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A banalidade do mal 2.0: ensaio sobre a apatia no luto

A banalidade do mal 2.0: ensaio sobre a apatia no luto

– Que atmosfera triste essa…
– Sim, meu amor. Vamos nos cuidar. Criar uma rede de apoio para proteger os nossos chegados.
– Sim, vamos. Durma bem!
– Você também.

Essa foi a última conversa que tive com minha namorada, pouco antes de (tentar) dormir, ao comentarmos sobre nosso cotidiano, passando pelas mortes de Bruno Covas, Eva Wilma e MC Kevin, em menos de 24 horas, ainda juntando os cacos da partida de Paulo Gustavo.

***

Hannah Arendt, já radicada nos Estados Unidos, fora escalada para cobrir o julgamento de um nazista na Alemanha pós-guerra, em 1961: Adolf Eichmann

Descreveu o criminoso como um homem comum, não “preenchia os requisitos” de um psicopata, um tirano: era um subordinado cumprindo seu dever. Embora tendo negado os crimes, foi condenado nas 15 acusações que sobre ele caíra.

Arendt criou a expressão “a banalidade do mal”, como subtítulo do livro “O caso Eichmann em Jerusalém”.

Para chegar a essa conclusão, ela se debruçou em seus estudos e concluiu que a maldade é uma decisão política, não é da natureza humana tampouco metafísica. É uma deliberação social, a partir da ausência do pensamento crítico, onde o mal se instala. O mal é a cunha na fenda da falta de reflexão.

***
Em menos de 24 horas, não conseguimos direcionar nossa dor para um lado só. Se não bastasse nossas lutas internas para encontrarmos razões para seguir adiante, genocídio na Palestina, pandemia interminável, o luto virou nossa rotina. Falam em 3 mil mortos/dia como se não fossem pessoas, mas coisas.

Banalizamos o luto.

O mal encontrou solo fértil na ausência do nosso olhar para dentro e para o próximo a partir daí. Zombamos da Filosofia e outros cursos de Ciências Sociais aplicadas. É desnecessário. Bando de maconheiros!

A conta chegou.

***

Não discutir o mal em Rousseau, Hobbes, Locke, a Utopia em Morus, Santo Agostinho, o Existencialismo em Sartre, a Arte em Nietzsche, a consciência de classe em Marx e Engels, o Mito e o Rito em Jung, engessou nossa capacidade de expandir a alma (ou seu equivalente na Psicologia), fazendo-nos reféns desses monstros que criamos.

Uma sensação de impotência, de insuficiência toma nosso ser, diariamente, a cada login, a cada zapeada nos canais. Dor, tristeza, melancolia. Vamos nos agarrando em pedras soltas, escalando essa montanha das esperanças. O que fazer?

Arendt nos convida a uma reflexão, uma alternativa: passou da hora de preenchermos nossas lacunas internas com criticidade, empatia e alteridade. Passou da hora de olharmos o outro como parte de um Todo, da Vida. Passou da hora de encararmos a maldade como uma decisão política, e que como tal, pode ser desfeita.

Como diz Kant: com um amor prático.

Eu ainda acredito e preciso de você. Sozinho eu não consigo.

Não quero me despedir do meu amor todo dia com um amargo no paladar.

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