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O fenómeno megalítico funerário do território português

O fenómeno megalítico funerário do território português

O presente texto versa sobre as sequências arquitectónicas do megalitismo funerário no território português e sua correlação com o espólio. A denominação “Megalitismo”, composta pela palavra Mega, que significa grande, e Lithos, que significa pedra, caracteriza um fenómeno arquitectónico que terá emergido durante a primeira metade do V milénio a.C., no período crono-cultural do Neolítico Antigo Evolucionado.

Adveio de um processo de sedentarização das sociedades humanas no qual se terá gerado uma maior complexidade social, configurada por redes de parentesco e assente num crescimento demográfico. Circunstâncias que terão implicado uma fixação destas sociedades em territórios de onde se retirava o sustento colectivo, através da agricultura e pastorícia. A estes grupos ter-se-á imposto uma forma de identificação cultural que terá culminado com o surgimento de inovações tecnológicas.

Etapas cronológico-culturais do fenómeno megalítico funerário

Apesar de não haver uma evolução linear da arquitectura, nem da sua utilização, as sequências de povoados e dólmenes estudados para as diferentes regiões podem subdividir-se em dois grupos cronológico-culturais, o primeiro sito no Neolítico Médio (4500 a.C.-3750 a.C.) e o segundo no Neolítico Final (3800 a.C.-2800 a.C.), quando se torna persistente o aumento das dimensões dos monumentos com função múltipla e agregadora, servindo de local de sepultamento e marco de posse de território.         

Se adaptarmos ao panorama nacional o método desenvolvido por Manuel Heleno e Irisalva Moita para caracterizar o contexto megalítico alentejano, tendo em conta os devidos regionalismos, é possível identificar dois momentos da arquitectura: o primeiro contempla dólmenes de câmara simples circular ou poligonal, desprovida de corredor ou com corredor pequeno, com sepultura cistoide fechada e espólio composto por micrólitos trapezoidais, machados grosseiros e cerâmicas lisas.

O segundo caracteriza-se por dólmenes com corredor visivelmente destacado da câmara, com ou sem átrio de entrada, cujo espólio consta de pontas de seta, lâminas e lamelas retocadas, escassos micrólitos, alabardas e punhais bifaciais, contas, placas de xisto decoradas, báculos e machados de acabamento apurado e cerâmicas lisas em abundância. Esta correlação entre o monumento e o espólio contribui para identificar o momento de construção, utilização ou reutilização do monumento, consoante a sua composição. O espólio constitui uma forma de datação indirecta.

Para o momento de utilização é preciso ter em consideração que um espólio mais evoluído pode ser encontrado numa sepultura de período anterior se esta tiver sido reutilizada, e o contrário pode suceder no caso das trasladações.

O fenómeno megalítico nas regiões portuguesas 

É no Alentejo que o fenómeno megalítico tem maior expressão em termos de dimensão e quantidade, derivado da elevada densidade populacional, existência de recursos geológicos favoráveis e da prática de sepultamentos colectivos. Os monumentos mais expressivos do grupo primitivo são a sepultura proto-megalítica de Marco Branco, em Santiago do Cacém (Alentejo litoral), a anta 3 do Azinhal, em Coruche (Alentejo Central e Ocidental), a anta 2 do Torrão, em Santa Eulália, Elvas (Alentejo Oriental).

Os elementos de destaque para o grupo evoluído são o dólmen da Pedra Branca (Alentejo litoral) e a centena de dólmenes maioritariamente escavados por Georg e Vera Leisner, em Reguengos de Monsaraz, dos quais se destacam a Anta Grande do Olival da Pega, a Anta 1 da Herdade do Cebolinho, bem como a Anta 7 em Estremoz e as antas de Aldeinha e do Barranco da Fraga, a Anta da Bola da Cera, na serra de S. Mamede, em Portalegre (Alentejo Oriental). Todas elas também relevantes pelas marcas de alta temperatura causadas por fogueiras ritualísticas.

No Alto Ribatejo e Beira Interior as tipologias alentejanas persistem, todavia menores, mas as matérias-primas empregues na sua construção variam entre o granito, o xisto e o grauvaque. No grupo primitivo contemplam-se a Anta 1 do Val da Laje, em Tomar e a Anta 6 do Couto da Espanhola. Com o segundo grupo identificam-se a Anta 2 do Couto da Espanhola e as Antas 3, 5 e 8 do Amieiro, em Idanha-a-Nova.

Na Beira Alta, apesar da abundânciaalteram-se as tipologias, sendo os recursos líticos predominantes o granito e o gnaisse. Antelas, câmaras poligonais circulares, câmaras poligonais com corredor diferenciado, desenvolvido ou curto, quase na sua totalidade orientados para o azimute do nascer do Sol nos meses de Outono e Inverno (medida angular astronómica para calcular a altura do sol). No grupo primitivo inclui-se o dólmen do Carapito 1 em Aguiar da Beira e no segundo grupo, é de salientar o dólmen dos Moinhos de Vento, em Arganil.

No Douro Litoral, Minho e Trás-os-Montes o núcleo megalítico principal é a necrópole dolménica da serra da Abobereira. Abundantes em granito os monumentos que se podem contemplar no grupo primitivo são a mamoa 4 de Chã da Parada, mamoa 2 de Meninas do Crasto e no grupo evoluído o dólmen da Portela, em Penafiel, o dólmen da Eireira e de S. Romão de Neiva, em Viana do Castelo.

No litoral centro, caracterizado pela região de Lisboa e Figueira da Foz, o recurso lítico utilizado é o calcário. No conjunto do primeiro grupo contemplam-se as antas de Monte Abraão e de Estria, bem como o monumento megalítico do Monte de Serves, em Vila Franca de Xira. No segundo grupo servem de exemplo os dólmenes de Casainhos e de Carcavelos (Loures), e o dólmen de Cabecinha, na Figueira da Foz.                      
Os megálitos da região Algarvia apresentam características particulares e essencialmente evoluídas, das quais são o caso da sepultura de Nora, em Vila Real de Santo António, e da sepultura 7 do Buço Preto, no complexo funerário de Monchique.

Bibliografia

CARDOSO, João Luís – Pré-História de Portugal. Documento PDF. Manual de Pré e Proto História. 1º ciclo de estudos em História. Acessível na Plataforma de E-Learning da Universidade Aberta.

Imagem: Dólmen de Chã da Parada, Serra da Aboboreira – https://mapio.net/pic/p-59363387/

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