No fim do mês de julho o ator Caio Castro viralizou na internet brasileira por ter questionado, no podcast Sua Brother, uma certa “obrigação cultural do homem” em ter que pagar a conta de encontros nos bares e restaurantes [1]. Como em toda polêmica, houve gente defendendo, mas também muita crítica. Assuntos que envolvem direta ou indiretamente feminismo e conflitos de gênero costumam ser um vespeiro, do qual esse artigo, sem sombra de duvida, vai cair. Até porque não pretende dele escapar (caso contrário, sequer seria escrito).
O ator diz: “Tem uma diferença entre você pagar a conta e você ter que pagar a conta (…). Me incomoda muito, que é o que eu não quero, de eu ter que sustentar, de eu ter que pagar, eu ter que isso… eu tenho que porra nenhuma. (…) Pediu a conta, não se mexeu, não perguntou, nunca, como se eu tivesse esse papel?! Não é minha filha, caralho”.
Como muita coisa que viraliza na internet é amplamente repercutida sem ser checada na fonte original, é bem possível que esse também seja o caso da polêmica envolvendo a declaração. Caio Castro não se refere a um encontro específico, mas a situações continuadas, que se repetem com frequência com uma mesma pessoa. Isso fica claro quando ele afirma, sobre a conta: “Não se mexeu, não perguntou, NUNCA”. Ou seja, uma rotina, um processo comum e com base cultural que consiste em uma certa obrigação tácita de o homem ter que pagar a conta.
Houve distorções e exageros para os dois lados: o dos críticos e o dos defensores do ator. Aqui vamos nos focar nos críticos. Em grande medida, houve muita reclamação da parte dos que criticaram a declaração, predominantemente mulheres (mas não apenas), sobre o uso do verbo “sustentar”, que, de fato, é um termo infeliz para se referir ao pagamento de uma conta. Embora, como já dito, o ator não estivesse falando exatamente do pagamento de UMA conta, mas de VÁRIAS, de uma situação que se prolonga porque tem base cultural. Ainda assim, “sustentar” continua sendo um verbo forte e inadequado.
Porém, o uso da palavra “sustentar” não pode ser visto como o principal problema ou o estopim da “treta”. É possível que se a palavra não fosse usada talvez toda a declaração do ator passasse despercebida. Entretanto, a polêmica ocorre porque o tema em si é sensível, envolvendo desconstrução de papéis de gênero, os modos como o capital atravessa os relacionamentos amorosos e as contradições do feminismo. Sim, porque todos os “ismos” têm as suas contradições. E elas devem ser discutidas, senão viram dogma, viram religião. No meio desse vespeiro, apegar-se ao uso da palavra “sustentar” é só usar um bode expiatório retórico para reclamar de uma contradição jogada no ventilador.
A professora de sociologia e filosofia Renata Esteves, que com frequência aborda temas ligados ao feminismo [2], do canal de Youtube “Se liga – Enem e Vestibular”, manifestou-se em seu Facebook e Instagram sobre a polêmica. Primeiro, vejamos o que ela diz no Facebook:
É sério que esse assunto do Caio Castro tá rolando tanta polêmica assim? Tem mulher achando absurdo? Gente, falar que o homem tem que pagar a conta PORQUE é homem é a MESMA coisa que falar que mulher tem que lavar a louça porque é mulher! Pelamor, vamos extinguir os papéis de gênero… já deu já…século 21, bora pra frente.


E logo o rumo da prosa mostra que o incômodo gerado pela declaração (repito, mais repercutida do que ouvida na fonte primária: a boca do próprio ator) vai muito além do termo utilizado. Em um post do Leandro Karnal, o historador defende, resumidamente, que é errado imaginar a partilha da conta por gênero (homem paga e mulher não) e que isso depende de conversas prévias e das condições reais dos casais. Porém, Karnal foi criticado por mulheres que acham que sim, a conta deve ser partilhada de acordo com o gênero e que isso é uma questão de “sensatez”. Em defesa dessa opinião, lançam mão de indicadores como o de que mulheres ganham menos que homens e que pagam a chamada “taxa rosa” – que seria um custo mais alto nos produtos destinados a elas – gastam mais com cosméticos, autocuidado etc. Ou seja, em meio a tudo isso, o uso do verbo “sustentar” se perde. A razão da discussão não é essa, o buraco é muito mais embaixo.




