgentes para um vasto domínio de questões cruciais quer para o ser humano, quer para toda a vida na Terra.
O mundo volta a reunir-se, em 2020, para discutir sustentabilidade. Qual a agenda internacional que pode marcar a diferença e ser efectivamente um compromisso para salvarmos o futuro? A água como elemento central da sobrevivência humana. Um bem que se torna cada vez mais escasso, mas nem por isso mais valorizado. Procuramos a água noutros planetas, mas não a preservarmos no lugar onde vivemos.
Ouvir falar sobre o futuro do oceano, com um ponto em comum: Portugal. Constatar que é possível empossar a sociedade civil. Perceber que há um modelo de mudança em curso. Sentir a vontade de agir”.
Foi interessante ouvir nomes internacionais como Carl Safina, conhecido pela sua prosa poética não ficcional acerca da conservação e da natureza. A sua obra aborda o modo como a espécie humana tem vindo a alterar o mundo dos seres vivos e as consequências dessas alterações para as espécies não humanas e para todos nós. Conjugando ciência, emoção e ética, Safina apela sobretudo à ação.
Mas o momento mais arrebatador foi, para mim, o discurso da aquanauta Sylvia Earle, autora de mais de 175 publicações, responsável por mais de cem expedições, com mais de sete mil horas de mergulho, recebeu mais de uma centena de prémios nos EUA e no estrangeiro, tendo a sua investigação incidido sobre a ecologia e conservação de ecossistemas marinhos.
Mas emocionante foi escutar uma voz nacional, Tiago Pitta e Cunha, que tem advogado a importância estratégica dos assuntos marítimos tanto para Portugal como para a Europa, em Lisboa e em Bruxelas. É actualmente administrador executivo da Fundação Oceano Azul. Foi conselheiro do Presidente da República para assuntos de ambiente, ciência e mar.
NOTA: Este texto foi uma síntese, na sua quase totalidade ipsis verbis, do booklet do encontro da fundação sobre o futuro do planeta, distribuído a todos os participantes. Como o seu texto é claro e extraordinário, a decisão da escolha e truncagem das frases retiradas do booklet para este artigo são da minha inteira responsabilidade.
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