Mantendo-me nos assuntos da escrita…
A semana passada acabei mais um romance. Está um pouco longo, e vai necessitar de algum trabalho de revisão quanto a isso, mas é sempre revigorante chegar ao fim da jornada.
Sim. Todo o escritor termina uma jornada quando conclui o trabalho a que se propôs; seja um conto, uma novela ou um romance. A forma como se experiencia essa jornada dependerá sempre do tipo de escritor que se é e isso dependerá, por sua vez, de uma série de outras coisas; muitas delas – a maior parte, talvez – nada terão que ver com a escrita e o seu processo.
Mas eu gosto muito de ouvir os outros escritores falarem dos seus processos de escrita e criação; são carregados de magia e inspiradores. Contudo, não gosto de todos. Não gosto muito de ouvir aqueles que dizem que escrevem umas coisas… Isso soa-me a falsa modéstia, a um apoucamento desonesto, à invenção da uma ideia errada de facilitismo na criação artística literária e ao apequenar do escritor enquanto autor e detentor de um talento especial… Estes senhores que dizem escrever umas coisas são – na minha humilde opinião – os principais responsáveis pela falta de respeito que existe hoje para com os escritores e para com a sua criação: os livros. Porquê?
Ora, se um escritor só escreve umas coisas, pode muito bem fazer outras; e os outros também podem escrever como ele. Não é assim?
Um escritor deve ser humilde, pode até ser modesto, mas não deve jamais enxovalhar a sua arte – e as dos seus colegas – minimizando-a; chamando-lhe «umas coisas».
Se o faz, ou não é um verdadeiro escritor, ou está a esconder alguma coisa. Os que escondem alguma coisa, pretenderão – talvez – afastar as atenções de si próprios; poderão – quem sabe – até ter problemas com a sua imagem ou não saberem lidar com a fama e os elogios; é uma manobra de defesa. Os que mentem, aqueles que não são verdadeiros escritores, são aqueles que apostam em Ghost Writers ou, então, que escrevem corretamente o português, e andam montados numa boa máquina de Marketing que consegue vender tudo; até a mãe.
Mas não venho aqui para me queixar… Esta é a nossa realidade mundial – sim, porque não é só cá; e infelizmente não teremos como saber quais os que são mentirosos e os que apenas pretendem afastar as atenções. Ou saberemos?
Não sei… Deixo-vos o desafio…
O que eu sei, enquanto escritor, é que o que eu escrevo não são só umas coisas… E sinto-me ofendido quando ouço isso! E como eu haverá mais. Ninguém que passe horas a escrever – e a rever -, noite dentro, para terminar um romance – sem prazos para cumprir -, escreve só umas coisas…
Imagem de Lukas Bieri por Pixabay