Acerca da 2ª Cruzada.
Depois da 1ª Cruzada criou-se o Condado de Edessa, o Principado de Antioquia, o Condado de Trípoli e o Reino de Jerusalém, tendo sido governados por cristãos até 1144, data em que os conflitos e disputas territoriais com os turcos (que nunca cessaram verdadeiramente), se tornam preocupantes para a integridade dos estados cruzados. A ofensiva turca liderada por Zengi (1087-1146), príncipe de Mossul e de Alepo, conquistou Edessa a 24 de Dezembro de 1144, e mostrava intenções de tomar a cidade muçulmana de Damasco, dada a sua posição estratégica no controlo do território. Perante estes acontecimentos, o Papa Eugénio III (1145-1153) toma a iniciativa de apelar a uma 2ª cruzada (1147-1149), emitindo a bula Quantum praedecessores a 1 de Dezembro de 1145, a primeira para o efeito, e encomenda a S. Bernardo de Claraval (1090-1153) a pregação do empreendimento.
Ao contrário da primeira cruzada, liderada por grandes senhores feudais, esta segunda expedição militar foi liderada por monarcas, nomeadamente por Luis VII de França (1137-1180) e Conrado III da Germânia (1128-1135). Um outro factor que a diferenciou da primeira cruzada foi a geografia múltipla dos conflitos, pois enquanto os monarcas se dirigiam para oriente na expectativa de recuperar Edessa e controlar as forças muçulmanas no território, outros cruzados dirigiram-se para a península ibérica para combater a ofensiva muçulmana, ou para as margens do Mar Báltico para combater os pagãos Wends.
Entretanto, o conhecimento da existência de uma segunda cruzada colocou o imperador bizantino, Manuel I Comeno (1143-1180), numa posição crítica quanto à estabilidade política com o sultão de Rüm. Deste modo, em 1146, o imperador fez uma trégua com o sultão de forma a garantir que a Cruzada não levasse o sultão a atacar terras bizantinas na Ásia.
Os exércitos ocidentais partiram da Europa em 1147, e chegaram de forma assíncrona a Constantinopla. Conrado alcança o território primeiro e antecipa-se na entrada dos conflitos com os muçulmanos, desobedecendo às instruções do imperador. Acabou por sofrer baixas junto do exército turco, de tal modo que o restante contingente se aliou aos templários e aos franceses.
Em Novembro de 1147, as hostes francesas e alemãs reúnem-se em Niceia e seguem a rota pelo litoral até alcançarem Éfeso, todavia, Conrado III, teve de regressar a Constantinopla por motivos de saúde, mas de onde partiu, poucos meses depois, por via marítima, para Acre. Aí chegou em Abril de 1148.
Entretanto o contingente francês de Luis VII dirigiu-se para Antióquia, onde veio a envolver-se num conjunto de conflitos sem qualquer sucesso, e onde perdeu recursos. Durante esse período veio também a concluir que a tomada de Edessa seria impossível dado que Nūr al-Dīn tinha massacrado os habitantes da cidade, e não havia recursos humanos disponíveis que a pudessem manter e sustentar.
A hoste francesa dirige-se para Jerusalém e junta-se à de Conrado III. Aí formou-se um plano para cercar Damasco (1148), uma cidade governada por um muçulmano disponível para cooperar com os cristãos, tendo em conta o seu receio de Nūr al-Dīn. O ataque contaria com o apoio de Balduíno III (1143-1162). Contudo, após 4 dias de cerco, a proximidade do exército de Nūr al-Dīn, levou à retirada dos cristãos.
Acontecimento que deu origem à desintegração da cruzada, com profundos antagonismos entre cristãos e gregos, primeiro derivado da trégua do imperador com os turcos de Iconio, depois dos conflitos entre o monarca francês e as forças bizantinas e, por fim, por este mesmo monarca ter condenado o imperador pelo insucesso da segunda cruzada.
Entretanto, Nūr al-Dīn consegue unificar a Síria contra os cruzados em 1154, com a tomada de Damasco. Balduíno III, governante de Jerusalém, é sucedido pelo seu filho Amalrico I (1163-1174) que mantém as querelas com Nūr al-Dīn até este entrar no Cairo em 1169 e ser sucedido por Saladino (1174-1193).
Saladino foi um adversário temido pelos reinos cristãos. Torna-se sultão do Egipto e a partir daí consegue restaurar a unidade do Islão semita, constituindo nova ameaça às portas do mediterrâneo e no próximo oriente, onde cercou os estados cruzados. Apesar de depois da morte de Almarico I haver um sucessor, Guy de Lusignan, este foi capturado por Saladino numa batalha em Chiffres de Hattin, em 1187.
A 2 de Outubro de 1187 Jerusalém é tomada pela ofensiva muçulmana liderada por Saladino, sobrando apenas Antioquia, Tiro e Trípoli nas mãos dos cristãos. Este foi o acontecimento que levou à organização da terceira cruzada.
Nesta conjuntura, Constantinopla envolve-se num processo de quezília com Veneza. Recordamos que os venezianos mantinham uma boa relação com os bizantinos no âmbito da 1ª Cruzada, porém, quando a influência comercial das cidades de Pisa e Génova no oriente aumenta, os venezianos decidem atacar os seus entrepostos, apesar destes terem sido estabelecidos com a autorização de Constantinopla. Isto resulta em relações nocivas entre os dois anteriores aliados, logo em 1171.
Entretanto, também o antagonismo entre cristãos e latinos bem como entre cristãos e gregos intensifica-se com o massacre de população que segue o rito latino ocidental, em 1182. Esta situação aliada ao instável palco político deu margem para todo o tipo de interferências. Assim, um Imperador pró-latino (a favor da Igreja Católica) é deposto em prol de um pró-grego (a favor da Igreja Ortodoxa).
Em suma, a segunda cruzada não desempenhou qualquer papel a oriente, dado que Edessa não reconquistada e Jerusalém continuava a enfraquecer até ser definitivamente tomada por Saladino, contudo, como vimos, com a autorização do Papa, os cruzados flamengos e ingleses participaram na reconquista de Lisboa (1147), facto fundamental para o desenvolvimento do Reino de Portugal, assim como nas lutas contra os pagãos de Wend no mar Báltico.
Nota: As datas colocadas adiante dos nomes reportam-se ao período de reinado ou pontificado, com a excepção das datas atribuídas a Zengui, a Nūr al-Dīn e a S. Bernardo de Claraval que se reportam ao nascimento e morte.
Bibliografia
NICHOLAS, D. (1999). Nobres e Cruzados. In A Evolução do Mundo Medieval. Sociedade, governo e pensamento na Europa: 312-1500. Lisboa, Publicações Europa-América.
Thomas F. Madden, Marshall W. Baldwin et al., «Crusades» in Encyclopaedia Britannica [em linha], Chicago, Encyclopaedia Britannica, Inc., 25 de Outubro de 2019, atual. 2020 [consult. a 15 de Julho de 2020]. Disponível online/ na Internet: < URL: https://www.britannica.com/event/Crusades>