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A comer camarões na foz do Vuri.

A comer camarões na foz do Vuri.

Civitates Orbis Terrarum.
Atlas de Blaeu van der Hem.

Há meio milênio e meio século, Fernando Pó, chegava ao Golfo de Biafra, a uma ilha que ali há, hoje chamada Bioko, que por séculos terá seu nome, Fernando Poo, à maneira espanhola, Espanha a irá possuir, assim como a Ano Bom, depois da permuta feita com Portugal em 1778 no Tratado de El Pardo, na sequência do de San Ildefonso, do ano anterior, entre D Maria I e Carlos III, trocando-as por grande parte do pampa gaúcho, das eternas disputas no sul do Brasil, sendo que as duas potencias cerca de duas décadas depois já estavam em guerra novamente, a das laranjas. Já a ilha manterá o nome português, o do português seu ‘descobridor’, até 1968, Fernando Pó, mas sempre à maneira espanhola sem acento e com dois os, só depois se chamará Bioko. O que nos leva a perguntar entre outras coisas: O que fazia Isabel II em Fernando Poo em 1868? Cuja resposta é simples para um filatelista, estava nos primeiros selos da Ilha, e, é claro, refiro-me a Isabel II de Espanha (1830 – 1904).

Trabalhando para Fernão Gomes, que era da família dos Britos, e que depois ficou da Mina, um rico comerciante lisboeta que arrendou por duzentos mil reais o monopólio do Golfo da Guiné a D. Afonso V em 1469, e que, pelo contrato, tinha de todos os anos explorar cem léguas da costa da Guiné, tendo para isso, por sua vez, contratado grandes navegadores: Pêro Escobar, João de Santarém, os pilotos Martim Fernandes, um lisboeta que vivia em Lagos, assim como Álvaro Esteves, além de Fernando Pó, como dissemos. Fernão Gomes com esse arrendamento fez rica fazenda (mesmo muito dinheiro).

Só Fernão Gomes podia comerciar a Malagueta.

Por mais cem mil reais anuais também conseguiu o monopólio do comércio da malagueta, Aframomun malegueta, um substitutivo da pimenta preta, Piper nigrum, a cobiçada especiaria que depois do descobrimento do Brasil, lá passou a ser chamada de pimenta do reino, visto toda ela vir de Portugal, que a trazia do subcontinente indiano, retirando grande parte desse comércio aos mercadores muçulmanos, que o faziam há séculos.

Almina da Guiné.

Almina do Ouro, do nome pelo qual Fernão Gomes ficou conhecido, era também o nome do forte que ali se fez, o desta cidade, Elmina, que, como o de Lisboa, teve devoção a São Jorge, construído em 1471 para impor controle à grande quantidade de ouro de aluvião que todos os anos era comercializada nesta zona da costa guineense, 310 quilos. Almina, onde Al em árabe é o mesmo que El, de El Rei, é os artigos definidos, que em árabe junta-se ao nome, daí tanto al-qualquer-coisa que há em português. E era Al o que? Era a Mina. Que mina? As muitas de ouro que haviam por alí, no ponto da pequenina vila deste nome, onde Fernão Gomes fez construir o forte – Castelo de São Jorge de Elmina, como foi batizado – que ainda podemos visitar, e que pode ser apreciado em todo seu esplendor no Atlas de Blaeu van der Hem (1663), ou antes no ‘Civitates Orbis Terrarum’ de Braun e Hogenberg (1572) de quando surgiram novos mundos no mundo. O nome da sua feitoria ficou colado ao seu, passando a ser chamado Fernão Gomes da Mina. Com o passar do tempo (Fernão ainda irá morrer no XV) El-Rei D. João II constitui por carta régia de 1485, como donatários dois parentes de meu bisavô materno, que guardavam como apelido o nome do rio de sua terra, Barrelas, João de Paiva e sua filha Mécia, sendo doada a cada um metade de São Tomé, deixando o segundo João equacionada a situação para a época de sua morte, que ocorrerá uma década depois da Carta Régia, assim como a de Fernão, que se terá dado um pouco antes. Portugal irá seguir em frente, e percorrer toda África, de leste a oeste e de norte a sul, de costa a contra-costa, deixando a marca de sua presença em grande parte deste continente.

Logo após à construção da Fortaleza da Mina, dando prosseguimento ao encargo contratual de explorar cem léguas de costa todos os anos, o navegador, explorador-marinheiro, contratado por Fernão Gomes, Fernando Pó, encontra a foz de um rio mui límpido, onde se apanhavam muitos saborosos camarões, ao qual ele denominou com o nome dos crustáceos decápodes, assim mesmo no plural, nome que se perpetuou na região, designando primeiro o rio Vuri, que passa a Rio dos Camarões, logo depois à faixa de costa da Guiné onde este desembocava, mais precisamente no Golfo de Biafra, uma reentrância do da Guiné, e por fim ao país que se forma na região ocidental da África Central, além Sahara, com suas planícies, pradarias e florestas húmidas, muito agradáveis, este país multi-étnico, com mais de duzentas etnias, plural em tudo, até no nome, Camarões.

O nome Mina.

Como vimos vem de Elmina, a mina, que nossos dicionários apontam vir do francês ‘mine’, que também é, mas muito antes já era palavra nossa, e por não termos estudado bem a etmologia, chamamos o francês para o dilema. Mina deverá vir de ‘meina’, que quer dizer metal; que também por aferese de hemine, se formou a designar uma antiga medida de volume romana difundida em todo o mundo, herdada, como quase tudo na Roma, da Magna Grécia, onde ‘mina’ era unidade de peso, que os gregos foram buscar aos babilônios, que a tinham como unidade de massa e moeda, aliás, muito difundida pelo oriente próximo, 60 xequéis, a ‘mna’ grega, o ‘mene’ aramaico, o ‘mein’ hebraico que significava uma dose, e que pode ser também traduzido por ‘Deus me dá a luz’, que era a medida usada em Almina para comerciar o ouro, que é um metal – meina – que extraiam de suas minas.

Para lembrar.

É esta crônica para lembrar os que ficam citados, mais os Fulas, a Fatah, que vieram depois disso, Arguin, que veio antes, o Infante D. Henrique, o Navegador, que nunca saiu de Sagres, e desbravou meia África, a ínclita geração a que ele pertencia, e tudo o mais que nunca, mesmo NUNCA, PODEMOS ESQUECER.

Imagem de capa: Atlas Blaeu-Van der Hem – Österreichische UNESCO-Kommission
Crédito Fotográfico: © Österreichische Nationalbibliothek – ÖNB

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