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Tendências evolutivas do jogo de futebol (parte 2): Momentos de aceleração

Tendências evolutivas do jogo de futebol (parte 2): Momentos de aceleração

No artigo anterior abordámos a eficácia do primeiro e segundo passe após a recuperação da bola. No presente artigo, manteremos o foco na fase ofensiva, mas num outro momento.

Sendo o objetivo do jogo a vitória, a obtenção do golo é determinante. Neste sentido, durante o confronto, as equipas procuram causar desequilíbrios na organização do adversário de modo a obter o golo. Perentoriamente, o adversário procurará organizar-se de modo a evitar o golo.

Dada a evolução tática e organizacional, nomeadamente do processo defensivo, o desafio de criar desequilíbrios ao adversário tem aumentado. Um dos meios mais utilizados pelas equipas, e que acreditamos ser bastante eficaz, está relacionado com o tema do presente artigo: o momento de aceleração na fase ofensiva.

Qual a sua relevância e como potenciá-lo através do treino?

Os momentos de aceleração criados pelas equipas têm o propósito de aumentar a velocidade do jogo submetendo o adversário a constantes e rápidas reorganizações, aumentando a probabilidade de ocorrerem situações de desequilíbrio do adversário propícias para finalizar e obter o golo. No seu estudo, Melo (2017) observou e analisou 1950 golos das Ligas Espanhola, Inglesa, Italiana e Portuguesa, referentes à época desportiva 2015-2016 (Tabela 1). O autor constatou que a maioria dos golos (n=756; 38,8%) foram obtidos após momento de aceleração (Tabela 2).

Tabela 1. Golos observados e analisados (nome da equipa, classificação final, nº de golos, competição).

 

Tabela 2. Descrição dos golos (Adaptado de Melo, 2017)

 

Importa considerar que os momentos de aceleração são ações táticas coletivas que emergem da boa interpretação do jogo, de forma individual e coletiva, e têm como objetivo desequilibrar a equipa adversária, através da conquista de espaços com rapidez e eficácia no sentido da baliza, para marcar golo.

Melo (2017) constatou ainda que, dos 756 golos marcados por meio de momentos de aceleração, a maioria resultavam de uma aceleração por condução de bola no sentido do ataque (n=271; 35,8%).

Tabela 3. Diferença entre indicadores do momento de aceleração (Adaptado de Melo, 2017)

 

Neste sentido, parece-nos importante criar contextos de treino que potenciem estes momentos de aceleração. De seguida demonstramos alguns exemplos de como podemos desenvolver no treino momentos de aceleração quando a equipa se encontra em ataque posicional.

Exercício 1

Situação de jogo formal para dar enfase ao momento de aceleração através do passe para os jogadores entre os setores defensivo e intermédio do adversário. Uma equipa deve apresentar-se na estrutura que se pretende treinar (neste caso 1x4x4x2), enquanto a outra pode simular a estrutura do adversário que se segue, caso o objetivo for preparar soluções para esse opositor. No espaço intermédio, a equipa em organização ofensiva é composta por dois médios centro e dois laterais, em confronto com dois médios centro, dois alas e um avançado que em organização defensiva é um terceiro médio (4+1). A equipa em ataque posicional possui a cobertura ofensiva dos dois defesas centrais à retaguarda desse espaço, tendo estes a oposição do outro avançado. A equipa em posse da bola procura acelerar o jogo através da ligação em passe com um dos alas ou avançados (um à vez) que se encontram no espaço após a linha, entre os setores do adversário, ou com um dos laterais que progridem para esse mesmo espaço. Ao receberem nesse retângulo dá-se uma situação de 5v4+GR (alas, avançados e lateral do lado da bola, em confronto com os quatro defesas e o GR do adversário).

 

Exercício 2

Exercício no formato de jogo formal que tem como principal objetivo a conquista do espaço nas costas do setor defensivo. A equipa em posse de bola deverá procurar em ataque posicional conquistar esse espaço. Para isso deverá apresentar-se no dispositivo tático habitual e procurar as dinâmicas ofensivas que permitam aproveitar o espaço em profundidade. A equipa sem a posse de bola deverá simular os comportamentos do adversário. No caso abaixo ilustrado a primeira pressão do oponente é efetuada pelos dois avançados o que, provavelmente, irá condicionar a construção por parte dos defesas centrais. Sendo assim, a equipa com bola deverá ajustar-se e procurar soluções. Como exemplo, apresentamos a inclusão do médio centro entre os centrais para permitir que os centrais tenham espaço para progredir com bola; projetar os laterais e posicionar os alas em zonas interiores garantindo que a equipa tem sempre soluções em largura e para jogo interior. Outra dinâmica poderia ser o médio pegar no jogo entre central e lateral após a bola atrair um adversário a um lado para acelerar do lado contrário.

No caso do adversário não pressionar de forma efetiva os centrais com bola, estes poderão ter facilidade em lançar bolas longas nas costas do setor defensivo. Perante esta situação, no caso do treinador prever que o adversário será mais agressivo e intenso na primeira pressão pode valorizar (por exemplo contar a dobrar) os golos que “nascem” de passes efetuados apenas no meio campo ofensivo ou condicionar para apenas ser golo se o passe for efetuado no meio campo ofensivo.

Após ultrapassar a linha pretende-se que a jogada finalizada em pouco tempo.

 

As situações aqui descritas apenas representam exemplos de como podem ser desenvolvidos os momentos de aceleração em ataque posicional. A relevância destes momentos é inequívoca, sendo o treino o principal meio para que os jogadores interpretem da melhor forma as situações propícias para aproveitar esses momentos.

 

Francisco Sá, Mestre em Treino de Alto Rendimento Desportivo pela FADEUP. É, atualmente, treinador adjunto do União da Madeira.

Co-autor: Gabriel Silva, Mestre em Treino de Alto Rendimento Desportivo pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) e doutorando em Ciências do Desporto, pela mesma Faculdade, na área da periodização do treino de futebol. É, atualmente, treinador adjunto do Clube Desportivo das Aves.

 

Referências

Melo, L. (2017). ORGANIZACIÓN OFENSIVA EN EL JUEGO DEL FÚTBOL. Indicadores de los momentos de aceleración en los equipos de Fútbol de alto rendimiento. Porto: L. Melo. Tesis de Maestría, para la obtención del grado de Magister en Entrenamiento de Alto Rendimiento Deportivo, presentado a la facultad de Deportes de la Universidad de Porto.

 

Photo by tlemens on Pixabay

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