Hoje sugiro que reflita sobre as práticas pedagógicas no ensino superior. Este exercício poderá resultar na constatação de que, na sua forma tradicional, as estratégias de aprendizagem nas instituições de ensino superior envolvem a realização de palestras para grandes grupos de estudantes, acompanhadas de tutoriais e oficinas. Acresce o estudo autónimo por parte dos estudantes. Está errado?? Não, mas podemos pensar também em muitos outros modos de promover a aprendizagem dos estudantes, nomeadamente, pelo recurso à implementação da sala de aula invertida (flipped classroom), a aprendizagem baseada em problemas, a aprendizagem em contexto, os MOOCs, e muitos outros. Dá muito trabalho, pensarão alguns? Nem por isso😊 dá o mesmo trabalho que qualquer outra estratégia pedagógica. Só tem de pensar diferente!
As informações apresentadas abaixo foram projetadas para fornecer uma visão geral de alguns métodos pedagógicos que poderá considerar aquando do desenho da instrução. O objetivo é que os estudantes aprendam, e com muito gosto😊.
Podemos começar pelas palestras. Esta é uma das práticas mais comuns nas instituições de ensino superior. Vamos pensar criticamente sobre as palestras que promovemos e como aumentar o seu impacto e envolvência. O segredo é encontrar uma forma de as tornar memoráveis para os estudantes. Que passado uns anos ainda se lembrem daquela aula…daquela palestra!
As palestras são uma parte significativa da experiência de aprendizagem de um estudante do ensino superior e são um meio eficiente de partilha de conhecimento. Não obstante, há que refletir na perspetiva dos estudantes. As palestras são uma maneira particularmente eficaz para que os estudantes aprendam? Sim e Não! Ouvir passivamente uma palestra pode ser útil para promover a aprendizagem na extremidade inferior de uma taxonomia de aprendizagem como – ‘lembrar’ e ‘entender’ – mas não é tão eficaz na promoção de competências de nível superior como ‘aplicar’, ‘analisar’ e ‘avaliar’.
Procure refletir na melhor forma de envolver os estudantes durante as palestras e na possibilidade de reduzir o tempo de exposição, de modo a não perder a atenção dos participantes. Iniciar com um desafio poderá ser uma boa estratégia. Investigações mostram que a atenção do público numa palestra começa a diminuir a cada 10 a 20 minutos. Para combater essa queda na concentração, porque não recorrer a abordagens diferentes? De seguida serão apresentadas algumas das possibilidades.
A sugestão poderá passar pelo recurso à aprendizagem ativa num caminho para a memorização e a compreensão mais profunda da mensagem. Desta forma pretende-se que os estudantes se envolvam ativamente em interações cognitivas e sociais significativas em vez de assumirem uma atitude passiva de recetores de conhecimento. A sua implementação poderá resultar na aprendizagem baseada em problemas, numa abordagem centrada no estudante, na qual se pretende que este aprenda sobre um assunto através da compreensão e resolução de problemas. Este contexto permite que os estudantes se tornem mais ativos no processo de descoberta e na forma de resolver uma situação específica. Esta é uma competência importantíssima nos dias de hoje que também pode ser desenvolvida quando os estudantes estão a trabalhar em pequenos grupos, seja em seminários, tutoriais, práticas e laboratórios, bem como com seus colegas fora das sessões programadas (tempo de estudo autónomo).
Trabalhar em pequenos grupos pode permitir que os estudantes desenvolvam uma variedade de competências colaborativas, muitas vezes difíceis de desenvolver em situações de estudo individual. E por que não lembrar práticas ancestrais da aprendizagem pelo mestre? as aulas demonstrativas permitem melhorar a compreensão dos estudantes sobre questões de natureza prática. Na sua implementação, os estudantes têm a oportunidade de realizar experiências, resolver problemas, realizar pesquisas e trabalhos de projeto onde aplicam as teorias estudadas. Estas demonstrações podem ser conduzidas pelo professor ou com suporte à aprendizagem conduzida por estudantes, na qual são os próprios que facilitam a aprendizagem dos colegas. Muitas vezes são estudantes de um ano anterior que orientam os colegas em atividades de grupo para discutir materiais e resolver problemas. Este contexto é útil na reflexão sobre o que foram ensinados anteriormente e incentiva a aprendizagem colaborativa.
E por falar em colaboração, podemos também pensar em trazer o conceito de MOOC para o ensino dito mais tradicional. Os MOOCs (Massive Open Online Course) são cursos online, abertos à participação de todos, e maioritariamente gratuitos. Estes cursos oferecem uma oportunidade para reinventar a forma como idealiza o currículo. O EIPP (Unidade de e-Learning e Inovação Pedagógica do Politécnico do Porto) oferece vários cursos MOOC, que são planeados, estrategicamente, para o potenciar o desenvolvimento em diferentes áreas de conhecimento (http://e-ipp.ipp.pt/mooc/) 😊.
Tudo isto é muito interessante, mas nada como promover efetivamente experiências de trabalho real. A aprendizagem no local de trabalho, e/ou em parceria com entidades externas à instituição de ensino, permitir que os estudantes experimentem as teorias apreendidas, numa prática específica. Vamos lá tentar estreitar caminhos entre a sociedade e a escola! Não é fácil, e afirmo com conhecimento de causa, mas não podemos desistir de uma tão importante forma de promover a aprendizagem!
Para que esta lista não se torne muito exaustiva, deixo aqui uma última sugestão, a possibilidade de implementar uma abordagem “invertida” (flipped classroom) solicitando aos estudantes que assistam ao conteúdo de vídeo antes da sessão da aula e dediquem o tempo da aula em atividades de discussão, a resolver exercícios e projetos. Trata-se, portanto, de “ouvir” o professor em casa e fazer o “TPC” (trabalho de casa) na aula. O vídeo é visto como o ingrediente chave na abordagem invertida. As aulas em vídeo são criadas pelo professor ou com recurso a materiais de acesso livre na web.
Não podia encerrar sem falar da … Aprendizagem mista (blended-learning), a grande pedra angular, e que me desculpem os que ansiavam pelo fim:😁 E que tal uma redução efetiva do número de aulas presencias? É muito arrojado? Talvez, mas dessa forma teremos mesmo de fazer um esforço para pensar diferente no que concerne ao desenho do currículo. Teremos mesmo de fazer com que as aulas presenciais sejam realmente memoráveis e as componentes mais teóricas sejam desenvolvidas online. Considere a possibilidade de serem as aulas presenciais a darem apoio às aulas online. Trata-se da aprendizagem online combinada com a aprendizagem em sala de aula tradicional. A aprendizagem mista (também conhecida como aprendizagem híbrida) permite que os estudantes tenham mais controlo sobre o seu tempo e ritmo de aprendizagem. Percebemos assim que o blended-learning é mais do que a disponibilização de conteúdos online, a sua implementação implica uma alteração de paradigma educacional, que exige a inovação pedagógica para a integração de teorias e práticas de aprendizagem presencias e online, num redesenho multimodal, multilinear e flexível.
Agora sim, para fechar, desejo que este texto lhe tenha aguçado o apetite para a implementação de ambientes de aprendizagem memoráveis e prazerosos para todos os intervenientes!
e-saudações
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