Ao se confrontar com um traço cultural do patriarcado – o de que o homem deve pagar a conta – o ator Caio Castro levanta uma polêmica que aponta uma possível contradição do feminismo: promover um discurso de luta contra o patriarcado, no entanto não ser, de fato, uma luta contra o patriarcado como um todo, mas especificamente contra alguns problemas que o patriarcado gera para algumas mulheres específicas. Ou seja, a parte conveniente do patriarcado não seria tão atacada, mas sim convenientemente mantida para aquelas mulheres com os atributos necessários para se beneficiar dela.
Esse fatiamento conveniente da realidade, essa diferença entre teoria e prática, não é particularidade do feminismo, mas de muitos “ismos”. Em geral, as pessoas – homens e mulheres – são motivadas a lutar para resolver seus problemas e não para dar tiro no pé (embora certos movimentos nos mostrem excessões estarrecedoras). A tendência a moldar o mundo de acordo com o próprio umbigo é quase universal. É no debate sociopolítico que as cartas são postas na mesa e as militâncias, movimentos e partidos têm suas contradições e hipocrisias confrontadas pelas forças opostas. E isso faz parte do jogo.
Feminismo negro
Mas quem seriam essas mulheres com os “atributos necessários para se beneficiar da parte conveniente do patriarcado”? Como homem e autor do texto, é profundamente desagradável e delicado tocar nesses assuntos, mas ainda bem que existem as próprias autoras feministas, mais especificamente aquelas vinculadas ao feminismo negro. São elas que 1) vão destacar as pluralidades dentro do que genericamente chamamos de “feminismo” e 2) vão responder quem seriam as tais mulheres que podem se beneficiar de parte da estrutura patriarcal: as brancas e de classe média e alta, em linhas gerais.
Uma referência fundamental no feminismo negro é a socióloga Bell Hooks. Nascida na zona rural do Kentucky, em 1952, seu pai era faxineiro e sua mãe cuidava de sete filhos. Ela começou seus estudos em uma escola de segregação racial, mas ao chegar ao ensino médio em uma escola que congregava diversas etnias, pôde entender melhor as diferenças de raças e classes. Com o tempo, tornou-se ativista e acadêmica, trazendo em seu trabalho essas diversas distinções – gênero, etnia, classe – que marcam a sociedade. Escreveu seu primeiro livro aos 19 anos e deixou mais de 40 obras publicadas. Morreu em dezembro do ano passado, na mesma cidade em que nasceu.


Para muitos, a autora representou uma redefinição do feminismo, conseguindo ampliar um movimento que muitas vezes era visto principalmente como associado a mães e esposas brancas, de classe média e alta [3]. Bell Hooks é uma das autoras do feminismo negro que afirma que “mulheres brancas têm sido cúmplices no patriarcado capitalista da supremacia branca imperialista” [4] [5]. Ela trabalha com o conceito de “interseccionalidade” para se referir ao duplo preconceito sobreposto que mulheres negras sofrem: por serem negras e por serem mulheres. O conceito é usado também para tratar de outros preconceitos sobrepostos, como orientação sexual, classe etc.
Ao fazer ponderações ao feminismo de segunda onda (anos 1960-1980), Bell Hooks afirma que as mulheres negras suspeitaram daquele movimento feminista, pois essas mulheres (as negras), inseridas em círculos sociais mais pobres, viam nos homens com os quais conviviam (normalmente também negros ou demais racializados, como os latinos, por exemplo) indivíduos explorados e oprimidos pela estrutura capitalista. Ou seja, homens sem poder social, político e econômico. A própria Hooks, filha de um homem faxineiro e pobre, sabia bem o quanto a realidade é muito mais fragmentada do que aquele tipo de feminismo que ela questionava parecia enxergar.
