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Damnatio ad bestias: o novo Coliseu se chama Rede Social

Damnatio ad bestias: o novo Coliseu se chama Rede Social

“Enquanto o Coliseu se mantiver de pé, Roma permanecerá; quando o Coliseu ruir, Roma ruirá e quando Roma cair, o mundo cairá”. A profecia do historiado inglês Beda, no século VII, mostra que o Coliseu foi além de uma grande obra arquitetônica e/ou espaço de entretenimento. Foi instrumento de propaganda, destruidor de reputações e criador de heróis. Os linchamentos públicos eram atrações constantes para uma média de 65 mil pessoas que assistiam passivas e extasiadas.

Hoje temos outros mecanismos para promover linchamento público. Quem não conhece alguém que, de alguma maneira, sofreu um linchamento em alguma rede social, atire a primeira pedra. Uma vidraça de grande alcance que tem os tentáculos quase infinitos pela cultura do compartilhamento.

Há redes sociais com dinâmicas bem distintas na formação dos laços sociais e na promoção de debate público. Uma questão fun­damental diz respeito à individualização. Mapear a criação desses laços possibilita identificar como a sociabilidade em rede se constrói e vira arena de embate. De um lado temos os softwares sociais que promovem a inclusão e a aproximação de vínculos sociais preexistentes  como o Facebook, mas, por outro lado, há redes sociais como o Twitter que têm uma dinâmica bem diferenciada, em que as interações não são baseadas em vínculos já formados.

Portanto, no Twitter, é mais complexo identificar os padrões de laços sociais, porque são grupos bastante heterogêneos: nem sempre quem segue alguém é seguido por essa mesma pessoa. Outra característica importante é o debate de ideias e assuntos que ganham grande repercussão e compartilhamento por meio das #hashtags.

O ciberespaço mostra potencialidades de sinergia que estão reconfigurando às noções de sociabilidades, ou seja, para um indi­víduo se sentir integrado na rede, há formas diversas de inserção que dependem diretamente dos interesses focados, desde a comu­nicação instantânea, por meio dos dispositivos móveis e das salas de bate-papo, a outras formas de utilizar a rede como elemento de sociabilidade.

A popularização das redes sociais descentraliza a informação, destaca o indivíduo que agora tem a possibilidade de se expressar, ser “ouvido” e reverberar as informações e opiniões. Desde 2011, as redes sociais digitais têm sido canais mobilizadores de muito sucesso. A Primavera Árabe só foi possível graças às mobilizações articuladas no Facebook e no Twitter.

Mas quando uma rede social passa a ser arena de guerra e, o pior, de linchamento público sem chance de defesa? Liberdade de expressão é principio constitucional. Mas a intolerância, o pré-julgamento, a pressa em informar, opinar, destruir reputações encontraram um canal para ecoar o que temos de pior.

Ronaldo Lemos e Massimo Di Felice, no livro “A vida em rede”, falam sobre como o Facebook tem se tornado uma espécie de ‘Coliseu’ onde cada semana, por exemplo, uma pessoa sofre uma espécie de linchamento público. “Às vezes o personagem público ou privado é escolhido e permanece, durante uma semana ou mais, no centro da esfera pública, sendo repreendido ou julgado e condenado pela multidão. Uma semana depois, todo mundo já esquece e é a vez de outro cidadão, totalmente diferente, ocupar a posição de dentro do Coliseu, e assim por diante.”

Tempos estranhos, onde a história se repete a partir de outras ferramentas. Vivemos a Era da Informação e o Homo Tecnológicos não sabe lidar com os princípios básicos de civilidade. Começo efetivamente a concordar com o Zigmunt Bauman, “as redes são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha.” De resto é torcer para não ser a atração da vez porque a multidão quer espetáculo!

 

Referência

LEMOS, Ronaldo; FELICE, Massimo Di. A Vida em Rede. São Paulo: Papirus 7 mares, 2014.

 

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Uma resposta

  1. Bom texto para reflexão do momento atual em que as redes sociais ganham um peso ainda maior na interação entre as pessoas, de modo que muitas vezes as informações são simplesmente jogadas sem uma prévia observação quanto a sua veracidade ou impacto para quem se fala.

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