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“Pelo cinema. Pela cultura. Por uma arte sem censura!”: 47º Festival de Cinema de Gramado

“Pelo cinema. Pela cultura. Por uma arte sem censura!”: 47º Festival de Cinema de Gramado

Tal qual era esperado, a cerimônia de encerramento e premiação do tradicional Festival de Cinema de Gramado, que ocorre no Estado brasileiro do Rio Grande do Sul desde janeiro de 1973, foi marcada por vigorosos pronunciamentos políticos contra as medidas repressivas intentadas pelo (des)governo do presidente Jair Messias Bolsonaro contra a diversidade temática do cinema brasileiro. Não obstante a região Sul ter sido a mais avultante apoiadora eleitoral da pérfida regressão política enfrentada atualmente pelo Brasil, os cineastas e artistas em geral que compareceram ao evento declararam-se açabarcadoramente contrários às diretrizes censórias que quase extinguiram a Ancine – Agência Nacional de Cinema. E, felizmente, isso também repercutiu nos filmes laureados.

O grande vencedor desta quadragésima sétima edição do Festival, que ocorreu entre os dias 16 e 24 de agosto de 2019, foi o longa-metragem cearense “Pacarrete” (2019, de Allan Deberton), que recebeu oito Kikitos: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz (para Marcélia Cartaxo), Melhor Atriz Coadjuvante (para Soia Lira), Melhor Ator Coadjuvante (para João Miguel), Melhor Roteiro, Melhor Desenho de Som e o prêmio de Melhor Filmes segundo o Júri Popular. Como o filme ainda não tem sequer data de estréia comercial, não se pode julgá-lo devidamente, mas quem teve a oportunidade de conferi-lo asseverou como merecida esta pletora de láureas.

A trama de “Pacarrete”, baseada numa personagem real, desenrolada na cidade interiorana de Russas, no Ceará, Estado-natal do diretor estreante Allan Deberton, conta a história de uma professora de dança aposentada que vive com duas irmãs, e passa os dias limpando reiteradamente a sua calçada e ralhando com quem passa por ela. Obcecada por balé, ela insiste em apresentar-se de maneira opulenta numa festa local de forró, mas é incompreendida pelos organizadores do evento, que temem que ela seja humilhada. A despeito disso, ela não desiste de seu sonho, mesmo que seja considerada desvairada pelos seus vizinhos.

Na conjuntura política atual, uma trama simples porém prenhe de enfrentamento como esta surge como bálsamo motivacional, como grande impulsionador da resistência popular contra a estandardização controladora imposta pelos Aparelhos Ideológicos de Estado, que vêem na liberdade de expressão uma grande ameaça estrutural. Conceder ao filme “Pacarrete”, quando o mesmo estiver em exibição comercial, uma justa recepção de bilheteria seria o mínimo esperado por quem compromete-se com a valorização sobrevivencial dos regionalismos, tão achincalhados pelo atual presidente brasileiro. Num episódio recente, ele referiu-se aos nordestinos de maneira difamatória, enfatizando a “cabeça grande” de seus moradores e generalizando-os como “paraíbas”, extensão zombeteira conferida aos migrantes de um Estado em particular. Não por acaso, ao receber o seu prêmio de Melhor Atriz, Marcélia Cartaxo, que é paraibana, assumiu orgulhosamente o gentílico em pauta. “Viva a Paraíba!”, sem dúvidas!

Aquele que anunciava-se como o grande favorito popular, “Hebe – A Estrela do Brasil” (2019, de Maurício Farias), recebeu apenas o prêmio de Melhor Montagem, mas tudo indica que gozará de um merecido sucesso de público quando for lançado nos cinemas, em 26 de setembro de 2019. Na trama, a reconstituição de alguns eventos marcantes da vida da apresentadora Hebe Camargo (1929-2012), bastante querida no Brasil por causa de seu carisma e de bordões marcantes, como o famoso “gracinha”. Vale a pena esperar e conferir este filme também!

Outros longas-metragens brasileiros premiados no Festival de Gramado deste ano foram: o ‘thriller’ psicológico “O Homem Cordial” (2019, de Iberê Carvalho), que recebeu os prêmios de Melhor Trilha Musical e Melhor Ator (para o músico Paulo Miklos); a comédia dramática “Veneza” (2019, de Miguel Falabella), que recebeu os prêmios de Melhor Direção de Arte e Melhor Atriz Coadjuvante (para Carol Castro); o deveras elogiado “30 Anos Blues” (2019, de Andradina Azevedo & Dida Andrade), que recebeu o Prêmio Especial do Júri; e o drama juvenil “Raia 4” (2019, de Emiliano Cunha), que recebeu os prêmios de Melhor Fotografia e Melhor Longa-Metragem Gaúcho.

Em quase todos os discursos de recebimento dos troféus, haviam jargões anti-bolsonaristas e brados de enfrentamento à censura que fundamenta as aberrações direitistas deste Governo. Um dos mais intensos foi o da curta-metragista Carol Sakura – que recebeu o prêmio de Melhor Curta-Metragem por “Apnéia” (2019, co-dirigido por Walkir Fernandes) – que subiu ao palco com o seu bebê dormente nos braços e relatou um episódio de agressão advindo de apoiadores bolsonaristas, o que também foi mencionado por Allan Deberton, entre outros. Logo em seguida, houve um válido grito de guerra com as palavras que intitulam esse texto, assaz repetidas ao longo de todo o evento. Até mesmo os laureados estrangeiros externaram repúdio contra o péssimo presidente brasileiro. “Aceitamos ajuda internacional!”, gritou Marcélia Cartaxo num de seus discursos. Façamos jus às suas palavras de lutadora!

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