Gostam por aí muito de estabelecer a dicotomia: emoção/razão. É um grande equívoco. Razão e emoção não se opõem, mas sim integram-se. Estabeleceu-se esta oposição devido a ideia que o emocional incapacita-nos para decidir. Ao contrário, a emoção estabelece conteúdos mentais que desencadeiam reações que se irão traduzir em compreensão, inteligência do que se passa para que possamos decidir, logo, são razão. O engano deve-se a crença de que não devemos estar sujeitos a influências do emocional para podermos ter coerência. Todas as funções funcionam autonomamente, e se integram no todo do pensamento. A lógica como maneira de raciocinar é, e será sempre, emocional, uma vez que o caminho das impressões seguem circuito emocional, como ficou claro no segundo artigo desta série, o anterior a esse, sobretudo devido a supremacia do entendimento emocional. Mesmo porque não existe entendimento fora do emocional, fora das emoções diferentes.
Unidade de significação.
As palavras codificam o entendimento, sintetizam pedaços lógicos do saber, tornando desnecessárias explicações para quem conhece a palavra. Eu digo água e você sente o potencial de ter sua sede saciada. Esse o fabuloso poder da palavra, a palavra é como uma sinapse que se estabeleça, mas que tem o dom de transmitir a informação, e não só memorizá-la, arquivá-la. O processo é bi-unívoco: O todo se encontra nas partes, e as partes dissolvem-se no todo.
Como pensamos.
Não existe pensamento sem a impressão exterior que o origine, se não a que o provoque de momento, então a que formulou a sinapse que determina a memória que irá conformar o pensamento; ainda que esta se atualize, a origem da formulação será sempre exterior. Não há pensamento dentro da cabeça que não venha de fora, para dizermos isso de uma maneira bem simples. (1)
Pensamos com as palavras.
As palavras são atalhos, resumos, sínteses de ideias mais extensas, conclusões estabelecidas, sinapses extra-cerebrais autônomas, que trazem significado, significação e significância no que dizem. Portanto trazem consigo uma interpretação, uma escolha, uma preferência de entendimento; uma força expressiva particular, com um valor de sentido (2), uma acepção. Como ideia é um significante, que logo evolui em ter um significado, passando a ser uma palavra, uma síntese de ideias.
Socialmente.
Como diria o professor Heri Laborit: “Nous ne sommes pas plus rien que les autres.” — os mamíferos têm o comportamento aprendido — e para o convívio é necessário um entendimento comum, e o primeiro entendimento é o vernacular: são as palavras!
Individualmente.
Somos o resultado daquilo que recebemos. As informações, que traduzem os sentimentos, e mais que sua percepção, seu entendimento, que viaja com e como palavra.
As palavras.
Por isso com elas pensamos, com elas nos comunicamos, com elas sentimos, com elas expressamos o que é de nós e o que é em nós, na acepção comum, para que todos entendam. E é assim que todos os anos homenageamos no tempo do Verão no hemisfério norte, e no de inverno, no sul; a dois grandes romanos, e mais uns quantos deuses da mitologia em outros meses (3), uma vez que trazemos com as palavras, sempre um significado que se esconde por conta de sua origem, uma vez que está tudo encadeado neste mundo, assim como milhares de outras palavras, todas têm em si outras razões, outras histórias, outras origens que as formaram. Assim, são o que foram; e não devemos nunca esquecer que é com as palavras que realizamos a maravilha da comunicação, e o sonho do entendimento, esse que se realiza na cabeça quando pensamos.
(1) Desconsideremos a metafísica e as alucinações.
(2) E sentido é sentir. Sentir o que? As emoções.
(3) Julho de Júlio César, Agosto de Augusto, Janeiro de Janus, Março de Marte, etc…




Uma resposta
Sugiro a leitura de meu poema: Palavras por dentro -na página 122 do Antológicas, e já reproduzido neste Jornal.