Quem tem acesso privilegiado aos homens de maior poder aquisitivo, aqueles que pagam os melhores jantares nos melhores restaurantes (normalmente brancos e de classe média para cima), não são as mulheres negras e pobres, mas as brancas de classe média e alta. São essas que podem também usar o argumento do custo elevado com cosméticos e tratamentos como depilação para justificar que os homens devem manter o papel de gênero de pagar a conta.
Reparem que o conceito de interseccionalidade perpassa toda a discussão, mostrando que homens são bem diferentes entre si, assim como mulheres também são diferentes entre si, contrariando certa ideia de “irmandade” proposta pelo feminismo e criticada por Hooks [5]. A sociedade é muito mais intercortada e fracionada do que uma discussão superficial a partir da fala do ator Caio Castro pode fazer parecer.
Por isso a socióloga alega que as mulheres negras suspeitaram do movimento feminista, pois, se a meta for a igualdade com os homens, desconsiderando a interseccionalidade, o movimento pode se tornar algo para melhorar a vida das mulheres de classe média e alta apenas. Sem entrar em aspectos de raça e classe, essas mulheres brancas e de classe média para cima tornam-se cúmplices do patriarcado, podendo contar com uma classe inferior de mulheres racializadas e exploradas para fazer o “trabalho sujo” que as brancas burguesas estavam se recusando a fazer.
Esse trabalho é, por exemplo, o trabalho doméstico. Em um país de pensamento escravocrata como o Brasil, o trabalho doméstico sobra principalmente para as mulheres negras, e há um vídeo excelente, do canal Meteoro Brasil, com a participação do sociólogo Jessé Souza, sobre o papel da escravização do trabalho doméstico na ordem de reprodução capitalista no país [6].
Por isso, de forma retórica e em tom crítico ao feminismo burguês, Bell Hooks pergunta: “A quais homens as mulheres querem ser iguais?” [5] (com certeza não ao pai dela). Ela defende que “as feministas devem chamar a atenção para a diversidade da realidade social e política das mulheres e reconhecer que a opressão de raça e de classe também é um assunto feminista” [5]. E isso significa dizer que definir quem vai pagar a conta somente pelo gênero é desconsiderar uma pluralidade de fatores sociais que, em alguns casos, formam casais cujo homem ganha tanto ou mesmo menos que a mulher.
Bell Hooks não é a única do feminismo negro a questionar o feminismo burguês das brancas de classe média e alta. A cientista política e historiadora Françoise Vergès aborda movimentos feministas antirracistas, anticapitalistas e anti-imperialistas, em contraste ao feminismo branco europeu, chamado por ela de “civilizatório”. Ela também chama a atenção para a cumplicidade de mulheres brancas com a estrutura patriarcal, para muito além de ter a conta do restaurante paga por um homem galanteador e/ou macho alfa. Pagamento esse “justificado” pelos gastos com depilação, maquiagem, academia etc. Diz Vergès:
Essas feministas [civilizatórias] se beneficiam demais da exploração. Imagine todo o conforto que tiraram disso. Graças à exploração, elas têm tempo para manter um corpo em forma e saudável, se educar, e comprar roupas baratas costuradas por mulheres de Bangladesh, Vietnã, México. As feministas civilizatórias podem ficar falando sobre direitos das mulheres porque mulheres limpam as universidades, os parlamentos e as casas onde elas discursam. Quando elas falam de igualdade, elas nunca atacam o capitalismo racial. Elas vão reivindicar talvez uma melhor divisão de tarefas, ainda assim é uma reivindicação do feminismo burguês. E, se depois da pandemia elas perderem alguns de seus privilégios, isso não vai fazer com que queiram a revolução. Essas mulheres, que são por vezes vítimas do machismo de seus pais, companheiros, filhos e irmãos, são também suas maiores cúmplices, são as guardiãs do machismo e do patriarcado branco racista do qual se beneficiam. [7].
