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Direito, Ciência, Tecnologia, Inovação e milho aos pombos

Direito, Ciência, Tecnologia, Inovação e milho aos pombos

O convidado dessa semana é mestre em Direito e advogado no Brasil,  Jorge Costa analisa a relação entre Tecnologia, Ciência e o Direito. Com ceticismo, o autor questiona essa relação para com o conhecimento.

Quando nos deparamos com o cenário atual, somos confrontados com a tecnologia fazendo parte de nossas vidas, em perfeita harmonia, buscando em sua essência a otimização da capacidade humana em todos os seus níveis, e por óbvio não ia tardar para as benésses da tecnologia aumentassem o potencial da ciência e do direito.

E nesse sentido fomos agraciados com as Lawtechs e Legaltechs, empresas de tecnologia empenhadas em trazer o que há de mais moderno em tecnologia, aliado as mentes brilhantes e inovadoras que compõe a nossa sociedade buscando aliar todo esse conhecimento as ciências jurídicas, com o propósito de trazer soluções as demandas dos operadores de direito.

Mas nem tudo é tão óbvio como se imaginava que seria, e a ciência aliada a tecnologia, que imaginava-se ser capaz de trazer luz a escuridão de trevas de ignorância humana, a mesma tecnologia que trouxe voz a mentes brilhantes, auxilia cientistas, e traz acesso a um banco de dados com acervo de dimensões colossais, algo ao acesso da ponta dos dedos e em volume de informação impossíveis de serem assimilados por uma única pessoa, superando em muito os limites de armazenamento de conhecimento humano, trouxe também voz a ignorância, a pessoas, momento em que se discute em uma escala constrangedora se a terra é plana ou redonda, ou até a eficácia de vacinas.

A tecnologia e a inovação, começaram a serem usadas afastadas da ciência, algumas vezes, podemos imaginar, que de maneira a entreter o usuário, tentando não acreditar que por ignorância, como aplicativos de celular capazes de ler as linhas da mãos e prever o futuro, assim como aplicativos que fazem o mapa astral do usuário, ou é capaz de prever como será a aparência de um filho, ou quantos filhos terão, além de outras previsões antes feitas somente pelos charlatões mais caricatos perambulando pelas ruas.

E assim o pior aconteceu, a tecnologia aliada a inovação e completamente afastada da ciência chegou ao Direito, com uma força descomunal, aliado aos movimentos da farra do coaching e mentoria, e dos livros de desenvolvimento pessoal/autoajuda que elencam 10 passos para alcançar tudo que se deseja, sem uma nota de rodapé com uma referência cientifica, usando da melhor fonte: Arial 12 ou a velha técnica de amostragem do “eu conheço 5 pessoas que fizeram assim e deu certo”.

Hoje centros de ensino e associações de tecnologia e inovação voltadas ao Direito aderiram a onda lucrativa, abandonando a ciência de forma inescrupulosa, se preocupando apenas em jogar milho aos pombos, pouco se importando em trazer luz para escuridão, se aproximando dos charlatões pregadores do apocalipse da era pré internet, gritando aos berros que o fim está próximo, mas não se preocupe, ele tem a solução por um preço camarada.

Os espaços que deveriam ter o propósito de disseminar o conhecimento, direito, ciência, tecnologia e inovação se afastam do debate científico e encontram em seus membros os mesmos dogmas religiosos, aproximando-os de igrejas, não sendo raro observamos nos eventos o mesmo padrão. Uma imagem com muitas pessoas em um auditório com um messias, digo um instrutor ao palco, engravatado, ou ostentado um visual mais descolado, com seu blazer e camisa de malha básica. Geralmente esse instrutor esta ali contando cases de sucesso, como se fossem testemunhos em uma igreja, de que a sua técnica é eficaz e trabalhando diretamente na fragilidade das pessoas, nesse caso vulneráveis alunos buscando naquela pessoa o conhecimento que lhe falta.

A estrutura do discurso do palestrante é religiosa:

“Você está nessa situação agora e pode ir para uma situação muito melhor basta seguir os 10 passos de como prosperar, ensinadas através do meu curso de refatoração do mindset jurídico e sua aplicação criativa no mercado inovativo.”

