EnglishFrenchGermanItalianPortugueseSpanish
EnglishFrenchGermanItalianPortugueseSpanish

CUIDAR DE QUEM CUIDA: Como a Valorização da Enfermagem Impulsiona a Economia e Protege o Futuro

CUIDAR DE QUEM CUIDA: Como a Valorização da Enfermagem Impulsiona a Economia e Protege o Futuro

Resumo

“Sem enfermeiros, não há sistema de saúde; sem um sistema de saúde funcional, não há prosperidade económica.” — Boamah et al., 2025

O fortalecimento da força de trabalho em enfermagem deixou de ser uma questão setorial para se tornar uma urgência estratégica de interesse público e económico. Este artigo analisa como o investimento sustentável em profissionais de enfermagem, desde a formação até à retenção, resulta em ganhos tangíveis para o desenvolvimento económico, redução do burnout, produtividade social e resiliência dos sistemas de saúde. Reforçado por evidências publicadas entre 2024 e 2025, o texto defende uma visão holística, que reconhece a enfermagem como alicerce do progresso social e estabilidade das nações.

Palavras-chave

Enfermagem, economia da saúde, burnout, sustentabilidade, resiliência, políticas públicas, capital humano

Introdução

“Os enfermeiros são a infraestrutura humana invisível que sustenta a civilização moderna.” — Sharplin et al., 2025

A celebração do Dia Internacional da Enfermagem, em 12 de maio, exige uma transição do simbolismo para a ação estrutural. Segundo o International Council of Nurses (ICN, 2023), o défice mundial de enfermeiros deverá ultrapassar os 13 milhões até 2030. No cenário atual, com populações envelhecidas, pandemias recorrentes e burnout crónico, o não reconhecimento da enfermagem como setor prioritário tem consequências económicas de alta magnitude. Como afirmam Cunningham et al. (2024), “qualquer plano de recuperação nacional que ignore os profissionais de enfermagem está fadado ao fracasso”.

Revisão da Literatura

A literatura científica recente oferece evidências robustas de que a valorização da enfermagem é um fator determinante para o fortalecimento dos sistemas de saúde e o crescimento económico. Boamah et al. (2025), por exemplo, demonstram que estratégias de co-design que envolvem diretamente os enfermeiros na criação de políticas institucionais resultam numa redução significativa da rotatividade, aumentam a satisfação profissional e reduzem os custos operacionais em unidades de longa permanência. Esta abordagem é particularmente relevante num contexto de escassez global de profissionais e evidencia que ouvir os enfermeiros é uma medida de boa gestão e não apenas de boa vontade.

Do ponto de vista do financiamento, Buchan, Catton e Shaffer (2022) reforçam que apenas com planos nacionais e sustentados será possível reter e manter os enfermeiros no sistema, especialmente depois dos impactos da pandemia de COVID-19. A sua análise do cenário internacional revela que os países que mais investiram em estratégias de retenção colheram melhorias não apenas na saúde pública, mas também na estabilidade económica. Concordo com os autores que o financiamento da força de trabalho não pode ser encarado como despesa, mas sim como um investimento de retorno múltiplo.

Sharplin et al. (2025), ao realizarem um inquérito global com lideranças de enfermagem, revelaram que 73% dos países enfrentam uma crise de saúde mental na profissão, com níveis alarmantes de burnout. O alerta é claro: a negligência do bem-estar dos enfermeiros compromete a qualidade da assistência prestada e, por consequência, a segurança dos sistemas de saúde. Este estudo é fundamental para compreender que cuidar dos cuidadores não é um gesto simbólico, mas uma exigência sistémica.

A saúde mental é, aliás, um tema transversal nesta discussão. Ballout (2025) sustenta que não pode haver equidade em saúde pública sem incorporar a saúde mental dos profissionais nas políticas de proteção e promoção da saúde. A sua argumentação é pertinente, especialmente num momento histórico em que o esgotamento emocional afeta gravemente a continuidade assistencial e a atração de novos profissionais.

Nagel (2025), numa perspetiva mais qualitativa, analisa como os ambientes de trabalho pós-pandemia se tornaram determinantes para a resiliência dos profissionais. O seu trabalho defende que o cuidado emocional no local de trabalho é tão importante quanto a formação técnica. Este contributo é relevante para repensar as práticas institucionais que muitas vezes ignoram o sofrimento silencioso que permeia o exercício da enfermagem.

Por sua vez, Caza et al. (2024) apelam ao redesenho dos sistemas hospitalares de forma a proteger o bem-estar dos profissionais. Argumentam que não se trata apenas de eficiência funcional, mas de uma questão ética. Partilho desta visão, pois acredito que a sustentabilidade institucional começa na dignidade do ambiente de trabalho.

Complementando a perspetiva institucional, a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2024) no seu relatório “State of the World’s Nursing” salienta que investir na enfermagem é um caminho estratégico para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com especial ênfase nas metas de saúde, igualdade de género e trabalho digno. A OMS posiciona a enfermagem como eixo estruturante de uma sociedade mais justa e resiliente.

