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“A História deve ensinar-nos, antes de mais, a ler um jornal”

“A História deve ensinar-nos, antes de mais, a ler um jornal”

Pierre Vilar (1906-2003) escreveu a citação que nos serve de título. Um historiador francês, integrado na Escola dos Annales, que testemunhou os acontecimentos mais notáveis de todo o século XX, na Europa e no mundo.

Antes de avançarmos para os fundamentos do texto, contemplemos brevemente a sua biografia: estudou Geografia na Escola Normal Superior de Paris e foi bolseiro na Casa de Válazquez, em Barcelona. Serviu o exército francês na 2ª Guerra Mundial e esteve em cativeiro na Alemanha, na Polónia e na Áustria. Foi membro e director na École de Hautes Études de París, professor catedrático na Universidade de Sorbonne e Presidente da secção occitana do Centro de Irmandade Occitano-Catalão. Galardoado com duas medalhas de ouro, uma da Generalidade da Catalunha, outra do Mérito nas Belas Artes, Grã-Cruz da Ordem Civil de Afonso X, o Sábio, Premi Internacional Ramon Llull. É considerado um dos mestres da história espanhola. Apesar de ter cegado em 1991, continuou a publicar artigos que viriam a integrar o seu espólio de mais de uma centena de contributos.

É inquestionável que se trata de uma verdadeira autoridade moral para nos aconselhar a ler o jornal!

O texto que se segue é uma breve reflexão interpretativa acerca desta sua citação. O que significa? Porquê o jornal? Em que medida relaciona o Passado com o Presente? Que intenção pode estar subjacente a esta afirmação?

A posição de Marc Bloch face ao vínculo do Passado com o Presente, pode contribuir para justificar os fins da afirmação de Pierre Vilar: “A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas não vale a pena esgotar-se para compreender o passado quando nada se sabe do presente” (p.100).

Em boa verdade, o que ambos os historiadores pretendem demonstrar é que a História é uma ferramenta de compreensão da realidade. Esta última, no que lhe concerne, é o produto da soma dos fenómenos do Passado com os do Presente.

Relativamente ao Presente, Pierre Vilar, recorre ao jornal por este ser uma fonte de informação expressiva da actualidade. Momento onde ocorrem dúvidas e questões que contribuem para alimentar a continuação do estudo dos fenómenos históricos.

Por sua vez, sem o conhecimento histórico produzido pelos investigadores, não haveria como justificar o que sucede no Presente, uma vez que o Passado permite compreender os acontecimentos do Presente através do estudo das suas raízes históricas (mais ou menos distantes), e de onde, muitas vezes, provêm respostas para fomentar resoluções no Presente.

Essa relação interactiva entre o Presente e o Passado faz do jornal um objecto de eleição. Permite-nos compreender quem é que, em determinado momento, lidera e como o faz, como vive a sociedade sob certos domínios, qual o estado da economia, e de tudo aquilo que compõe o desenvolvimento humano. Contudo, a informação jornalística não é apenas o produto do que se lê. Esta desdobra a sua natureza em informação directa e indirecta, pois, os conteúdos divulgados são filtrados e seleccionados. Derivado destes processos, também se observam as intenções com que foram escritos. Assim, o jornal, tanto oferece um enquadramento dos temas actuais quanto da mentalidade adjacente, e ambas as perspectivas concorrem para um entendimento dos processos sociais pelos quais se conceberam certos fenómenos e alertam para outros em desenvolvimento ou ascensão. Os quais, (nunca é demais reforçar), sem recorrer ao conhecimento histórico não se podem compreender. 

Não nos olvidemos, que Vilar e Bloch foram vítimas do regime Nazi, e Bloch o foi fatalmente. Na raiz da citação de Vilar, também estará a intenção de alertar para que certos erros do Passado não se repitam no Presente. Só com a democratização da informação, só com o perpétuo debate e afincado estudo, se podem combater as formas hegemónicas de governo, as ideologias supremacistas e tudo quanto resida na ignorância. A ascensão do regime Nazi, bem como as atrocidades sob a sua égide cometidas, deveram-no também à ignorância, ao desespero e ao esquecimento.


Bibliografia

Bloch, M., Bloch, É., Le Goff, J. (1997). A História, os Homens e o Tempo. In Introdução à História (pp.85-102). Mem Martins, Portugal: Publicações Europa-América, Lda.

Vilar, P. (1999). Prólogo. In Iniciación al Vocabulario del Análisis Histórico (p.12). Barcelona, Espanha: Editorial Crítica.



Imagem:Expresso 04/02/2017

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2 respostas

  1. Artigo simples mas rico em conteúdo, que destaca a importância do jornal, enquanto uma das fontes mais fidedígnas no que toca à pesquisa histórica, tanto a nível social, económico e até político, entre outros.
    Os meus Parabéns!!

  2. Muito interessante e pertinente o seu artigo, Dra. Diana!!.De facto, e ao nível do senso comum e minha perspetiva, este assunto que nos trouxe alertou-me para um olhar mais atento e reflexivo sobre as notícias de hoje, mas também o questionamento e curiosidade de perceber os antecedentes, que fenómenos histórico-sociais e políticos concorrerem para a realidade atual. Grata pelo seu trabalho!!

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