Dra. Sancha de Campanella (Instituto Superior de Administração e Línguas)
Dr. Luís Sardinha (Instituto Superior de Administração e Línguas)
Pretende-se com o presente trabalho, através da explanação e contenda da realidade ao nível da oferta do Ensino Superior na Região Autónoma da Madeira provocar um exercício de reflexão por parte do leitor relativamente a este tema. Sim, o título está escrito no tom provocatório, queremos a sua atenção.
A tomada de decisão para aceder ao Ensino Superior depende de várias variáveis, tornando-se complexa. Aquando a tomada de decisão, devem ser equacionados diversos fatores quer sejam sociais, económicos ou mesmo culturais. Um correto aconselhamento, poderá fazer a diferença entre o estudante prosseguir a sua valorização pessoal através do ingresso no Ensino Superior ou a procura por outra alternativa.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), no seu documento anual “Education at a Glance” (2018), salientou que, relativamente à realidade portuguesa, o prémio salarial de um licenciado, comparativamente a quem acabou secundário é 69% superior, sendo a média europeia de 53%. Dados provenientes do Instituto Nacional de Estatística (2018), informam que, em média, os salários pagos aos licenciados no país estão situados nos 1 223 euros. Foi possível também constatar que a taxa de desemprego de elementos que possuem qualificação ao nível do Ensino Superior foi de 6,5 % fase aos 9% sem Ensino Superior.
A Fundação Francisco Manuel dos Santos, em 2017, publicou um relatório denominado “Benefícios do Ensino Superior”, mencionam uma empregabilidade de trabalhadores com Ensino Superior mais elevada (85%) em comparação a trabalhadores com Ensino Secundário (79%).
Através destes estudos conseguimos evidenciar algumas das vantagens em prosseguir os estudos ao nível Superior. Os benefícios para o estudante são elevados, quer seja na obtenção de emprego, quer seja a nível salarial. Existem algumas opiniões contraditórias e que levantam a questão: o Ensino Superior ainda vale apena? Pensamos nós, que a questão está mal formulada. Não se deve questionar se ainda vale apena, mas sim questionar o seguinte: atualmente o Ensino Superior está mais competitivo e desafiante? Podemos sim, afirmar que o ambiente está mais competitivo e desafiante. Mas este ambiente é reflexo da sociedade que estamos inseridos. Estamos inseridos numa realidade em que o mundo está global, a digitalização das coisas permite às comunidades estarem mais próximas. A competitividade é transversal a qualquer ambiente quer seja laboral ou social. E, por vezes, esta dificuldade acrescida, a resistência à mudança, pouca motivação e não conseguir lidar com situações novas, faz com que se percorra o caminho mais acessível.
Numas perspetivas salienta-se que o ensino superior é o culminar de doze anos de dedicação, noutras o ensino superior é o inicio de algo. Em reflexão, para os autores, o ensino superior é uma ponte. O ensino superior permite uma conexão com o exterior através das competências adquiridas e rede de contactos criada, por exemplo. E, concomitantemente uma ligação interior, pois permite que, através das conquistas e dificuldades, aspetos positivos e negativos inerentes a todo este percurso, que o estudante se encontre e sinta-se realizado. Existe de facto uma valorização pessoal, sentimento de realização e capacidade.
Sintetiza-se, na nossa observação e perspetiva, alguns dos vários benefícios em ingressar pelo ensino superior:
Desenvolvimento intelectual. O ingresso no ensino superior obriga os alunos a sair da sua zona de conforto. Estimula positivamente o raciocino intelectual através de novos desafios colocados a estes.
Orientação vocacional. Ingressar no Ensino Superior permite os alunos desenvolver as suas competências nas áreas de interesse tornando-se profissionais competentes e concretizados.
Sentido de pertença/inclusão. O percurso no ensino superior é algo que marca a vida dos estudantes. Os desafios, as alegrias, a partilha e as experiências vividas são recordadas de forma saudosa entre amigos em reencontros.
Rede de contactos. Tanto para atuais alunos como alunos Alumni (antigos alunos que já não frequentam o ensino superior, mas identificam-se com a sua alma matter e comunidade académica), ingressar no Ensino Superior, permite os alunos saírem do seu ciclo de amigos e criar novos laços e relações com terceiros contribuindo para uma afirmação pessoal e posicionamento numa sociedade global.