Não existe almoço grátis
Em uma das conversas que tive numa rede social por conta da repercussão do caso Caio Castro, uma colega que criticava o ator defendia também que a responsabilidade sobre o pagamento da conta deve ser maior sobre os ombros dos homens, utilizando justamente o argumento do quanto é caro ser mulher, por causa de “academia, cabeleireiro, depilação, dermatologista, terapia/análise etc”. Até terapia entrou na conta. Citar terapia reforça ainda mais a perspectiva elitista de quem fala. Qual parcela da população tem acesso à terapia? Se for psicanálise então… E homens, não fazem terapia? Estava claro: uma mulher jovem, branca, classe média para cima, posicionando-se enquanto tal, reclamando da fala do ator.
Mas como ressaltado anteriormente, não foram só mulheres que se valeram desse argumento. O youtuber Felipe Neto resolveu dar (como sempre) sua opinião: “Quando nós, os homens, tivermos que rachar com a mulher a depilação, tratamentos estéticos, a maquiagem, os produtos e tratamentos para cabelo, as roupas que são mais caras, os cílios, as cirurgias que eventualmente possam vir a fazer (…) ai a gente pode falar em rachar tudo: restaurante, motelzinho, cineminha etc.” [8]
Ele, um homem branco e rico que namorou mulheres como Maddu Magalhães e Bruna Gomes (igualmente brancas, ricas e com caras de bonecas de porcelana), fala a partir de sua bolha. Então, na perspectiva dele, o argumento parece fazer sentido. Seria interessante se Felipe Neto, enquanto branco e rico, evitasse ditar regras e papéis de gênero para homens que não possuem um décimo de sua conta bancária a partir de sua experiência com mulheres que não representam um décimo do contingente feminino do Brasil. Seria interessante também se ele fizesse uma comparação entre o perfil das mulheres com quem ele namora e o daquelas que trabalham para ele nas tarefas domésticas (supondo que sejam mulheres) e refletisse sobre as diferenças.
Voltando à professora Renata Esteves, desta vez sobre seu post no Instagram. Nele ela afirma que, nos padrões de relacionamentos heterossexuais, “Homens buscam mulheres menos bem sucedidas e mulheres buscam homens ‘mais ricos’, ‘mais altos’, mais ‘velhos’ do que elas. Essas escolhas inconscientes, porém culturais, mantêm os padrões que sustentam a estrutura de dominação masculina’” [9].


Ela destaca também que vivemos em uma sociedade ainda desigual, marcada pela dominação masculina, mas que a luta do feminismo é pela desconstrução de papéis de gênero e, por estarmos vivenciando mudanças, em muitos contextos o homem pagar a conta somente por ser homem não faz mais sentido.
Assim como disse Karnal, entendo que o pagamento da conta deve ser previamente combinado, a depender da realidade do casal. Por exemplo, o pagamento pode ser proporcional ao ganho de cada um (caso ambos trabalhem): se o homem ganha mais, paga mais, cabendo à mulher (em se tratando de um casal heterossexual) uma parte menor.
Usar o argumento dos gastos com autocuidado (academia, maquiagem, tratamentos estéticos e até terapia) para defender algum tipo de “direito adquirido” a ter a conta paga por um homem não deixa de ser um privilégio, se comparado à situação daquelas mulheres que não podem fazer os mesmos “investimentos” cuidando de si próprias. É um argumento que diz muito sobre quem dele se utiliza e, se analisado da perspectiva do feminismo negro, serve para expor o quanto bandeiras feministas podem mascarar situações de desigualdade vividas pelas mulheres, não só em comparação aos homens, mas também quando comparadas umas com as outras.
