Afinal, para que serve um Projeto de Memória Institucional?
A pergunta pode parecer simples, mas porquê uma instituição deveria se preocupar com sua Memória?
É sabido por todos que cada vez mais pessoas e organizações possuem alta probabilidade de manterem-se no tempo. Mas tal permanência não se dá por acaso. Para os humanos em geral, requer cuidado e atenção com sua saúde, alimentação e hábitos de vida (aqui incluído o que se faz de modo a alimentar aspectos relacionados à intelectualidade, espiritualidades e relações pessoais e interpessoais). O mesmo se dá para as organizações que eventualmente desejam se perpetuar e atingir um status de ser considerada centenária. As que assim chegam aos seus anos de maturidade, precisaram no decurso dos anos de cuidar de sua imagem, produtos, relacionamentos com colaboradores, clientes e até concorrentes. Precisou zelar pela boa saúde de todos os âmbitos de sua instituição.
Em outro artigo expliquei os três ciclos de existência de uma instituição, que denominei jovem, madura, secular. E sobre esta última me detive com a seguinte abordagem:
“(….) Para as empresas seculares, o fortalecimento de sua Identidade e Cultura Organizacional se colocam como prioritárias. Além, é claro, do cuidado com seu Patrimônio Cultural/Documental, matéria-prima para continuidade de Produção de Conhecimento e Inovação. Ao mesmo tempo, a Responsabilidade Histórica se consolida como prática e garantia de solidificação de uma imagem junto a `toda uma comunidade’. Essa inter-relação entre Organização e Sociedade se consagra como a forma que a Responsabilidade Histórica se coloca. (…)” (Rezende, 2018)
O zelo no decurso dos anos fará com que a instituição seja lembrada e entre no imaginário de todos desta ou daquela forma, compondo com isso sua Identidade perante a sociedade que a abrigou. Mas esta Identidade só consegue florescer se houver condições institucionais para tanto. É onde a cultura organizacional entra como elemento aglutinador e irradiador para ações e práticas.
Transcorridos os anos, será natural que seus herdeiros se preocupem com sua Memória Institucional, e as que possuírem apreço maior ao seu papel na sociedade mostrarão por meio de ações que chamo de Responsabilidade Histórica, que entendem seu compromisso institucional, preservando e mantendo as bases que as fizeram fundamentais ao contexto em que se desenvolveram e se mantiveram. Daí o surgimento, em vários casos, do desejo ter um Projeto de Memória Institucional.
Apesar disso, e até mesmo movidos por muitos bons desejos muitas empresas começaram a investir em suas memórias institucionais e rapidamente encantaram-se por projetos que, muitas vezes, deixam de ter a visão e a perspectiva adequada. Ou seja, que relacionem a instituição ao seu tempo, ao seu meio social e cultural, mais do que apenas produtos de marketing.
É fundamental deixar claro que Memória Institucional é um trabalho interdisciplinar. A interdisciplinaridade, neste caso, é necessária para não resumir a Memória Institucional à coleta de depoimentos, uma Linha de Tempo, um livro ou uma exposição.
Depoimentos e Linhas de Tempo são ferramentas, mas não resumem todo um Projeto de Memória Institucional. Tomadas neste sentido, são apenas ‘perfumaria’, que pouco ou nada acrescentam à cultura organizacional. Um trabalho consistente pode ser feito não com os olhos voltados para o passado, mas sim perspectivando e construindo o futuro a partir dos alicerces do passado e das necessidades do presente.


Os produtos de um Projeto de Memória Institucional devem ser compreendidos, como um meio eficaz para a manutenção da informação com vistas à gestão organizacional. Pode servir, sim, à pesquisa para produção de conhecimento, inovação e tomadas de decisões estratégicas e, quanto maior o seu alcance, mais decisivo o seu papel na construção, e definição, de uma Identidade Institucional e sua inserção na sociedade.
Decidir o quê perpetuar e o quê esquecer estão intimamente relacionados à ideia de construção de uma Identidade. Isso vale para os casos individuais, mas vale também para as Instituições.


É a partir destas estratégias de movimentos entre esquecer e lembrar que as instituições irão construindo a Identidade que querem perpetuar e expor. E também, é sempre bom que se diga: esta Memória constitui-se e reconstitui-se a partir de necessidades presentes. O momento presente coloca demandas e perguntas que buscarão respostas em um passado filtrado a partir do presente. As memórias emergirão a partir daí.
Da mesma forma, a partir do conjunto formado por instalações, máquinas, equipamentos, pessoas e missões que uma Instituição se firma e se põe e, impõe ao mercado, aos funcionários e a toda à sociedade. Este conjunto é considerado Patrimônio Institucional. E as pessoas em seu interior são seu Capital Intelectual.
Portanto, um Projeto de Memória Institucional visa fixar, divulgar e preservar a História de uma instituição ao mesmo tempo em que reúne, organiza e disponibiliza fontes e informações contidas em seus documentos, armazenados em diferentes suportes (fotografias, filmes, áudios, textos).
Reforço a noção de que a Memória Institucional não pretende ser a reconstituição de algo que não existe mais, mas o seu contrário: pretende ser a identidade do que o tempo e a experiência de todos trouxeram à Instituição.
Neste sentido, quando falamos em Memória Institucional estamos falando de um conjunto de experiências que, reunidas, dão a dimensão e os contornos de uma instituição no tempo e no espaço.
É a História, que é viva se constituindo. Por isso, todos são tão importantes e contam tanto!Seja generoso em partilhar e compartilhar suas memórias quando solicitado, ajudando a fortalecer os caminhos de identidade de sua instituição.
A quem serve um Projeto de Memória Institucional?
A todas as instituições que, além de possuir um acervo documental de referência e memória, reconheçam seu potencial de fortalecer a identidade institucional, valorizar o capital intelectual e consolidar a cultura organizacional.


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