Diana Vieira em 2018, no seu estudo denominado “Determinantes e significados do ingresso dos jovens no ensino superior”, procurou compreender as razões que condicionam a opção dos jovens no sentido de prosseguir, ou não, formação de Ensino Superior. Nas suas reflexões, a autora, identifica por um lado facilitadores para o acesso ao Ensino Superior tais como a influencia social (professores e psicólogos), expetativas positivas de retorno sobre investimento (possibilidade de sucesso na vida profissional), interesses académicos (gosto por estudar). Por outro lado, como inibidores, ressalva os requisitos e condições de acesso ao Ensino Superior (provas de ingresso e exames), barreiras financeiras (propinas e custos mensais relacionados), expetativas negativas de retorno sobre o investimento numa qualificação de nível superior (referido que não traz benefícios em termos de sucesso profissional) e indecisão vocacional também associado à falta de conhecimento sobre o Ensino Superior. Resume-se assim o paradigma sentido por centenas de alunos do Ensino Secundário aquando a decisão de ingressar ou não no Ensino Superior. Para os alunos que residem em locais e regiões periféricas este paradigma intensifica-se dificultando a decisão. O nosso conselho, vão, sigam não olhem para trás e mergulhem de cabeça.
Em Portugal, bem como em toda a Europa, vigora desde 1999, o tratado de Bolonha que se traduz num acordo. O acordo estabelecido entre 29 países europeus, teve e tem o objetivo de estruturar o Ensino Superior na Europa permitindo a liberdade competitiva e transparência do Ensino Superior, facilitando a livre circulação de alunos, professores e investigadores. Traduz-se numa unificação do conhecimento e concorrência justa e equilibrada. Os países assinantes passaram a ter um Ensino Superior renovado, com a mesma dinâmica, estrutura e tempo de duração. O ensino tornou-se mais atual e transversal, possibilitando a troca de experiências através de programas tais como ERASMUS +. Através do processo de Bolonha e da criação de um Espaço Europeu de Ensino Superior, foi possível aproximar culturas e conhecimentos, um estudante pode estudar em Itália, Lisboa, Porto ou na Madeira, mantendo de forma idêntica a qualidade e os conteúdos lecionados.
Quanto à realidade da Região Autónoma da Madeira, nesta região existem três Instituições de Ensino Superior, duas privadas (Instituto Superior de Administração e Línguas (ISAL) e Escola Superior de Enfermagem de São José de Cluny (ESESJC)) e uma pública (Universidade da Madeira (UMa)). As IES privada na RAM são ambas ensino politécnico enquanto a IES publica congrega ensino Universitário e simultaneamente escolas politécnicas.
Evitando redundância de informação, remetemos para a leitura do artigo “Abandono Escolar – Mecanismos de ação no pressuposto da realidade verificada ao nível das Instituições de Ensino Superior Privadas na Região Autónoma da Madeira”, publicado aqui no jornal científico APátria, que contempla mais informação sobre as IES da RAM ().
O ISAL com formação na área do turismo e da Gestão, a ESESJC com formação na área da enfermagem, e a UMA com formação variada desde a engenharia à biologia.
A Região Autónoma da Madeira, conta com mais de 30 anos de história relativamente ao ensino superior. Deixa de estar numa fase embrionária e apresenta-se à comunidade em geral, com uma estrutura e filosofia amadurecida capaz de gerar profissionais de excelência. A titulo de exemplo podemos consultar em pleno ano de 2019, diversos profissionais inseridos em posições de relevo em diversas organizações públicas ou privadas da RAM. Na realidade do ISAL assistimos a alunos a ocupar cargos de diretores em diversas organizações nas mais distintas áreas, inclusivamente na Direção do próprio ISAL. Na realidade da Universidade da Madeira existem enfermeiros que após inseridos no mercado de trabalho e reconhecido as suas competências nas diversas valências, foram convidados a ocupar cargos de liderança em hospitais privados ou mesmo alunos de desporto a ocupar lugares de relevo na Secretaria da Educação.
Analisando a oferta formativa ao nível do Ensino Superior em Portugal, tendo por base dados disponibilizados pela Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) em 2017, relativos ao ano letivo de 2016/2017, existiam um total de 772 licenciaturas agrupadas em 10 áreas científicas. Quanto ao número de estabelecimentos em Portugal existem 80 Estabelecimentos de Ensino Superior Privados e 37 Instituições de Ensino Superior Públicas.