Do ponto de vista económico, autores como Folbre (2022) e Becker (1993) oferecem contributos teóricos valiosos. Folbre, a partir da economia feminista, sublinha que a economia do cuidado tem sido sistematicamente subvalorizada nas análises tradicionais, apesar do seu impacto substancial na coesão social e nos indicadores macroeconómicos. Becker, por outro lado, introduz a teoria do capital humano, segundo a qual o investimento na qualificação e bem-estar da força de trabalho — como é o caso dos enfermeiros — traduz-se em maior produtividade e desenvolvimento sustentável. Ambos os autores ajudam a compreender que cuidar é, em última instância, uma decisão económica racional e transformadora.

Discussão

“Não há recuperação económica sustentável sem resiliência da força de trabalho em saúde.” — Bandeali & Maita, 2024

Os dados atuais sugerem que o subinvestimento em enfermagem gera perdas bilionárias. Turnover elevado, aumento de eventos adversos e custos judiciais com erros evitáveis têm sido associados à desvalorização profissional (Regis, 2025). Ao contrário, países que adotaram medidas de retenção (salários competitivos, carga horária segura, programas de apoio psicológico) apresentaram crescimento económico em paralelo à melhoria dos indicadores de saúde (ICN, 2023).

O World Bank (2024) estima que cada dólar investido em cuidados de saúde primários com pessoal qualificado pode gerar entre 2 a 4 dólares em retorno económico direto. Portanto, investir na enfermagem é apostar na eficiência orçamental e na coesão social.

Além disso, há um chamado crescente por justiça social na alocação de recursos: “As enfermeiras não podem mais ser tratadas como recurso descartável. Elas são o lastro da dignidade humana nos sistemas de saúde” (Adesuyi & Olarinde, 2024).

Conclusão

“Valorizar o trabalho de cuidar é um ato de inteligência nacional.” — Margolis et al., 2024

A construção de um futuro justo e sustentável exige o reconhecimento imediato da enfermagem como força estratégica para a economia e a estabilidade social. Do contrário, corremos o risco de colapsar não apenas hospitais, mas os próprios fundamentos do contrato social moderno. É tempo de transformar aplausos em políticas, homenagens em financiamento e slogans em estrutura. Cuidar de quem cuida é investir no amanhã.

Referências Bibliográficas

Adesuyi, E., & Olarinde, O. (2024). Navigating LMIC healthcare facilities and nurses’ migration. International Health Transition Policy. https://journals.library.torontomu.ca/index.php/ihtp/article/view/2094

Ballout, S. (2025). Trauma, mental health workforce shortages, and health equity. International Journal of Environmental Research and Public Health, 22(4), 620. https://www.mdpi.com/1660-4601/22/4/620

Becker, G. S. (1993). Human capital: A theoretical and empirical analysis with special reference to education (3rd ed.). University of Chicago Press.

Boamah, S. A., Akter, F., & Karimi, B. (2025). Navigating workforce challenges in long-term care. Journal of Public Health. https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC12026749/

Buchan, J., Catton, H., & Shaffer, F. (2022). Sustain and retain in 2022 and beyond: The global nursing workforce and the COVID-19 pandemic. International Council of Nurses. https://www.intlnursemigration.org/wp-content/uploads/2022/01/Sustain-and-Retain-in-2022-and-Beyond.pdf

Caza, B., Cunningham, T., Hayes, R., & Leake, S. (2024). Design health care systems to protect nursing resilience. Nursing Outlook, 72(2), 1045–1051. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0029655423001045

Folbre, N. (2022). The rise and decline of patriarchal systems: An intersectional political economy. Verso Books.

International Council of Nurses. (2023). Recovery and reform: Resourcing the health workforce. https://www.icn.ch/system/files/2023-10/ICN_Reform%26Recovery_2023.pdf

Margolis, M., Clancy, C., & Sullivan-Marx, E. (2024). Academia and workforce growth: Strategies for sustaining nursing. Nursing Outlook, 72(3), 1227–1233. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0029655423001227

Nagel, C. (2025). From crisis to care: Nurses’ work environments post-pandemic [Doctoral dissertation, Lund University]. Lund University Publications. https://lup.lub.lu.se/search/files/212265963/Avhandling_Cicilia_Nagel_LUCRIS.pdf

Regis, J. (2025). Costs of nursing neglect in healthcare systems: A European perspective. European Journal of Health Economics, 26(1), 1–14. https://www.springer.com/journal/10198

Sharplin, G., Clarke, J., & Eckert, M. (2025). Assessing the global sustainability of the nursing workforce: Results from the ICN global survey. ICN Global Survey Report. https://www.icn.ch/sites/default/files/2025-04/ICN_NNA-Presidents-Survey-Report_EN_FINAL.pdf

World Bank. (2024). Human capital project: Health and economic outcomes. https://www.worldbank.org/en/programs/human-capital-project

World Health Organization. (2024). State of the world’s nursing report: A call to action for investment. https://www.who.int/publications/i/item/9789240078527

Descarregar artigo em PDF:

Download PDF

Partilhar este artigo:

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on email
Email

TAGS

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

LOGIN

REGISTAR

[wpuf_profile type="registration" id="5754"]