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Problemáticas

Problemáticas

Tenho andado a pensar que quando se pensa muito nas coisas tudo perde algum sentido…

Já repararam no que acontece se olharem insistentemente para um copo, por exemplo?

Façam-no – se nunca o fizeram antes – e vejam como ele se vai deformando, perdendo a nitidez, transmutando-se numa coisa que não reconhecem… Não; não estou a falar literalmente. Estou a falar da nossa percepção do que é o copo, porque, assim que se desfocarem do mesmo, ele voltará a ser o mesmo copo que sempre foi.

E assim é com os nossos problemas, dilemas, preocupações e afins. Muitas vezes, a sua dimensão e gravidade são afectadas pelo mesmo fenómeno do copo; não porque estejamos a olhar para eles, mas porque pensamos persistentemente neles. É por isso que há tantas histórias de pessoas, a braços com um problema, que só conseguem as soluções que procuram enquanto dormem, ou quando se distraem do assunto que os atormenta; porque só no momento em que o problema voltou a ser um problema – e não aquilo em que nossa mente o desfigurou – é que a solução emergiu.

Não estou a dizer que não pensemos nos problemas, estou só a dizer que não é por estar 24 horas sobre 24 horas e 7 dias por semana a pensar num determinado problema que ele se resolverá; ele resolver-se-á quando encontrarmos a solução e a solução só será descoberta quando nos centrarmos na raiz. Mas, quando pensamos sistematicamente num problema, a nossa mente divaga na multiplicidade de soluções e hipóteses que se levantam e, em pouco tempo, o nosso problema deixa de ser o que era e passa a ser toda aquela miríade de coisas que se ergueram em torno dele, rodearam-no e transmutaram-no num monstro sem solução; e a nossa insistência só irá alimentar o monstro… E é isso que sucede quando pensamos, num problema, 24 horas por dia e 7 dias por semana.

O Will Smith – ou melhor, a sua personagem –, em «Depois da Terra», diz a dada altura ao filho – que também é seu filho na vida real – que o perigo existe, mas o medo não; o medo é uma criação da mente. Esta é uma frase que faz muito sentido no contexto do filme, mas que encerra uma enorme potencialidade, porque – de certa forma – pode ser muito verdadeira. A maior parte dos sentimentos, como medo, são a racionalização dos pensamentos, porque os pensamentos não inócuos; são como os conceitos… Lembro-me de ter estudado em filosofia coisas como o «conceito de cão não morde» ou «conceito de açúcar não adoça»; e é bem verdade. Por isso, quando pensamos muito num problema – por muito assertivos que queiramos ser – iremos começar a racionalizar os nossos pensamentos sobre o problema e a gerar sentimentos que vão condicionar as nossas hipóteses e soluções que, por sua vez, gerarão outros sentimentos que continuarão a influenciar a nossa caminhada até à solução final; à medida que o tempo passa, tudo aquilo irá contaminar o problema e transformá-lo em algo que ele não é…

Talvez seja aqui que os cientistas e os sábios me cairão em cima; dizendo que recorrendo à ciência e ao método científico nada disto sucederá… Para já, quero dizer-lhes que não estou a falar dos problemas – ditos – científicos, nem de cientistas; mas também os quero lembrar que, não só, muito do que já disse se encontra comprovado pela ciência, mas também, que muitos momentos Eureka só foram possíveis devido ao seguimento da célebre frase de Einstein «Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.». E isto significa que mesmo o sagrado método científico teve de sofrer as necessárias mutações evolucionárias; e, se assim foi, é porque está em evolução e,  se está em evolução, não deve ser usado como axioma ou corolário, mas somente como linha orientadora. A humildade científica é tão importante como a sua exatidão…

Adiante…

Os problemas podem ser complexos e urgentes de solucionar, mas devem sempre ser vistos como problemas; uma entidade inócua. É verdade que as suas consequências podem ser nefastas, incomodas, desagradáveis e aflitivas, mas nada disto o problema é e só solucionando o problema, as consequências, podem ser evitadas. Mais vale, então, centrarmo-nos no problema e resolvê-lo, mas isso não se faz só por nos focarmos nele 24 horas por dia e 7 dias por semana; isso faz-se vendo-o como é: um problema…

Não estou a dizer que é fácil… Mas da próxima vez que se sentirem engolidos por um problema, lembrem-se do copo; e desfoquem. Talvez a solução seja mais fácil do que pensam…

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