Cada vítima ali um segue seu guru, mas a estrutura é parecida. Obviamente, a pessoa se identifica com o discurso. “É disso que estou precisando!”

Tudo bem, essa é uma estrutura comercial presente em vários negócios, afinal estamos falando de uma sociedade capitalista, e todos gostam do que o dinheiro pode proporcionar:

“Compre esse carro que você será terá a liberdade e a família feliz dos atores da propaganda!”

Entretanto, estamos falando de um local que deveria estar focado em seu propósito de trazer o debate ao conhecimento, a aplicação da inovação, tecnologia e ciência ao Direito, trazendo as soluções que tanto a sociedade demanda.

No entanto o atual movimento é muito mais carismático do que uma pesada pesquisa científica que precisa fundamentar afirmações, e é aí que mora o maior dos problemas. Danças, pulos e gritos de guerra vão deixando as pessoas mais empolgadas e com a sensação de que o que estão sentindo confirma a teses apresentadas lá na frente. Aliado a troca de elogios entre os membros desse grupo, que buscam endeusificar seus colegas, na esperança de que façam o mesmo com eles e assim possam também estar vendendo o seu produto, e um módulo online, com preço camarada, independente do resultado, afinal a ciência ficou do lado de fora desses lugares.

Meu caro, esteja certo de uma coisa. Dar um nome de software a seu curso, pular e ter um grito de guerra não vão lhe tornar um advogado de sucesso ou preparado para trazer as soluções jurídicas demandadas pela sociedade. Falar português, usando estrangeirismos, não vai dar fundamento científico as suas afirmações, mas com certeza vai trazer alento a aquele desesperado pelo conhecimento jurídico inovador de sucesso que estão oferecendo ali, por módicas parcelas no cartão de crédito.

O problema desse modelo de negócio é que ele se retroalimenta, e a pessoa que era aluno, começa a se empolgar com as soluções mirabolantes ali trazidas, a afinidade com seu “líder religioso” aumenta a cada post do instagram demonstrando o sucesso mirabolante que suas teses podem entregar, aliadas a prosperidade sem esforço, com o glamour de seus pares tecendo comentários elogiosos e sorridentes o tempo todo, fazem o aluno virar “professor” daquele mesmo ambiente, e como nos mais ambiciosos esquemas de pirâmide o resultado não vem da entrega do produto e sim de angariar mais pessoas, que participam daquele culto religioso, passarão por toda a escalada, desde ser um aluno daquele sistema, até se tornar o professor, abrangendo sua técnica a novos alunos que se tornaram novos professores.

Bom assim como nos cultos pentecostais, é importante ter o testemunho, mesmo que ele seja pontual. Em geral, aquilo que aconteceu apenas uma vez, por obra mais do acaso, mas que parece confirmar a hipótese defendida, é tomado como regra e principal evidência de que o modelo funciona. Se você investigar a realidade, verá que das 5 mil pessoas que fizeram o curso no ano passado, 5 conseguiram se estabelecer no mercado, conquistar clientes e ter uma boa remuneração. Parece pouco, mas 5 casos é um número mais que suficiente para servir como testemunho de que o caminho é promissor e que o método funciona. Logo, logo, esses 5 se tornarão membros daquela instituição religiosa. Assim, o advogado do futuro virou a Hinode dos serviços.

E a ciência? E o propósito de entregar soluções para a sociedade?

Isso não importa, não traz glamour, não da curtida no instagram, e traz muito trabalho ter que fundamentar cada asneira vazia que se fala com um argumento científico sólido e robusto, pautado em conhecimento humano direcionado ao mundo real.

Tratando de uma premissa básica voltada a ao resultado: Considerando o cenário brasileiro, quais são os resultados reais efetivos trazidos pelas empresas de tecnologia aliadas ao Direito que são voltadas ao mundo real, que não se restringem a uma retroalimentação de cursos ou a participação em empresas de tecnologia por uma permuta de assessoria jurídica disfarçada de compartilhamento de ideias?

Hoje? Milho aos pombos.

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