Não existe almoço grátis (neste caso, literalmente)! Defender que o pagamento da conta deva ser resolvido de acordo com o gênero, ainda mais valendo-se do argumento dos gastos com estética em geral, retroalimenta a mesma estrutura patriarcal que o feminismo diz combater, ou, como aponta Renata Esteves, “mantêm os padrões que sustentam a estrutura de dominação masculina”.
Se o argumento for esse, cabe ressaltar que dos homens ainda é exigida a ostentação de símbolos de status, que custam bem caro, para que eles sejam valorizados enquanto homens e tenham algum grau de atratividade. Do contrário, são inferiorizados. Ou seja, um bom CEP e um bom carro fazem muita diferença. Só em relação ao carro, além da manutenção (neste mês gastei mais de R$ 1.300 só com troca de embreagem. Uma bagatela para o Felipe Neto, mas não para mim), tem gasolina (caríssima!), seguro, limpeza, pedágios, IPVA (aliás, acabo de lembrar que o meu está atrasado).
E a despeito do que muitas mulheres dizem (normalmente elas não gostam de reconhecer o peso do aspecto financeiro em suas escolhas amorosas ou mesmo, como ressalta Esteves, isso ocorre de modo inconsciente) e do que prega certa militância feminista, em tempos de micromensurações algorítmicas que não nos deixam mentir, tudo pode ser medido por meio das tecnologias digitais. E não é diferente quando se trata de critérios de seleção de parceiros(as). Em uma reportagem do El Pais Brasil sobre comportamentos agressivos e desrespeitosos de homens no Tinder, são mencionados quais tipos de homens e mulheres são mais impulsionados pelo aplicativo de relacionamento amoroso.
Mesmo que você seja um homem que procure relações igualitárias e respeitosas, a plataforma o educa de uma maneira, porque o que premia é o comportamento de macho alfa tradicional, e se você for mulher acontece exatamente o mesmo, premia as mulheres que se mostram de maneira mais estereotipada, mais feminina e sexual. [10]
A plataforma, entretanto, não faz isso completamente sozinha, mas baseada em algoritmos que levam em conta as escolhas das pessoas – homens e mulheres – num exemplo de machine learning [11]. Não chega a ser uma grande surprersa que homens se atraem por perfis de mulheres sexualizadas. Entretanto, nota-se que o tal “macho alfa tradicional” também é bastante requisitado pelas mulheres, a despeito de tanto discurso por aí sobre “desconstrução de masculinidade tóxica” (enfim, as tais contradições…).
Porém, quando se tratam de redes sociais, é preciso considerar também as distorções, os excessos. “Neste tipo de aplicativo, tudo o que ocorre na sociedade não virtual tende a se repetir de forma exagerada”, diz Delfina Mieville, sexóloga e socióloga especialista em gênero e direitos humanos. “Aqui o sistema patriarcal, sob o guarda-chuva do capitalismo, procura estratégias para sobreviver: e nas redes se exagera tudo porque é mais fácil vender um produto claro, mesmo que o produto seja você.” [10]. Ou seja, o Tinder age como uma lente de aumento, mas sobre algo que já existe no mundo real.
E o que seria exatamente o tal “macho alfa”? Curiosamente, ao pesquisar sobre o termo me deparo com uma breve lista que funciona como um tipo de teste para homens verem se se enquadram ou não ao perfil. Para a minha surpresa (mas não muita), de uma lista de 10 itens que atestam que você NÃO é um macho alfa, o primeiríssimo é: “Você deixa ela pagar a conta”. Pois “um macho alfa assume a conta. Se ela tentar contribuir com isso, ele calmamente encerra a discussão dizendo “Eu cuido disso” [12]. Reparem que o macho alfa é quem paga a conta, mas também quem “encerra a discussão”. Pois macho alfa de verdade decide quando a discussão deve ter seu fim. Enfim, não existe almoço grátis!
