O mundo acompanha, ao vivo, o avanço da Covid-19. Desde o início das contaminações em dezembro de 2019, na província do Wuhan, na China, o vírus tem sido assunto recorrente através das redes de comunicação em todo o mundo. Emissoras de TV, rádio, jornais e revistas têm dado atenção especial à pandemia, mas é na internet que as maiores interações e trocas de informações acontecem. As redes sociais, por exemplo, mostram a todo o momento notícias de diversas fontes, memes e opiniões sobre mais essa pandemia que a humanidade enfrenta.
As doenças virais que se disseminam com grande velocidade não são novas. A novidade é que a Covid-19 foi a primeira a ser monitorada pelas redes telemáticas em nível global, simultaneamente. A Microsoft, por exemplo, lançou uma plataforma que acompanha e evolução das transmissões em todo o mundo em tempo real. É possível, através de um mapa, saber onde o vírus mais se propaga, número de contaminados, curados e mortos. O Google liberou, temporariamente, uma versão do Hangout Meet para auxiliar as pessoas que cumprem isolamento domiciliar e que trabalham em home office, além do aumento das comunicações digitais, especialmente, por videoconferências e apps de comunicação coorporativa. Mas, o grande protagonismo vem da velocidade com que as informações são disseminadas. Principalmente pelas redes sociais digitais, as informações chegam a partir de diversas fontes e em muitos formatos.
O filósofo sul coreano Byung-Chul Han, no seu livro “No enxame: perspectiva do digital” destaca que a mídia digital é a mídia da presença e a sua temporalidade é o presente imediato. A instância de intermediação por mediadores é cada vez mais dissolvida e, para o autor, todos querem estar presentes e apresentar sua opinião sem representantes. Isso, de modo circunstanciado, privatiza a comunicação ao transferir a produção da informação do público para o privado. Aí surge mais uma ‘pandemia’: a da fake news. A avalanche de notícias gera uma desordem de informações desencontradas que culmina por estabelecer um estado de medo.
A professora de jornalismo da Universidade de Cardiff, no País de Gales, Karin Wahl-Jorgensen, examinou a cobertura da Covid-19 em 100 jornais de alta circulação de todo o mundo. A pesquisadora diagnosticou como o medo tem desempenhado um papel importante nas reportagens: uma em cada nove notícias sobre a pandemia mencionava “medo” ou palavras relacionadas, incluindo “assustado”. A linguagem também foi considerada pela adjetivação, por exemplo, 50 artigos tinham a frase ‘vírus assassino’.
Também de forma viral, essas informações são propagadas, ressignificadas e compartilhadas. O sociólogo Manuel Castells, em seu livro “A sociedade em rede”, diz que, com a internet vivemos em um tempo intemporal e um espaço de fluxos, ou seja, barreiras espaciais e temporais foram diluídas com a conexão em tempo real e a cultura do compartilhamento. Isso faz da Covid-19 uma protagonista de uma sociedade que caminha para hiperconexão onde a desterritorialidade marca uma comunicação sempre com pressa.
Com a liberação do polo emissor, a informação horizontalizada onde todos são protagonistas através das suas redes sociais, aliada com uma cobertura da imprensa que estabelece uma cultura do medo, se reconhece um ineditismo nessa pandemia que o mundo enfrenta. A informação full time não permite uma reflexão das dinâmicas necessárias para se combater o vírus, por exemplo.
Como escreveu Byung-Chul Han, “uma sociedade sem respeito, sem o pathos da distância, leva à sociedade do escândalo”. Já estamos caminhando para isso.
Referências:
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2000
HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Rio de Janeiro: Vozes, 2018.
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