Dados provenientes de um trabalho realizado no âmbito do Observatório do Sucesso Escolar, por parte do Instituto Superior de Administração e Línguas, permitem verificar o que se passou ao nível Ensino Superior no ano letivo de 2016/2017. O trabalho mencionado procurou investigar quantos estudantes residentes dos concelhos da ilha da Madeira estão inscritos na numa IES de Portugal continental e quantos estão inscritos numa IES da RAM, bem como averiguar quais as áreas científicas das IES das RAM mais procuradas pelos estudantes residentes na ilha da Madeira.
Na Região Autónoma da Madeira existiam, no ano letivo de 2016/2017, 26 licenciaturas de 1º ciclo alcançando 9 das 10 áreas científicas. Estas licenciaturas de 1º ciclo representam cerca 4% do total da oferta formativa ao nível do ensino superior em Portugal. Verificaram que quase de metade dos alunos inscritos no 1º ciclo de estudos e residentes na RAM (49%), cerca de 2200 alunos, estudam numa IES na RAM. Os concelhos que apresentam menos alunos inscritos numa IES da RAM são Porto Moniz e Porto Santo. Os que apresentam mais alunos são Funchal e Santa Cruz. As áreas científicas que apresentam mais alunos inscritos são: Áreas de Economia, Gestão e Contabilidade e Áreas de Direito, Ciências Sociais e Serviços. Na área de Economia, Gestão e Contabilidade a licenciatura com maior adesão é o de Gestão e na Área de Direito, Ciências Sociais e Serviços sendo a licenciatura de Comunicação, Cultura e Organizações a que tem maior adesão. Voltamos a salientar o facto que as três IES na RAM, conseguem em média angariar cerca de metade dos alunos que ingressam no ensino superior.
Esta realidade traduz o esforço contínuo das IES da RAM em apresentar uma oferta atual, diversificada e qualificada. Falando um pouco na realidade do ISAL, este detém uma filosofia de aprendizagem do saber-fazer. O estágio assume uma posição de relevo, permitindo a aprendizagem na prática. Assistimos a bons números de empregabilidade, alunos internacionais a escolher as IES da RAM para completar a sua formação superior, renovação e modernização contínua e sistemática das instalações e forte incidência numa formação de base humanista.
Queremos demonstrar com estes exemplos que o acesso e disponibilidade do Ensino Superior é uma realidade ao alcance de qualquer um. Para a realidade da Região Autónoma da Madeira a realidade ao nível do Ensino Superior no Continente deixa de ser única. Temos uma oferta formativa de qualidade de adequada às necessidades, os números, os esforços diários por parte das IES da RAM e exemplos fundamentam este argumento.
Após este pequeno exercício de reflexão procuramos deixar patente que independentemente da escolha da instituição de ensino superior, existe sempre ganhos e experiências de aprendizagens positivas para todos os intervenientes nesse ambiente. Deixamos e queremos com isto ressalvar que o acesso ao ensino superior é para todos, e deve ser uma opção válida para quem quer se inserir no mercado de trabalho. Mais importante que qual o sitio é dar o primeiro passo e ir. Hoje existe uma enorme e válida oferta ao nível do ensino superior, bem como apoios aos estudantes que ingressam.
Antes de terminar este artigo deixamos mais uma reflexão ao leitor: o mercado de trabalho está mais competitivo, cabe a nós dotar-nos de competências diferenciadoras.
Referências:
Direção-Geral do Ensino Superior. (2017). DGES. Retrieved February 21, 2018, from http://www.dges.gov.pt/pt
Escola Superior de Enfermagem São José Cluny. (2019). ESESJCluny – Historial – Historial. Retrieved January 16, 2019, from http://www.esesjcluny.pt/index.php/informa-institucional-mainmenu-1/historial-mainmenu-28
Figueiredo, H., Portela, M., Sá, C., Cerejeira, J., Almeida, A., & Lourenço, D. (2017). Benefícios do ensino superior. Retrieved from https://www.ffms.pt/FileDownload/d2f74ebd-0bd2-4a4c-9207-16040afeed55/beneficios-do-ensino-superior
Instituto Nacional de Estatística. (2018). Portal do Instituto Nacional de Estatística. Retrieved September 21, 2018, from https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=320462327&PUBLICACOESmodo=2
ISAL. (2018). Isal. Retrieved February 21, 2018, from http://www.isal.pt/ISAL/Sobrenós/História.aspx
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