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O impacto dos fogos florestais na vida do bombeiro

O impacto dos fogos florestais na vida do bombeiro

O termo “bombeiro” surgiu pela primeira vez em Lisboa no ano de 1734 e deriva da palavra “bomba”. Bombeiro, pela tradução dos termos ingleses “firemen” e “firefighter” significa, o homem do fogo ou homem que combate o fogo.

Ser bombeiro é abraçar de peito aberto uma atividade que tem como objetivo máximo a proteção de vidas humanas e seus bens em perigo, mediante a prevenção e extinção de incêndios, diversos tipos de operações de salvamento, o transporte e socorro de feridos e doentes, entre muitos outros serviços prestados à comunidade. O combate ao fogo é sempre uma luta contra o tempo.

A atividade de combate a fogos urbanos e/ou florestais encontra-se entre as profissões mais perigosas, porém menos estudadas do ponto de vista da monitorização da sua exposição ocupacional e avaliação dos potenciais riscos para a saúde dos operacionais. A atividade ocupacional do bombeiro está classificada como possível cancerígeno para o Homem pela Agência Internacional de Investigação em Cancro (IARC) e pelo Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional (NIOSH) dos Estados Unidos da América. É sabido que o combate a fogos florestais expõe bombeiros e demais forças de intervenção a uma mistura complexa de riscos. Destacam-se os inquestionáveis riscos físicos associados à urgência do combate ao fogo, na maioria das vezes, em ambientes hostis com temperaturas elevadas e baixas taxas de humidade. Todos os operacionais, em particular aqueles que se encontram na linha da frente do combate ao fogo estão continuamente expostos a uma mistura de gases e poeiras que incluem substâncias tóxicas e potenciais cancerígenos como diferentes frações de matéria particulada respirável, monóxido de carbono, dióxido de carbono, óxidos de azoto, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos entre tantos outros compostos voláteis. A composição química destas emissões é muito variável e está dependente de muitos fatores, em particular do tipo de vegetação e das condições meteorológicas presentes no local (humidade, temperatura, intensidade e direção do vento, etc).

Durante as últimas décadas os países do Sul da Europa, nomeadamente Portugal, Espanha, Itália, Grécia e França têm sido continuadamente fustigados pelos fogos florestais. As alterações climáticas têm contribuído para a ocorrência de fogos florestais que são cada vez mais frequentes e severos, contribuindo assim para o aumento das mais diversas fatalidades. No ano de 2017 foram consumidos 0.8 milhões de hectares de floresta só em Portugal, Espanha e Itália. No caso particular de Portugal, arderam cerca de 840 mil hectares entre 2013 e 2017. O ano de 2017 foi particularmente catastrófico tendo sido classificado como o pior ano de todos no que toca a fogos; arderam mais de 440 mil hectares de floresta, perderam-se mais de 100 vidas humanas além das incalculáveis perdas materiais e patrimoniais. O ano de 2018 foi, em termos globais, menos trágico tendo-se registado um total de 38 mil hectares de área ardida.

Muito se tem feito no que respeita à prevenção dos fogos florestais, quer pela implementação de medidas preventivas impostas à população, quer pelo incentivo e financiamento ao desenvolvimento científico e tecnológico. A população está mais atenta e vigilante. Mas há uma questão que se levanta. Qual o impacto dos fogos florestais na saúde dos operacionais envolvidos no combate aos fogos e para as populações expostas? Tem sido reportado que os sintomas imediatos mais comuns devido à exposição ambiental e ocupacional a fogos florestais incluem dores de cabeça, náuseas e fatiga, irritação dos olhos e das vias respiratórias, alterações visuais, falta de ar, agravamento de doenças respiratórias e nos casos de exposição mais severa confusão, alucinações e coma. No caso particular dos operacionais diretamente envolvidos no combate a fogos, estes constrangimentos revelam-se como consequência cumulativa do trabalho físico extenuante, o stress térmico, a desidratação, a privação de sono e a inalação de poluentes libertados durante o incêndio. O combate aos fogos florestais por períodos prolongados, por vezes dias ou mesmo semanas consecutivas, expõe os operacionais a riscos biológicos que em alguns casos pode causar constrangimentos das funções fisiológica e cognitiva. Por vezes o somatório dos vários riscos a que os bombeiros e a população estão expostos atingem uma severidade extrema que acabam por colocar em risco as suas vidas; infelizmente algumas vidas são mesmo perdidas. A exposição prolongada dos bombeiros durante o combate a fogos florestais tem sido associada a um excesso da morbidade e mortalidade, sendo as doenças cardiovasculares uma das principais causas mais apontadas. Alguns investigadores têm associado a exposição a algumas das substâncias formadas ou libertadas durante os fogos florestais ao desenvolvimento e/ou agravamento de doenças cardio-respiratórias. Alguns estudos associam uma exposição severa a fogos a uma maior probabilidade de desenvolver alguns tipos de cancro (pele, urotelial, pulmão e rim). Deste modo é necessário uma maior e melhor caracterização da exposição ocupacional e ambiental a que os operacionais de combate a fogos e as populações estão expostas por forma a melhor avaliar e posteriormente prevenir os potenciais riscos para a saúde.

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