Na natureza, o macho alfa é o macho dominador, predominante no grupo. Logo, é de se esperar que em nosso capitalismo selvagem (para usar a manjada analogia entre sistema econômico e mundo natural) o papel de macho alfa exija no mínimo um certo poder econômico. Há muito discurso antipatriarcado, mas também há muita demanda por homens que ostentam poder. E, como bem lembra Hooks, há colaboracionismos e cumplicidades com o patriarcado por parte de mulheres que julgam poder se beneficiar dele. Confuso, não? Contraditório, com certeza. A sexóloga Lorena Berdún comenta sobre essa confusão testemunhada por ela em sua rotina como terapeuta:
Os homens estão confusos, muitos veem como seu trono desmorona e alguns reagem mal, mas, em geral, estão muito perdidos. Na terapia, muitos me dizem que não sabem como se aproximar das mulheres. Ao mesmo tempo, elas também não têm muito claro qual novo modelo masculino gostariam, como deveria ser. [13]
As mudanças seguem acontecendo, mas enquanto o novo não se consolida (se é que haverá algo novo a se consolidar), já há mudanças acumuladas o suficiente para a desconstrução de certos papéis de gênero, inclusive o de que o homem tem sempre que pagar a conta. Como diz Renata Estevez, “Século 21. Bora pra frente.”. Então vamos!
Referências
[1] Homem bonito não precisa xavecar? Feat Caio Castro:
https://www.youtube.com/watch?v=zNq8kVCyH_Y
[2]
Violência Contra a Mulher:
https://www.youtube.com/watch?v=FNTc6ez_CxM
Existem Sociedades Matriarcais?
https://www.youtube.com/watch?v=a7N9zzAF-gA
Simone de Beauvoir | O segundo sexo e a condição da mulher
https://www.youtube.com/watch?v=zhaq6AqeS_o
[3] Bell Hooks, escritora e ativista, morre aos 69 anos
https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2021/12/15/bell-hooks-escritora-e-ativista-morre-aos-69-anos.ghtml
[4] Mulheres brancas têm sido cúmplices no patriarcado capitalista da supremacia branca imperialista:
https://prezi.com/p/p_d-c92aygqx/mulheres-brancas-tem-sido-cumplices-no-patriarcado-capitalista-da-supremacia-branca-imperialista/?fbclid=IwAR3E1pi-RpdR-niMImV6Jzax_bJRvLtI–ORAygXvnprCAQ8qX1KFF77748
[5] THORPE, Christopher; YUILL, Chris; HOBBS, Mitchell; TODD, Megan; TOMLEY,
Sarah; WEEKS, Marcus. O livro da sociologia. São Paulo: Globo, 2015.
[6] Reflexões sobre trabalho doméstico:
https://www.youtube.com/watch?v=5hUQLby2D50
[7] Feminismo ocidental nunca questionou privilégios de brancas, diz ativista
https://www.geledes.org.br/feminismo-ocidental-nunca-questionou-privilegios-de-brancas-diz-ativista/?fbclid=IwAR2Lg6DRXzmcYM-6BXtj-6_k4NbT5fSMBOTTEXqNv8KcyNt8x1X3WwxNaPU
[8] Homem tem que pagar a conta? Felipe Neto comenta sobre o Caio Castro
https://www.youtube.com/watch?v=6V8XKUvkCNM
[9] Por que os homens pagam a conta?
https://www.instagram.com/p/CgpYaegpCqC/
[10] Propostas indecentes, insultos e ‘ghosting’: por que os homens perdem a educação no Tinder:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/25/tecnologia/1558803826_423678.html
[11] Machine learning: o que é e por que é tão importante
https://tecnoblog.net/responde/machine-learning-ia-o-que-e/
[12] Veja 10 sinais que indicam que você não é um macho alfa:
https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/homem/veja-10-sinais-que-indicam-que-voce-nao-e-um-macho-alfa,db18bb3463237310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html
[13] Sexóloga discute relações em tempos de Tinder: “O amor nos dá mais medo do que o sexo”:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/02/12/estilo/1550012109_318174.html