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A produção acadêmica das mulheres em tempos de pandemia

A produção acadêmica das mulheres em tempos de pandemia

Em 11 de março de 2020, o diretor geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Sr. Tedros Adhanom, declarou que a doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), também conhecida por Covid-19, elevou-se ao grau de pandemia.

A parti desse momento, diversos países adotaram medidas para tentar conter a propagação do vírus. Uma dessas medidas foi o isolamento social. Com isso, a população economicamente ativa saiu dos seus escritórios, gabinetes, departamentos, e levaram seus ofícios para dentro de casa. O chamado teletrabalho ou home office. Não só eles tiveram seus trabalhos deslocados para a casa. As escolas também foram. Passou a haver tela-aula. Assim, os pais passaram a ter que dar conta das tarefas domésticas, dos seus trabalhos, dos cuidados com os filhos e ainda como auxiliares na educação escolar. Tudo ao mesmo tempo, agora!

Segundo a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), indica que o Brasil tem o maior número de artigos científicos assinados por mulheres, tendo por base os artigos publicados na Web os Science, onde constam mais de vinte mil periódicos internacionais. Segundo o site Agência Brasil, “entre 2014 e 2017, o Brasil publicou cerca de 53,3 mil artigos, dos quais 72% são assinados por pesquisadoras mulheres”, seja como autoras ou como co-autoras. Depois do Brasil estão Argentina (67%), Guatemala (66%) e Portugal (64%). Esses dados se alteram quando se observa as mulheres pesquisadoras individualmente, isto é, como autoras, no mesmo período mencionado. No Brasil, em relação aos homens, este percentual cai para 49%, sendo o Paraguai aquele que ocupa o topo do ranking, com 60% das mulheres autoras.

Quando se fala em trabalho em equipe, via de regra, o nome do homem pesquisador vem em primeiro lugar, “seja por uma relação de hierarquia entre coordenadores de pesquisas e assistentes de pesquisa, seja por uma relação patriarcal mesmo, conforme Larissa Araújo, doutoranda em Antropologia e Sociologia[1]. Muitas das autoras são referenciadas como autores, em especial por ser o sobrenome que surge no meio do texto. Quando se lê uma referência a Reis, por exemplo, no imaginário coletivo surge a imagem de um homem, quando, na verdade, sou eu, no caso a autora deste pequeno texto de opinião.

Se as mulheres pesquisadoras já se encontravam nesta situação em termos de produção acadêmica antes da pandemia que assola o mundo, em situação mais delicada estão agora. São muitas das tarefas já realizadas anteriormente, mas agora de forma caótica. Quem tem filho, tinha o horário de trabalho em conjunto (via de regra) com o horário escolar, o que aumentava um pouco mais a chance de produzir academicamente. Agora, a tarefa de “auxiliar” de professora dos filhos se somou. Os horários se misturaram. Se for filho pequeno, então, o caos está instalado.

Ouvi homens dizendo: “pelo menos nesta época do isolamento, do teletrabalho, consegui elaborar mais artigos científicos”. O mesmo não ouvi das mulheres, sobretudo as que tem filhos. A carga de trabalho, que já era grande, ampliou-se. A dupla jornada parece que se unificou e de uma forma que custa muito em termos profissionais e emocionais.

A mulher tem que dar conta de ser mulher, de ser profissional, de ser educadora (escolar), de ser mãe, de fazer as tarefas domésticas (mesmo que tenha a “ajuda” do homem – coloco entre aspas porque entendo que homem nenhum tem que “ajudar” em casa, mas sim é um dever atuar em conjunto com a mulher. Assim como na criação do filho, porque quando os filhos “se portam mal”, lá vem o homem a dizer que “estão assim porque esta é a educação que sua mãe te dá… se fosse comigo, seria diferente! Enfim…).

Claro que muitas estão se sentindo soterradas, anuladas e ainda cobrada por seus pares (ou por si própria) para produzirem academicamente. Neste cenário, natural que o número de produção acadêmica das mulheres tenha caído, o que vem estampar ainda mais a desigualdade de gênero.

Muito há ainda a se trilhar no caminho da equidade em relação às mulheres em vários sentidos.

 

Fontes:

Pandemia reduz submissões de artigos acadêmicos assinados por mulheres

 

https://www.oei.org.br/files/87_07032019_Las%20brechas%20g%c3%a9nero%20en%20la%20producci%c3%b3n%20cient%c3%adfica%20Iberoamericana%20(002).pdf

 

https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-03/mulheres-assinam-72-dos-artigos-cientificos-publicados-pelo-brasil

 

https://www.hypeness.com.br/2020/04/mulheres-dominam-mais-de-70-da-producao-cientifica-nacional-mas-ainda-enfrentam-desafios-de-genero/

 

https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2020/05/26/pandemia-pode-acentuar-disparidade-entre-homens-e-mulheres-na-ciencia.htm

https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2020/05/26/pandemia-pode-acentuar-disparidade-entre-homens-e-mulheres-na-ciencia.htm

 

 

 

Imagem gratuita (silviarita) em Pixabay

[1] https://www.hypeness.com.br/2020/04/mulheres-dominam-mais-de-70-da-producao-cientifica-nacional-mas-ainda-enfrentam-desafios-de-genero/

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